Tinha nove anos quando pediu ao pai, como prenda de Natal, um escopro e um martelo para fazer escavações e descobrir fósseis e minerais. Acumulou descobertas no quarto de criança e, já adolescente, voluntariou-se para trabalhar em museus. Aos 32 anos, Pedro Viegas constrói réplicas de dinossauros para exposições de todo o mundo. Em Portugal, a sua profissão tem de ser traduzida do inglês para “preparador de fósseis”. E é partilhada por apenas mais quatro pessoas, obrigadas a registar-se nas Finanças como artistas ou arqueólogos.

Na garagem da casa em Sesimbra onde, em pequeno, descobriu a vocação, Pedro Viegas improvisou uma oficina para montar um dos primeiros dinossauros a habitar o planeta, o Thecodontosaurus – de que há vestígios em Bristol, Inglaterra. Está em Portugal a preparar-se para seguir para a Austrália.

Entre desenhos anatómicos de vários dinossauros, caixas de silicone, martelos e escopros, que organizou por causa da visita do Observador, recorda como, ainda adolescente, fazia incursões na serra e trazia tudo para casa. “Lembro-me de uma série de fases em que a minha mãe fazia limpeza ao meu quarto, que o meu irmão chamava de pedreira, e punha tudo no lixo… a muito custo… mas ainda bem…”, revela entre gargalhadas. Foi numa dessas incursões que acabou convidado para monitor de um projeto denominado “ciência no verão”, em Sesimbra. “Percebi que havia um grupo de pessoas à procura de fósseis. Disse-lhes onde podiam encontrar dentes de dinossauros e de peixes. E convidaram-me para integrar o projeto”. Foi o primeiro passo para começar a voluntariar-se para trabalhos em museus.

No Museu Nacional de Arqueologia aprendeu com especialistas a fazer moldes, classificar materiais e manuseá-los. E quando entrou para a Universidade, primeiro para Geografia depois Geologia, já tinha um currículo invejável na área. Acabou por, aos 20 anos, rumar à Holanda para trabalhar numa das três maiores companhias internacionais na área de replicação de espécies, a “Creatures & Features”. Foi lá que construiu o seu primeiro dinossauro para uma exposição no Japão, um Estegossauro. Além de dinossauros, Pedro Viegas também faz réplicas de veados, mamutes e outras espécies. Trabalhos que tem expostos um pouco por todo o mundo, como no México ou nos Estados Unidos. Para trás ficou a conclusão do curso superior.

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“Por um lado queria tirar o curso de Geologia, por outro já a estava a fazer o que queria. Andava oito meses a viajar pelo mundo, de museu em museu, e a fazer uma data de projetos, depois voltava para Portugal e tentava ir à universidade. Mas houve uma altura em que aquilo já não fazia sentido. É estranho porque toda a gente pergunta que curso tenho!”

Durante seis anos, Pedro Viegas trabalhou entre 14 a 16 horas, sem fins-de-semana e folgas. “Há uma ideia muito romântica deste trabalho, mas consome-nos muito. É por isso que não há muitas pessoas a fazê-lo!” Em Portugal, por exemplo, há apenas mais quatro. “É difícil trabalharmos a tempo inteiro porque as entidades, como os museus, dependem de financiamentos”, diz ao Observador outro dos raros preparadores de fósseis portugueses, Rui Lino. A profissão gera mesmo confusão nas Finanças. Pedro Viegas registou-se como arqueólogo. Rui como artista. “Há uma lacuna. É um trabalho tão específico que, pelos materiais utilizados, consideraram que era mais um artista plástico”, explica Rui Lino.

 

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Pedro Viegas ainda abandonou a profissão durante um ano. Viveu na Grécia até que, há quatro anos, a porta da Universidade de Bristol se abriu para o projeto “Bristol Dinossaur” –  financiado pelo estado britânico. Foi aqui que retirou os fósseis do dinossauro Thecodontosaurus de cinco toneladas de rocha e os tornou acessíveis aos cientistas. Participou em ações de divulgação, montou um laboratório para estudantes da universidade. E, ainda, ensinou técnicas laboratoriais e processos de preparação e conservação.

No final do projeto, já com uma proposta para abraçar um novo desafio na Austrália, ofereceu-se para reconstruir o animal. “Fiz moldes dos ossos que extraímos e estou a fazer a réplica para depois montar o dinossauro . Foi dos primeiros dinossauros a ser descobertos no mundo. Está classificado como um Prossaurópode, anterior aos Saurópodes.

Na Austrália vai continuar a trabalhar no terreno e no laboratório, mas numa investigação diferente.”Trata-se de um projeto relacionado com âmbar (resina fossilizada). Vou trabalhar com um professor que fez uma descoberta enorme, da qual não posso falar, e cuja investigação vai agora ser financiada pelo Estado”.

Não vai construir dinossauros mas, confessa, esse nunca foi um objetivo. “Em termos científicos era muito mais virado para mamíferos marinhos. Mas os dinossauros são a parte comercial da ciência!”.

 

Para saber mais sobre dinossauros em Portugal:

http://www.museulourinha.org/
http://www.mnhnc.ulisboa.pt/
http://www.shn.pt/