A hepatite C está em sétimo lugar nas causas de morte em Portugal e na Europa. Porém, trata-se da primeira infeção crónica, causada por um vírus, que é potencialmente curável. À procura de uma cura mais rápida e mais eficaz do que as que existem atualmente, os laboratórios farmâceuticos têm investigado a utilização de novos medicamentos. Um dos quais poderá ser aprovado pelo Infarmed dentro de um mês e terá um custo de 48 mil euros, segundo noticiou esta quinta-feira o Diário de Notícias. Uma medicação mais eficiente foi uma das recomendações que o Consenso Estratégico para a Gestão da Hepatite C em Portugal apresentou esta terça-feira.

Os novo grupo de fármacos para combater o vírus da hepatite C conseguiu, segundo o relatório do consenso, taxas de cura superiores a 90% nos ensaios clínicos – valores muito superiores aos concretizados pelos medicamentos existentes no mercado. Uma equipa do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, testou um dos fármacos: dos 16 doentes submetidos a ensaios clínicos, 13 curaram-se da doença, noticiou em dezembro o jornal Sol. Com a vantagem adicional de praticamente não terem efeitos secundários – são as reações adversas que levam muitos doentes a abandonar os tratamentos atuais.

Sem compromisso com nenhum dos medicamentos que possam entrar no mercado nacional, os 30 membros do grupo de reflexão (Think Tank) do Consenso Estratégico para a Gestão da Hepatite C em Portugal apresentaram um relatório com recomendações sobre como lidar com a doença. “Deve ser utilizado o produto [medicamento] que demonstre mais valor para o doente”, disse ao Observador Henrique Lopes, membro do Steering Committee (grupo de quatro pessoas responsável pelo relatório).

O investigador da Universidade Católica lembra que, como esta área de investigação é relativamente recente, podem, num curto espaço de tempo, sair novos estudos científicos que levem o grupo de reflexão a ajustar as recomendações do relatório apresentado. Há que ter em conta que o vírus da hepatite C tem seis tipos e cada um dos tipos tem vários subtipos, portanto os estudos passam atualmente por testar cada um dos medicamentos em cada um dos subtipos tendo também em conta a fase da doença em que o doente se encontra.

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Mesmo admitindo que os custos com os novos medicamentos possam ser muito elevados – 48 mil euros para três meses de comprimidos – quando comparados com os da terapeutica atual, os benefícios para os doentes são superiores – os novos medicamentos são mais rápidos a atuar, mais eficazes e menos desconfortável, porque têm menos efeitos secundários, afirmou Henrique Lopes.

O membro do Steering Committee lembrou que há medicamentos para o tratamento do cancro ou da sida que atingem estes valores ou superiores. Mesmo os custos com o acompanhamento de doentes infetados pelo vírus da hepatite C (sem contar com os medicamentos), como consultas, baixas, internamentos ou transplantes de fígado (100 mil euros cada), podem ultrapassar os 70 milhões de euros anuais no total, segundo o estudo coordenado por Joana Anjo, na altura colaboradora na Eurotrials. Para Henrique Lopes a única possibilidade dos novos tratamentos chegarem aos doentes é com comparticipação.

Curar a infeção é essencial para combater qualquer fase da doença provocada pelo vírus. Uma pessoa que tenha recebido um transplante de fígado para tratar uma cirrose ou um cancro, pode voltar a ter problemas porque uma infeção, que ainda esteja presente no organismo, pode voltar a atacar o fígado. “Mas o ideal é que não chegue a haver contaminação”, disse Henrique Lopes, que trabalha nas áreas de gestão da saúde e direito dos doentes. A prevenção sai naturalmente mais barata do que a cura, defende..

A sensibilização é essencial. Não só entre os grupos de risco como toxicodependentes, presos ou pessoas que receberam transfusões de sangue antes de 1992 (após esta data passaram a fazer análises do sangue doado), mas também junto dos profissionais de saúde e da população em geral. O teste é feito numa análise de sangue. “São simples e baratos”, disse Henrique Lopes.

A Organização Mundial de Saúde prevê que possam existir entre 100 mil a 150 mil pessoas infetadas em Portugal, ainda que apenas 30% dos casos sejam conhecidos. A doença pode permanecer sem sintomas durante 20 a 50 anos o que faz com que, quando seja detetada, já tenha evoluído para fases muito mais graves – em cada cem doentes, cinco a dez poderão morrer todos os anos de cirrose ou cancro do fígado.