Abril ie 2011. Seis anos antes de o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, ter sugerido que os países do Sul não podem continuar a gastar tudo em “copos” e “mulheres” e depois esperar que os países do Norte paguem a conta, já havia quem, na Europa, gostasse pouco da alegada queda dos portugueses para o dolce far niente.
Contexto. O país lutava em Bruxelas por um acordo de resgate que lhe permitisse sair da bancarrota iminente, mas uma parte considerável da classe política finlandesa, a braços com eleições legislativas, estava contra a ajuda europeia a Portugal. Fizeram-se vídeos e editoriais, lembrando aos finlandeses o que significava ser português e o que os portugueses já tinham feito pela Finlândia durante períodos difíceis, como a guerra russo-finlandesa do Inverno de 1940-1941.
Foi também nessa altura que Pedro Passos Coelho contou o episódio do turista finlandês que repreendeu o então líder do maior partido da oposição e Alberto João Jardim, no final de um jantar num restaurante da Madeira.
“Não sei se foi por lhe terem dito [ao turista finlandês] que nós tínhamos algumas responsabilidades políticas, eventualmente”, começa por contar Pedro Passos Coelho, ladeado por António Leitão Amaro, que viria a ser secretário de Estado da Administração Local.
A verdade é que o senhor levantou-se no fim, antes de se ir embora, passou na nossa mesa e, com um ar superior e de quem não tinha feito uma má refeição“, continuou Passos carregando na expressão, “virou-se para nós, assim com o dedo, e disse: ‘Eu espero bem que a refeição que os senhores estão fazer eu não tenha de pagar quando chegar à Finlândia'”.
O episódio do “turista finlandês”, momento lembrando este sábado durante o programa Eixo do Mal, na SIC Notícias, abriu os noticiários dos telejornais portugueses, contribuindo para o crescente mal-estar português.
A verdade é que a 11 de maio de 2011, já depois das eleições, o novo Governo finlandês acabaria por aceitar participar no resgate a Portugal, impondo algumas condições ao plano, como a venda de ativos do Estado e a privatização de empresas públicas como pré-condição. O que terá pensado o turista nórdico sobre esta decisão é que nunca se saberá.