Esta Liga junta os super-heróis da DC num filme que não lhes faz nenhuma justiça, diz a crítica. Mas e o que diriam os protagonistas deste delírio? Os analistas de serviço são o Batman — conhecido também como Bruce Wayne, filantropo milionário que tem dinheiro como super-poder — e o Super-Homem — o kryptoniano que nas horas vagas é Clark Kent, jornalista de investigação no maior jornal dos mundos fictícios, o Daily Planet. As críticas que se seguem são da inteira responsabilidade dos super-heróis.

Batman

“Ben Affleck, fica-te pelo Daredevil, por favor”

Não sei porque é que me meti nisto, a sério que não. Porque raio decidi ir a um cinema convencional?! Tudo bem, era para ver o “Liga da Justiça” em IMAX e a três dimensões, mas mesmo assim… Mais valia ter comprado o Colombo e fechado aquilo tudo só para mim. Demorei quase 45 minutos para encontrar lugar no parque (nem vos conto o filme que foi tentar fazer passar o batmobile pelas cancelas da entrada), toda a gente a pedir para tirar fotografias e, o mais chato, não havia maneira de aguentar os óculos 3D na cara. Nunca mais volto a cair na conversa do Alfred: “Tem de sair de casa, menino Wayne! Tem de interagir mais com as pessoas!” Bahh.

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A verdade é que lá fui, com muita curiosidade para ver as baboseiras que me iam pôr a dizer e fazer no ecrã. Depois daquele flop no ano passado (o “Batman Vs. Superman”), tinha curiosidade em perceber se desta vez o filme se salvava ou não. Já tinha percebido que o rapazola que me interpretou no anterior, aquele que anda sempre com o Matt Damon, se mantinha neste. Soube também que o Super-Homem ia ser feito pelo mesmo tipo. Mau presságio.

Entrei na sala, dirigi-me ao lugar e reparei que ao meu lado se sentava o rapaz das cuecas por cima das calças, o extraterrestre perfeitinho que toda a gente adora (não, não és tu, E.T.) e que nunca faz nada de errado. O senhor Clark Kent, aquele que tira os óculos quando quer ver melhor. Foi como encontrar um colega da pré-primária com quem não chegámos a conversar na escola (e não era por causa de falta de vocabulário, mas de interesse). Tentei ser simpático, até disse “bom-dia”, mas pouco mais. Depois de todo aquele drama de lhe ter dado cabo da vida e ele depois ter ressuscitado, como é que se consegue ter lata para meter conversa de circunstância? Ao menos não veio com a Lois Lane… ela é daquelas pessoas que não se cala durante os filmes. Quezílias à parte, vamos ao que nos trouxe aqui.

“Liga da Justiça”: a geringonça dos super-heróis

Os rapazes de Hollywood seguiram a fórmula do costume: contar a história de quando eu e o pessoal da Liga salvámos o mundo (pela enésima vez) de um ataque de aliens encabeçados pelo Steppenwolf — não a banda rock canadiana que o Alfred adora, mas o Novo Deus, que se diverte a conquistar mundos e a destruir tudo. Pessoalmente, é uma das aventuras que mais gosto, porque foi nessa altura que, pela primeira vez, “rolou um clima” entre mim e a Diana (que devem conhecer como Mulher Maravilha). A história está razoavelmente fidedigna, porém há várias coisas que não me convenceram.

Primeiro, comecemos pelo Barry, o nosso “Flash”. Que mal é que o rapaz fez aos realizadores e argumentistas para o fazerem tão pateta? O rapaz é novo, dinâmico e ainda pouco experiente, mas, por favor, não o transformem num mentecapto que nem sabe distinguir os pontos cardeais. Em contrapartida, acho que o Aquaman foi bastante beneficiado: tornaram-no bem mais fixe (e musculoso, ele não é assim tão inchado, desculpem) do que na realidade é. Atrevia-me a dizer que ele só pode ter subornado alguém, mas também, se isso fosse possível, não seria o Ben Affleck a fazer de mim, se é que percebem o que quero dizer. Agora que penso nisso, a ver se não me esqueço de pôr o Alfred a ligar ao agente desse tipo. Quanto é que ele cobrará para só fazer de Daredevil?

