Seis cientistas e um oficial do governo condenados por homicídio após o sismo de L’Aquila, na Itália, recorreram da sentença e foram absolvidos. Apesar de ser cientificamente impossível fazer uma previsão de um sismo, os sete envolvidos foram condenados a seis anos de prisão e ao pagamento de nove milhões de euros por danos aos sobreviventes. O veredicto baseou-se na incapacidade dos réus de fornecerem um aviso de terramoto iminente à população da região de Abruzzo.

Um sismo de magnitude 6,3 na escala de Richter atingiu a cidade medieval de L’Aquila e as localidades vizinhas a 6 de abril de 2009. Foi o abalo mais forte de uma série de abalos que durava há cerca de três meses. Em Itália os tremores de terra são frequentes, embora muito raramente tão fortes. Os elementos presentes na reunião da Comissão de Grandes Riscos a 31 de março desse ano declararam que não se podia excluir a possibilidade de um risco de grande magnitude, mas, segundo a acusação, não foram tomadas medidas adicionais de prevenção. Muitas pessoas morreram nessa noite por terem ficado soterrados na própria casa, em vez de terem saído para a rua como normalmente é aconselhado.

Três anos mais tarde, em outubro de 2012, os seis cientistas e o oficial do governo que estavam na reunião da comissão foram considerados culpados pela morte das 309 pessoas, por “negligência e imprudência” e por terem “realizado uma avaliação de riscos em relação às atividades sísmicas genérica e ineficaz, cheia de informações incompletas, imprecisas e contraditórias”, declarou o procurador Fabio Picuti. A atitude do juiz, incluindo a atribuição de mais dois anos de pena do que era pedido pela acusação e a apresentação de referências científicas na sentença, fez com que a comunidade científica lamentasse que o que estivesse de facto em julgamento fosse a própria ciência.

“Um comité científico tem de dar o próprio julgamento… O conselho pode estar errado. Ou pode ser impreciso. Mas com uma punição tão grande o comité não poderá atuar convenientemente. O comité tenderá a ser sempre muito, muito conservador. Penso que há um grande risco de as comunidades científicas se absterem de dar aconselhamento ao governo”, disse em 2012 à BBC o presidente demissionário da Comissão de Grandes Riscos.

Com a absolvição dos cientistas “a credibilidade da comunidade científica italiana foi restabelecida”, disse Stefano Gresta, presidente do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia.

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