Arco voltaico. Só a vertiginosa sucessão a que oficialmente nos são apresentadas causas para o incêndio de Pedrogão leva a que não nos tenhamos interessado pelo arco voltaico. No dia 2 de Julho, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, declarou na TVI: “Passam ali naquela zona linhas de média e alta tensão. Tenho para mim que as linhas de alta e média tensão, com temperaturas muito altas e com o vento, não se tocando, aproximando-se, podem criar efetivamente descargas elétricas, que é o chamado arco voltaico.”
Pessoalmente nada me anima contra o arco voltaico mas note-se que no dia 21 de Junho o mesmo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses apontara outra pista no Fórum TSF: “Eu tenho para mim de que o incêndio teve origem em mão criminosa”. E se recuarmos ao dia em que o incêndio de Pedrogão deflagrou o mesmo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, tivera para si que as mortes ou pelo menos algumas delas resultavam da “curiosidade” e “inconsciência” das vítimas. É muita tese para um homem só!
Dada a prolixa natureza do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, ninguém lhe consegue recordar essas declarações iniciais que aliás foram corroboradas pelo secretário de Estado Jorge Gomes para quem “uns tiveram o azar de serem apanhados pelo fogo, outros morreram por inalação de fumo quando observavam o fogo”?
Eu tenho para mim que há gente com um descaramento à prova de tudo.
Boas práticas. Perante o assalto ao paiol de Tancos o ministro da Defesa anunciou que ir pedir ao Exército para “verificar se estão a ser cumpridas as boas práticas [de segurança]”.
Não sei se já alguém respondeu ao senhor ministro mas temos de admitir que não é fácil conseguir uma resposta clara. Afinal só desapareceram quarenta e quatro lança-granadas, quatro engenhos explosivos “prontos a detonar”, 120 granadas ofensivas, 1500 munições de calibre 9mm, 20 granadas de gás lacrimogéneo e mais umas outras miudezas que incluem 53 quilos de plástico explosivo e foguetes anti-carro. Contudo o paiol ficou lá. E até temos paióis donde nada foi levado. Donde eu ser levada a concluir que as boas práticas continuam a praticar-se.
Constança Urbano de Sousa. Primeiro chorou, depois desenvolveu uns monólogos sobre si mesma e os seus sentimentos, por fim declarou que sentiu a falta dos governadores civis. A ministra do que devia ser a Administração Interna é um exemplar típico da oligarquia estatista: aconteça o que acontecer, os oligarcas nunca são responsáveis por nada – “é prematuro dizer que o estado falhou” afirmou a ministra a propósito de Pedrogão. Quando pela força do desastre são forçados a mudar alguma coisa a mudança passa invariavelmente por aumentar as camadas do Estado por eles transformado numa espécie de exoesqueleto que consome consigo mesmo os recursos que esportulam aos portugueses sob o populismo do que é público é de todos, do Estado que faz, do Estado que serve…
Demissão. Entrevistado na RTP o Chefe de Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, declarou que não lhe passa minimamente pela cabeça apresentar a demissão por causa dos acontecimentos de Tancos. Não deixa de ser curiosa esta afirmação vinda de um Chefe de Estado-Maior do Exército que chegou ao cargo após o seu antecessor, general Carlos Jerónimo, ter sido forçado a demitir-se porque o subdirector do Colégio Militar fizera uma declaração que podia ser interpretada como discriminatória para os alunos homossexuais. Em Abril de 2016 nem o ministro da Defesa nem o Presidente da República esperaram por melhores explicações ou que a poeira assentasse. Imediatamente o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, veio pedir explicações, considerando a “situação inaceitável” (nada de pedidos de informações sobre boas práticas). O BE imediatamente requereu a audição do general Carlos Jerónimo para lhe perguntar se tinha conhecimento da “discriminação em função da orientação sexual”, existente no Colégio Militar. E de imediato o Presidente da República aceitou o pedido de demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército, general Carlos Jerónimo, que foi substituído pelo general Rovisco Duarte. Um ano e dois meses depois tudo isso parece ter acontecido noutro mundo.
Executivo. Não está. Não se vê. Nos bastidores os ministros continuam a assinar a legislação que dentro de anos nos vai fazer perguntar: quando é que isto foi aprovado? Como foi possível? O silêncio dos profissionais do protesto nos hospitais, escolas e empresas de transportes paga-se em legislação sobre carreiras, admissões, poderes sindicais… A propósito de uma empresa em regime de serviço próprio: aceitam-se apostas sobre o número de vezes que o Metro de Lisboa pára esta semana.
Floresta. Fazem-se declarações diárias de amor à floresta mas esse amor é acompanhado de uma enorme ignorância sobre o que é a vida fora das periferias urbanas. Às segundas-feiras acham que se limpam terrenos florestais como quem arranca ervas num empedrado. Às terças descobrem uma árvore má (o eucalipto) e logo partem em cruzada contra o eucalipto. Às quartas reivindicam multas para os proprietário rurais que não façam isto ou aquilo nos campos… O resultado da fúria activista e do medo dos políticos em enfrentá-la é a produção de legislação absolutamente desadequada para esse país que fica para lá da faixa lateral das auto-estradas.
Governadores civis. Vários membros do governo aproveitaram a crise de Pedrogão para procurar recuperar o cargo dos governadores civis. Mas um governador civil em Pedrogão teria servido exactamente para quê? Para dar lencinhos e abracinhos a Constança Urbano de Sousa? Para falar aos jornalistas? Para andar pelos estúdios de televisão? Para ser mais um com aquele colete com o cargo escrito nas costas?… Certamente que para tudo isso que na prática é nada mas também para criar mais uma camada estatal onde enfiar os dignatários das maçonarias locais, mais uns quadros partidários, mais uns filhos de algo e os maridos de não sei quem. Ou seja estão reunidas as condições para que regressem os governadores civis.
Inimigo público. Quando tudo falha temos de arranjar um bode expiatório. Desta vez o culpado é o eucalipto. De repente se não houvesse eucaliptos não havia fogos e logo se vai a correr aprovar legislação anti-eucalipto. Não vai resultar. Antes pelo contrário.
Jornais estrangeiros. Acabou aquela lengalenga de “no salazarismo para estarmos informados tínhamos de recorrer aos jornais estrangeiros”?
(continua)