Disseram-me que não me podia esticar muito a contar coisas sobre o filme, por isso termino este texto com uma dica: se me quiserem voltar a pôr um grande ecrã, epá, chamem um dos dois tipos ingleses que já o fizeram há uns tempos. Acho que o Burton e o Nolan tiveram mais jeito — cada um dentro do seu género, claro — para a coisa do que este Zach Snyder. Ah, e voltem a chamar o Christian Bale, por favor! Se ele pedir demasiado dinheiro, mandem um mail ao Alfred que eu trato logo disso.

Super-Homem

“A sério que tinhas de levar esse fato em látex preto?”

Ainda estou para perceber como é que um jornalista como eu, Clark Kent, que até ganhou um Pulitzer, acabou a fazer esta crítica… Como qualquer super-herói que se preze, saí do trabalho meio minuto antes da hora e ainda cheguei a tempo ao centro comercial Colombo. Para não ser assediado bastou-me pôr uns óculos que vocês terráqueos deixaram logo de perceber quem eu era. A sério, nem me tenho de esforçar. O Batman anda vestido de látex da cabeça ao pés e toda a gente sabe que é o Bruce Wayne, a mim basta-me pôr uns óculos. A sério, Tony Stark manhoso vestido de morcego, achavas que iam construir um silo nuclear ao pé da tua mansão e ninguém ia perceber quem eras?

Cheguei à sala e percebi que o filme era em três dimensões e IMAX. Tendo em conta que já lutei cotra vilões de várias dimensões, achei estranho ter de pôr uns óculos especiais para isso, ainda por uns desconfortáveis. Bastava ter de estar ali à espera de ver como iam manchar o meu nome outra vez através do coitado do Henry Cavill para já estar suficientemente incomodado. O meu nome tem sido tão vexado que o último filme em que andei à bofetada com o rapaz “tenho-um-mordomo-que-me-faz-tudo” teve uma estrela aqui por estas bandas. Pois, Eurico de Barros, posso ter só uma estrela, mas basta-me uma como o Sol para ter super-poderes. Em suma, já nem sei porque é que autorizo que continuem a fazer produções destas comigo.

O filme lá começou e eu pelos vistos estava morto, apesar de sabermos que ia voltar a estar vivo (mais uma segunda-feira…). Claro que o mundo está em pânico. Sem mim como é que esta gente vai andar a partir cidades, despreocupado face a coisas irrisórias como elevados danos patrimoniais? Preocupado com isso o homem morcego anda no filme a tentar juntar os nossos amigos quando criámos o nosso grupo “Liga da Justiça” no Whatsapp.

Aquilo corre bem para o mamífero voador com problemas de autoestima e encontra o Barry Allen, aquele tipo estranho que é o Flash. Junta-se à equipa também o filho daquela robô da Web Summit, a Sophia, e do tipo esquisito que andava sempre ao pé dela. Como é um misto dos dois, chamam-lhe Cyborg. Depois apareceu também aquele rapaz Dothraki da “Guerra dos Tronos”, mas aqui fala com peixes em vez de fazer mal a mulheres. Por fim, aparece a minha querida amiga Diana, princesa das Amazonas. É muito engraçada a presença dela no filme, porque mostra o melhor super-poder que as mulheres têm: fazer friendzone a homens, que é como quem diz “deixar um tipo na esperança só para conseguir jantares à pala”. Há uma cena em que consegue convencer o Batman e o Cyborg, enquanto fala de outro rapaz de quem gosta e já morreu. É hilariante, porque o Bruce caiu que nem um patinho… desculpem, morceguinho.

Como pelos vistos escrever na internet também tem limite de caracteres (segundo o Perry White, o meu chefe, a razão é “porque sim”, e isto do jornalismo anda complicado por isso não arrisco questionar), não posso alongar isto. Resumindo, não gostei muito do modelo escolhido para contarem a história desta nossa aventura. Se calhar tem a ver com a minha costela (e resto do corpo) que vem de outro planeta, mas a Liga da Justiça fez-me ter vergonha de ser humano. Acham que os rapazes da Marvel me adicionam ao grupo deles? Nem preciso de ser o Super-Homem, posso ser só: Carlos, o kryptoniano. Ai, como fazem falta os filmes com o Christopher Reeve… Depois de ver isto as saudades são piores que kryptonite oferecida pelo Lex Luthor.