Jorge Simão é um daqueles treinadores da nova vaga que interpretam o Novo Testamento da subida a pulso na carreira. Aos 40 anos, depois de algumas épocas como adjunto, quis voar sozinho e andou a pulular de clube em clube sempre em crescendo: Atlético, Mafra, Belenenses, P. Ferreira, Desp. Chaves e Sp. Braga. Quando chegou à Pedreira, fartou-se de partir pedra, encostou alguns jogadores, construiu uma espinha dorsal nova e não teve pejo em dizer que queria fazer dos arsenalistas campeões a médio prazo. Os resultados nunca acompanharam a profecia, mas a verdade é que empatar o FC Porto é um mandamento comum em todas as passagens e esta não é exceção.

A história quase profética começou em maio de 2015, quando recebeu os Dragões no Restelo pelo Belenenses. Podia ser o fim-de-semana do título, caso o Benfica ganhasse em Guimarães. Não ganhou. Mas um golo tardio de Tiago Caeiro, a cinco minutos do final, fez estalar a festa do bicampeonato para os encarnados logo nessa penúltima ronda para alegria de Jorge Jesus, que acabava a etapa de seis anos na Luz com mais uma Primeira Liga ganha.

Em 2015/16, temporada em que o FC Porto cedo deixou de contar para as contas do título, novo triunfo de uma equipa de Jorge Simão frente aos azuis e brancos, desta feita por 1-0 em Paços de Ferreira. Estava “vingada” a única derrota que teve contra este adversário, no Dragão, também pela margem mínima (2-1).

Na presente temporada, mais dissabores. Assim, em versão dupla: primeiro afastou, quando ainda estava no Desp. Chaves, o FC Porto da Taça de Portugal, vencendo nas grandes penalidades após o nulo durante 120 minutos; agora, e numa altura em que o Sp. Braga atravessa o melhor período da época (sete encontros consecutivos sem derrotas), voltou a empatar os dragões e a aproximar o Benfica do inédito tetracampeonato na sua história.

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Mas calma, com ou sem milagres ainda existe um adversário de peso para os encarnados: Jesus, Jorge Jesus. O treinador da velha guarda, que se rege pelo Antigo Testamento do ex-jogador-que-passa-a-treinador apesar de andar sempre em cima das novidades de ponta no mundo do futebol, seja a nível mental, seja a nível científico. O técnico de 62 anos que passou por Amora, Felgueiras, U. Madeira, E. Amadora, V. Setúbal, V. Guimarães, Moreirense, U. Leiria, Belenenses e Sp. Braga antes de dominar os dois grandes de Lisboa tem como principal objetivo atual de carreira “fazer Portugal parar”, como descreve em relação ao dia em que o Sporting se torne campeão.

Jesus, pelo Sporting, já ganhou em casa, fora e em terreno neutro contra o Benfica. Jesus, pelo Sporting, já perdeu em casa e fora contra o Benfica. E ainda nem leva dois anos em Alvalade. Mais do que ninguém, ele sabe o que significa a rivalidade. E sabe o que pode significar a conquista de mais um campeonato por parte do seu rival. No próximo sábado, os que lhe chamam Judas assim vão continuar a chamar, mas os que depositam total fé nos seus escritos futebolísticos aumentaram de forma exponencial depois de mais um tropeção com o discípulo Simão.

Primeira Liga. Será o Sporting a decidir ainda este campeonato?