O diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, defendeu hoje, em Cabo Verde, uma aliança entre os ex-presidentes Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso para reformar o sistema político brasileiro.

O diplomata jubilado e antigo ministro das Relações Exteriores dos governos de Itamar Franco, na década e noventa, e de Lula da Silva, até 2011, considerou ainda inútil avançar para eleições antecipadas no Brasil sem reformar o sistema político.

“Sou a favor de eleições e as eleições sempre servem para legitimar. Mas acho que se tivermos eleições sem nenhum tipo de reforma do sistema político, corremos o risco de ter a reprodução da mesma situação”, disse Celso Amorim.

Mais de 85% dos brasileiros apoiam a realização de eleições presidenciais antes de outubro de 2018, com o Governo de Michel Temer a registar níveis de impopularidade na ordem dos 64%.

O ex-ministro falava aos jornalistas, na cidade da Praia, à margem do IV Diálogo Estratégico, iniciativa anual promovida pelo Instituto Pedro Pires e este ano dedicada à Democracia e Imprensa Livre, onde foi o orador principal.

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“Pode-se sempre eleger um presidente mais progressista, mas o parlamento brasileiro vai continuar a ser do mesmo tipo, altamente contaminado e dominado pelo poder económico, porque as eleições no Brasil são absurdamente caras”, referiu.

Por isso, sustentou, “pregava uma certa aliança entre os dois maiores líderes brasileiros: Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores – PT) e Fernando Henrique Cardoso (Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB), uma aliança para fazer a reforma política, para mudar o sistema político e torná-lo mais representativo”, acrescentou.

Para Celso Amorim, o Brasil tem o pior sistema político, uma realidade que, segundo disse, tem que mudar.

“Pessoas como eles tinham que liderar essa mudança”, considerou.

Sobre a situação política atual no Brasil, depois da destituição da presidente Dilma Rousseff e da subida do seu vice-presidente, Michel Temer, Celso Amorim considerou que foi como “mudar de Obama para Trump, mas sem eleição”.

“Ocorreu uma mudança radical de modelo. Havia um governo social-democrata, que foi eleito – aliás o vice-presidente foi eleito nessa lista – e de repente há uma mudança para um sistema neoliberal, radical, que está a diminuir a previdência social, a flexibilizar o mercado de trabalho, a congelar despesas públicas por mais de 20 anos através de uma emenda constitucional. Não se pode fazer esse tipo de mudanças num Governo que é interino, que não foi eleito”, sustentou.

Sobre a possibilidade de o ex-presidente Lula da Silva protagonizar uma nova candidatura presidencial em 2018, Celso Amorim disse acreditar que tudo será feito para lhe “criar um embaraço judicial” que o impeça de se candidatar.

“Todas as sondagens dão o Lula a ganhar com grande vantagem e como o melhor presidente que o Brasil já teve. Tinha uma visão estratégica da inserção do Brasil no mundo. Dificilmente haverá uma outra liderança do tipo do Lula no Brasil. Se não puder ser ele o candidato, haverá outros”, considerou.

Sobre o tema da conferência, Celso Amorim apontou a liberdade de pressões económicas como um dos principais desafios da imprensa e sublinhou que sem imprensa livre não existe boa governação.

Também interveniente na conferência, o presidente da Entidade Reguladora da Comunicação de Portugal, Carlos Magno, defendeu a intervenção das Nações Unidas na regulação da comunicação no espaço digital, considerando que os jornalistas têm que ser “os capacetes azuis” no caos que é a disseminação de informação na internet.