A economia portuguesa acelerou no início do ano, crescendo 1% face ao último trimestre e 2,8% em comparação com o mesmo trimestre de 2016. É o melhor resultado dos últimos nove anos e meio, anunciou esta segunda-feira o INE.

O crescimento voltou a acelerar na parte final do ano. Depois de um crescimento expressivo inesperado no terceiro trimestre do ano passado, que permitiu ao Governo fechar o ano com uma taxa de crescimento económica menos má do que esperava (a primeira previsão era de 1,8%, e foi revista para 1,2%), a economia voltou a acelerar e conseguiu um resultado ainda melhor. Em cadeia, ou seja, face ao trimestre imediatamente anterior, a economia portuguesa cresceu 1%. Este é o maior crescimento desde, pelo menos, o primeiro trimestre de 2015.

A comparação homóloga – com o mesmo trimestre do ano anterior – mostra uma evolução muito favorável. De acordo com o INE, a economia terá crescido 2,8% no primeiro trimestre deste ano face aos primeiros três meses de 2016. Este é o melhor resultado desde o último trimestre de 2007, ou seja, dos últimos nove anos e meio, altura em que a economia cresceu exatamente 2,8%. Melhor que em 2007, só mesmo no final do ano 2000, quando a economia cresceu 3,8%.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo os dados publicados hoje, o crescimento deve-se sobretudo a uma aceleração da procura externa líquida dirigida à economia portuguesa, que era negativa, mas agora começou a dar um contributo positivo para o crescimento da economia portuguesa, graças a uma maior aceleração das exportações do que das importações.

Esta aceleração acontece mesmo num contexto em que o consumo privado está a descer e a reduzir o contributo da procura interna para o crescimento económico. O investimento está a acelerar, mas não chegou para compensar a queda no consumo privado.

A aceleração do investimento só existe se a comparação for feita com o primeiro trimestre de 2o16, porque, quando se comparada com o final do ano passado, o investimento apesar de a crescer, crescia menos, devido a um contributo negativo da variação de existências.

Os dados conhecidos esta segunda-feira são apenas a primeira estimativa para o PIB do primeiro trimestre. No final deste mês, o INE irá publicar o destaque com as contas nacionais trimestrais, que podem conter revisões (embora não seja habitual estas revisões serem de grande magnitude) e com mais detalhe sobre as componentes do crescimento que explicam melhor o que levou à evolução dada a conhecer esta segunda-feira.

Este é o trimestre em que a economia cresce mais desde que Portugal começou a apertar o cinto, no segundo trimestre de 2010, quando o Orçamento para 2010 entrou em vigor e pouco depois de ser conhecido o Programa de Estabilidade e Crescimento desse ano, o primeiro em tempo de crise com sucessivas medidas restritivas levadas a cabo pelo Governo de José Sócrates.

O orçamento de 2010, o primeiro com congelamento salarial para a Função Pública e onde era ressuscitado o plano de privatizações – que incluía a venda das participações na EDP, REN, TAP, ANA, CTT, GALP e BPN, entre outros – foi apresentado no início do ano, mas só entraria em vigor no segundo trimestre.

O PEC viria a apertar consideravelmente o cinto no Estado, com tetos nas prestações sociais, nas deduções à coleta em IRS, o adiamento da construção do TGV e a criação de um escalão novo no IRS de 45% para quem tivesse um rendimento coletável acima de 150 mil euros por ano, tinha sido apresentado em meados de março, pouco antes de começar o segundo trimestre.

A economia ainda cresceu 2,5%, em termos homólogos, mas a o abrandamento que se seguiu durou seis trimestres consecutivos, sendo que depois de mais dois trimestres a crescer mais devagar, a economia portuguesa entrou numa recessão que durou onze trimestres (quase três anos), chegando a cair 4,5% do PIB, no final de 2012.

Crescimento superou as expetativas, diz o Governo

Em comunicado, o Governo admite que o crescimento verificado no primeiro trimestre do ano superou as estimativas que serviram de base ao Orçamento do Estado para 2017 e ao Programa de Estabilidade, em que o Governo previu um crescimento de 1,8% para o total do ano, o que, na opinião do gabinete de Mário Centeno, reafirma “a solidez dos cenários macroeconómicos subjacentes a estes documentos”.

De acordo com o Ministério das Finanças, os dados avançados pelo INE permitem ainda atestar “a natureza sustentável e equilibrada do atual padrão de crescimento da economia portuguesa”, lembrando que o INE justificou a aceleração com um crescimento superior das exportações do que das importações.

“Pela sua parte, o Governo irá continuar a trabalhar para estimular o crescimento económico inclusivo, com criação de emprego, coesão social e consolidação sustentável das contas públicas que permita a convergência com a Europa”, diz o Governo.

(Artigo atualizado às 12h53 com o comentário do Ministério das Finanças aos números)