“Estão todos mortos.” A frase ouviu-se esta quinta-feira à porta da base naval de Mar de Plata, na Argentina, onde estão reunidos os familiares dos 44 tripulantes do submarino ARA San Juan, que está desaparecido há mais de uma semana. “Morreram todos, foi a primeira coisa que pensei”, revelou ao jornal argentino El Observador Jesica Gopar, mulher do eletricista do submarino, Fernando Santilli, quando soube da explosão que afetou o submarino. “Deram-me um copo de água e um comprimido para a pressão arterial”, revela, acerca desse momento.

Na base de Mar del Plata, as notícias das últimas horas foram recebidas com angústia. Poucos acreditam ainda que voltarão a ver os seus familiares e amigos com vida. Mais do que isso, sentem-se revoltados pela forma como as autoridades lidaram com a situação. “Mentiram-nos”, disse ao El Mundo Itatí Leguizamón, mulher do primeiro-cabo Germán Suárez. “Mandaram-nos numa merda para navegar”, acrescentou, acerca do submarino.

“Por que não nos falaram sobre o incêndio nas baterias? Como é que ficamos a saber destas coisas pelos meios de comunicação social? Acho que nos esconderam informação, achamos todos isso”, acusou ainda Leguizamón, uma crítica suportada por outros familiares. “Mataram o meu irmão, filhos da puta. Mataram o meu irmão porque os mandam para o mar numa coisa de arame“, disse um homem num Renault Clio cinzento, como conta o jornal Clarín.

“Estou à espera de um cadáver”, admitiu Helena Alfaro, irmã de um dos tripulantes, que também deixou críticas numa entrevista à televisão Todo Notícias: “Há demasiado protocolo e demasiada burocracia.”

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Tripulação teve receio antes de embarcar

Para além da mágoa e do desespero, os familiares dos 44 tripulantes contaram também aos meios de comunicação de língua espanhola como os próprios marinheiros tinham pouca confiança no material utilizado. “Ele tinha a sensação de que [embarcar] era uma roleta russa”, revelou Leguizamón.

Também o espanhol La Razón conversou com os pais de um dos tripulantes, de apelido Gutiérrez, que confessaram que o seu filho tinha receio de embarcar devido “às condições precárias” do submarino ARA San Juan. “O meu filho estava a fazer manobras uns dias antes e comentou connosco que numa das imersões começou a entrar água, mas conseguiram tapar o orifício”, revelou um dos pais. “Depois repararam as baterias, mas o meu filho tinha um mau pressentimento.

Também na quarta-feira o La Gaceta visitou a casa da mãe do capitão do submarino, Pedro Martín Fernández. Ao jornal, Emma Nelly Juárez revelou um detalhe arrepiante: “Ele tinha-me dito que esta ia ser a sua última viagem de submarino. Depois disso, passava a ficar em terra.”