Uma rusga policial à casa de um poeta chinês resultou na detenção do artista por posse de objetos perigosos – neste caso um guarda-chuva. Diz-nos o dicionário Priberam da Língua Portuguesa que guarda-chuva é um substantivo masculino que designa um “artefacto constituído por uma armação articulada que se pode abrir e fechar, coberta de tecido ou material afim, usado para resguardar da chuva ou do sol”. Mas, no espaço de um mês, na China este útil e inofensivo objeto deixou de o ser, ascendendo à categoria de objeto perigoso, subversivo e tornou-se uma ameaça.

Tudo começou com os protestos em Hong-Kong, a já chamada “revolução Guarda-Chuva” ou o “movimento guarda-chuva”. Na realidade, o significado do guarda-chuva nesta revolução nem se pode associar a uma arma branca, uma vez que os manifestantes pró-democracia o usaram aberto apenas para se defenderem do gás pimenta lançado pelas autoridades.

Wang Zang é poeta, tem 29 anos e, a partir de Beijing, apoiou publicamente os manifestantes em Hong Kong. Uma fotografia no Twitter a segurar um guarda-chuva valeu-lhe a entrada em sua casa de doze polícias e a possibilidade passar três anos na prisão.

A mulher do poeta contou ao Telegraph que eles empunhavam um um mandato de captura em branco e iniciaram uma minuciosa busca que deixou os seus filhos de 2 e 5 anos assustados. Foi encontrado o objeto perigoso. Um guarda-chuva azul claro ao qual se juntaram mais provas: um computador, um router de internet, e um par de óculos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas para o Governo Chinês não era o guarda-chuva de Wang Zang que era perigoso, era o próprio. A sua mulher conta que “desde os tempos de universidade” o marido “faz campanha e defende os pobres”. Também ela o apoia: “Eu acredito que ele tem feito o que é certo e justo. Nada do que o meu marido tem feito ao longo dos anos pode ser considerado um crime. Estarei sempre do lado do meu marido. Estou orgulhosa dele e do que ele faz.”

Para Sui Muqing, advogado de direitos humanos, não há dúvidas a prisão do poeta foi por ser um apoiante do Movimento Guarda-Chuva. Acrescenta que esta detenção faz parte de um campanha de silenciamento dos opositores ao regime feita pelo Partido Comunista. Wang é um deles e poderá ficar três anos preso por “provocar problemas”

A Amnistia Internacional conta que Wang se junta a, pelo menos, mais 25 ativistas oriundos de sete províncias chinesas detidos desde que os protestos em Hong Kong começaram. Segundo a organização internacional, o Partido Comunista está neste momento a tenta fazer com que o guarda-chuva não se torne um símbolo do contrapoder. Mas, nas redes sociais, o movimento parece já ir tão bem consolidado que muitos já dizem que é esta revolução “é a sucessora com sucesso de Tienamen” e há até quem use o presidente chinês para divulgar a mensagem.