O ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, foi uma das primeiras pessoas a falar na reunião de quinta-feira do Conselho de Ministros para justificar as declarações que fizera em Nova Iorque a propósito dos jihadistas portugueses que querem regressar e que geraram polémica – incluindo uma manchete do DN que dava conta de mal-estar nos serviços de informações e de segurança.
Segundo relato feito ao Observador, o ministro disse que não divulgara qualquer informação de caráter sigiloso, na linha daquela que é a argumentação que usa esta sexta-feira, numa carta enviada ao DN e que o jornal publica. Machete alega que, na entrevista dada à RR a partir de Nova Iorque, menciona apenas dados que são do conhecimento geral da opinião pública através de notícias na comunicação social.
O ministro, nessa carta, diz claramente que “o número aproximado de portugueses que militam no ISIS foi o já referido publicamente e também divulgado por diversos jornais” e que “a referência à existência de famílias portuguesas que lamentam que os filhos tenham viajado para a Síria vem descrita em vários artigos recentes da imprensa nacional”. Machete acrescenta ainda não ter dado “qualquer pormenor que permita identificar pessoas concretas”. Segundo apurou o Observador, esta última questão é a mais delicada nas declarações do MNE – dizer-se que os portugueses jihadistas querem regressar pode pôr em causa a sua vida na organização onde ainda militam ou inviabilizar qualquer tentativa de fuga.
Na reunião do Conselho de Ministros, o ministro da Administração Interna irritou-se com a polémica que as declarações de Machete desencadearam na opinião pública e, segundo o DN desta sexta-feira, também se terá irritado com o colega de Governo, considerando as declarações do MNE “inaceitáveis” e dizendo que só ele pode comentar este assunto em público.
Na entrevista à Rádio Renascença, Machete dissera que “dois ou três” jihadistas portugueses querem regressar, acrescentando que se trata “sobretudo de raparigas, que se deixaram encantar pelo entusiasmo dos noivos ou por um espírito de aventura”.
Em setembro, Miguel Macedo comentou as primeiras notícias sobre portugueses jihadistas, confirmando: “Há cidadãos envolvidos nesse tipo de situações, há, não vou dizer quantos, quem são, onde estão, não posso dizer, não devo dizer”, afirmou, na Madeira, avisando que esse tipo de informação é “classificada”.
Já este mês voltaria a comentar o assunto, dizendo que tem havido “esforços de cooperação e troca de informação entre serviços de informação de diversos países” e que o Governo está “atento e vigilante” e que está a avaliar “o quadro legal” para este tipo de casos.