Normalmente os avançados são os reis. Tocam bem na bola, marcam golos, deixam a “torcida” louca. São os heróis que carregam os sonhos de uma pátria às costas. O destino, esse, depende de um pontapé na bola. Entrou? Foi para fora? O guarda-redes defendeu? Neymar bem tentou ser o herói do Brasil-México mas teve pela frente um gigante de 1.83m, de luvas, fita na cabeça e com poderes dignos de outra galáxia. Falamos de Ochoa, pois claro. O guarda-redes mexicano parecia que guardava as gentes do seu país dentro da baliza. Defendeu-as com unhas e dentes. Ninguém levou a melhor sobre ele. Ninguém. E podiam tentar o dia todo…
Estamos perante o novo Jorge Campos? O tal pequenote que defendeu as redes mexicanas nos Mundias de 1994 e 1998 — 130 internacionalizações. A lenda mexicana venceu também a Taça das Confederações, em 1999, precisamente contra o Brasil (4-3). Chega de devaneios: voltemos a Ochoa. Depois de vários anos a prometer dar o salto, a Europa piscou-lhe o olho finalmente em 2011. O destino foi o Ajaccio, um clube pequeno de França. Em 2013/14, os franceses desceram de divisão e Ochoa chega a este Mundial sem contrato. Sem clube. Parece mentira, certo? Meio mundo está a falar dele depois desta super exibição contra o Brasil. Ah! E porque imitou Gordon Banks em 1970, mas já lá vamos…
Luiz Felipe Scolari optou por deixar Hulk no banco — afinal, não estava lesionado: foi opção — e colocou em campo Ramires, talvez porque esperava um México agressivo no meio-campo e nas alas. O médio do Chelsea é muito rápido nas dobras e apoia bastante o lateral no trabalho defensivo, mas faltaria depois o que Hulk, Bernard, Willian e Lucas Moura podem oferecer: magia e olhos no golo. Neymar, que jogou mais a n.º10 contra a Croácia, desta vez atuou pela esquerda.
No México, nada de novo. Herrera, o médio do FC Porto, foi titular e voltaria a assinar uma exibição de grande qualidade. Javier Hernández ficou no banco. Outra vez. Os mexicanos chegavam a este jogo com a história contra eles: em 11 jogos de Mundial contra seleções sul-americanas registaram apenas uma vitória — Equador em 2002 (2-1).
A primeira parte teve muito ritmo. Os mexicanos, quais guerreiros aztecas, começaram a varrer forte e feio, talvez para intimidar os criativos canarinhos, que mais pareciam pipocas a saltar. O México estava mais aguerrido, tentava que o Brasil não pensasse o jogo; os canarinhos procuravam guardar a bola e oferecê-la a Neymar para ele agitar as coisas pela esquerda.
Todos os Campeonatos do Mundo têm aqueles momentos de que se falarão décadas depois. Foi isso que aconteceu com Gordon Banks em 1970, quando fez aquela defesa inacreditável a cabeceamento de Pelé. Em 2014, Guillermo “Banks” Ochoa imitou-o. Dani Alves cruzou com muita categoria pelo lado direito e Neymar, nas alturas, cabeceou. Ochoa, qual super herói voador, mandou-se para a bola e assinou a melhor defesa do Campeonato do Mundo até agora. O Twitter ficou inundado de comentários e mensagens a comparar os dois guarda-redes. Bom, se Ochoa está em final de contrato, essa situação não vai permanecer assim durante muito tempo…
https://twitter.com/FootballVines/status/478982448588795904
Os mexicanos acenderam e começaram a pressionar mais à frente, o que ofereceria mais espaço a Neymar e Oscar, por exemplo — este último teria uma prestação muito fraca. O jogo começou a ficar partido, o que significava que haveria mais espaço nos meio-campos contrários, o que convidava a mais remates de longe. Foi o que fizeram Marcelo e Vásquez, que remataram para fora. O último, ainda assim, passou muito perto do poste de Júlio César. O treinador mexicano levou as mãos à cabeça. Fred ainda colocaria à prova Ochoa, mas o brasileiro ainda não sabia que não valeria a pena. Intervalo: Brasil liderava na posse de bola (54%) e nos remates (8-4).
Scolari decidiu então trocar Ramires e mandou entrar Bernard. Assim sim, haveria mais ginga na linha, a equipa deixava de estar coxa. A segunda parte continuou com a mesma bitola, mas com menos Brasil ainda. A equipa da casa foi perdendo gás no meio-campo e Herrera e companhia diriam “gracias”, pois aproveitariam para fazer mossa. Vásquez, Giovani dos Santos e Herrera foram os primeiros a colocar em sentido Júlio César. Os adeptos do FC Porto estarão, certamente, muito satisfeitos com o que estão a ver de Herrera.
O México acreditava cada vez mais e o Brasil colocava-se a jeito, mas também é certo que os brasileiros poderiam acabar por explorar as costas da defesa mexicana. Mas só com Neymar e o inexperiente Bernard é complicado. Fred não foi feito para estas andanças. À passagem da meia hora de jogo, novo aviso do México. Foi Guardado, de longe. O que esperava Scolari para mexer? Lembram-se da posse de bola ao intervalo? Pois bem, quando faltava meia hora para acabar, os mexicanos já tinham mais bola (51%).
Ochoa voltaria a agigantar-se aos 69′, a remate de Neymar de canhota. Nesta altura começou a sentir-se uma quebra física por parte dos mexicanos, o que permitiu ver os craques brasileiros mais perto da área mexicana. Até final, haveria só mais dois lances dignos de registo: um remate de Guardado para fora e outro de Jiménez, acabadinho de entrar, que Júlio César defenderia. Do lado canarinho, Thiago Silva, depois de um livre lateral de Neymar, cabeceou com força mas o destino seria a mão direita de Ochoa. Surprise, surprise.
https://twitter.com/FootballVines/status/479001623901925378
Final da partida. Ochoa foi um autêntico muro na baliza mexicana e evitou a festa canarinha. As duas seleções ocupam a liderança com quatro pontos e colocam pressão agora na Croácia e nos Camarões, ambas com zero pontos. México e Brasil merecem um “bravo”, pois ofereceram um belo jogo, vivaço, rasgadinho e quase, quase com golos.