O Presidente angolano, João Lourenço, anunciou esta sexta-feira que estão programados “encontros ao mais alto nível” com os governos de países com que Angola pretende “intensificar” a cooperação, tendo como “condição fundamental” o “respeito mútuo” e sem complexos.

A posição foi assumida na intervenção do chefe de Estado, no palácio presidencial, em Luanda, na tradicional sessão de cumprimentos de ano novo do corpo diplomático acreditado em Angola, pela primeira vez com João Lourenço como Presidente da República.

“No decurso deste ano estão programados encontros ao mais alto nível entre delegações do executivo angolano e de Governos de alguns países com os quais pretendemos intensificar relações de cooperação em áreas de interesse comum, na base do potencial que uns e outros dispõem para concretizar tais propósitos”, anunciou João Lourenço.

Perante dezenas de chefes de missões diplomáticas e consulares, o Presidente da República, eleito em agosto último, acrescentou que o executivo angolano “está aberto à cooperação com todos os países amigos e parceiros internacionais”.

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Desde que “isto se processe na base do respeito mútuo e do respeito pela soberania de cada um dos Estados, como condição fundamental para que se desenvolva uma amizade sã, descomplexada e capaz de gerar resultados profícuos para ambos os lados”, avisou.

Durante o discurso, o Presidente angolano nunca se referiu a qualquer país em concreto, mas esta posição surge menos de duas semanas depois de João Lourenço ter avisado, também no Palácio Presidencial, em Luanda, que as relações com Portugal vão “depender muito” da resolução do caso em torno do ex-vice-Presidente Manuel Vicente, classificando a atitude da Justiça portuguesa, de não transferir o processo para julgamento em Angola, como uma “ofensa” para o país.

“Não estamos a pedir que ele seja absolvido, que o processo seja arquivado, não somos juízes, não temos competência para dizer se o engenheiro Manuel Vicente cometeu ou não cometeu o crime de que é acusado. Isso que fique bem claro”, disse o Presidente da República, a 9 de janeiro, na sua primeira conferência de imprensa com mais de uma centena de jornalistas de órgãos nacionais e estrangeiros.

Em causa está o caso “Operação Fizz”, processo em que o ex-vice-Presidente de Angola e ex-presidente do conselho de administração da Sonangol Manuel Vicente é suspeito de ter corrompido, em Portugal, Orlando Figueira, quando este era procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), do Ministério Público, que investiga a criminalidade mais grave, organizada e sofisticada, designadamente de natureza económica.

O julgamento está previsto para arrancar na próxima segunda-feira, em Lisboa.

No discurso de hoje, João Lourenço dirigiu-se aos diplomatas reconhcendo que Angola “tem enfrentado algumas dificuldades”, que decorrem da baixa do preço de petróleo, “cujos efeitos condicionaram seriamente a realização dos principais objetivos traçados pelo Governo no plano económico e social”.

“Neste contexto, estou convencido de que para se encorajar os potenciais investidores dos vossos respetivos países a apostarem no mercado nacional, deverão transmitir uma informação objetiva sobre Angola, de modo a que se desfaçam opiniões preconceituosas que muitas vezes se formulam no estrangeiro a respeito do nosso país”, exortou o chefe de Estado, ao agradecer os cumprimentos de ano novo do corpo diplomático.

Desafiou mesmo os diplomatas a serem “portadores” junto dos governos e setores da sociedade civil dos respetivos países “de uma mensagem que ajudasse a compreender que existe um esforço sério de aperfeiçoamento permanente” na governação em Angola.

“Almejando o aprofundamento da democracia, o aperfeiçoamento dos mecanismos que conduzam a uma observância mais criteriosa dos Direitos Humanos e o melhoramento das garantias e liberdades fundamentais dos cidadãos”, concluiu João Lourenço.