Um holandês voador. Um touro enraivecido rematar como se tivesse a pedalar. O calcanhar de um sueco gigante. Ou uma loira a resolver com três toque no meio da Irlanda. Golos. É sobre isto que se escreve. Sobre a missão que leva 20 jogadores — vá, os guarda-redes não contam — a correrem atrás de uma bola de futebol durante hora e meia. Rematar uma bola para dentro de uma baliza não é fácil. Apesar de às vezes o parecer. Há golos feios, atabalhoados, e marcados na baliza errada. Depois há os bonitos. Os balázios que se disparam de longe. Os que vêm de um toque artístico. Os que aparecem depois de alguém fintar o mundo.

E depois há os dez que, sabe-se lá como, a FIFA escolhe. Começou a fazê-lo em 2009, quando criou um prémio para distinguir o melhor golo marcado durante a época. Chamou-lhe o Prémio Puskas, com o apelido de um húngaro, de primeiro nome Férenc, que marcou pelo menos 327 golos na carreira — 84 deles em 85 jogos pela seleção. Um senhor dos golos para premiar quem os souber marcar.

O primeiro a receber a distinção foi Cristiano Ronaldo, pela bomba que fez explodir no Estádio do Dragão, em 2009. No ano seguinte apareceu Hamit Altintop, médio turco, antes de Neymar dizer olá e, ainda no Santos, clube brasileiro, inventar sozinho um golo para receber o prémio em 2012. Um eslovaco sucedeu-o e, em 2013, foi a vez de Miroslav Stoch. Outra vez graças a um remate com potência rara. No último ano a honra coube ao sueco Zlatan Ibrahimovic. O tal que, pela terceira vez (um recorde) tem um golo na lista dos dez candidatos. Aqui vão eles. Ah, e se quiser, pode escolher e votar no que acha ser o melhor, aqui.

Tim Cahill, australiano, 34 anos, Austrália

Era jogo importante. Dos grandes. Afinal, estava num Mundial. Era o segundo jogo e qualquer uma das seleções tinha que vencer. Tim Cahill foi o primeiro a mexer-se. E de que maneira. Encostou-se à esquerda, esperou por um cruzamento, ele veio por alto, em balão, e o australiano não foi de modas — disparou logo, de primeira, com o pé canhoto (o preferido até é o direito) e pumba. Golo. Golaço. Um dos três nesta lista que vieram do Mundial.

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Diego Costa, hispano-brasileiro, 26 anos, Atlético de Madrid

É um touro. Pega na bola, baixa a cabeça, leva tudo à frente e acaba por marcar golos. Muitos. Diego Costa é assim. Mas, neste caso, foi diferente. Com mais estilo. Esperou por um cruzamento, perfeito para cabecear, mas não. O avançado virou-se, saltou, fez uma acrobacia e pontapeou a bola como quem pedala numa bicicleta. Bravo.

Marco Fabian, mexicano, 25 anos, Cruz Azul

Aqui houve classe. Muita. Alguém deu um chutão para a frente e Marco Fabian, que até é baixote (1,70m), não tinha outra hipótese: aquela bola era para dominar com o pé. Esquece a cabeça. Assim o fez. Ela ficou parada, domada, antes de ser usada para ludibriar um adversário e, desde fora da área, ser rematada com calma para colocar um chapéu sobre o guarda-redes.

Zlatan Ibrahimovic, sueco, 33 anos, Paris Saint-Germain

Já marcou golos por todo o lado. Suécia, Holanda, Itália, Espanha e, agora, fá-lo em França. Remates de longe, fintas, livres, tudo e mais alguma coisa. Esta apareceu de calcanhar, para rematar uma bola em que muitos nem teriam agilidade para tocar.

Pajtim Kasami, suíço, 22 anos, Fulham

https://www.youtube.com/watch?v=7sxmdRhTMYs

Este foi à bruta. Com força e perseverança. Pajtim começou a sprintar, um companheiro de equipa viu-o e passou-lhe a bola, pelo ar. Era difícil. Estava a ser perseguido por dois defesas e tinha pouco espaço, e tempo, para decidir o que fazer. Escolheu fazer isto: dominou a bola de peito e rematou-a logo, perto da esquina da área. E pronto, mais um golaço.

Stephanie Roche, irlandesa, 25 anos, Peamount United

Parecia futebol de praia. Sempre com a bola no ar. Stephanie fugiu até à entrada da área, pediu a bola, recebeu-a vinda do ar e deu-lhe dois toques que serviram para tudo: para a controlar, iludir a adversária e a preparar para o terceiro toque. Qual? O que deu o remate. Que fez o quê? Marcou um grande golo.

James Rodríguez, colombiano, 23 anos, Colômbia

https://www.youtube.com/watch?v=L6lKl4xVtPg

Parecia que o tempo estava parado. James, o craque, estava à entrada da área e dominou uma bola de peito, atirando-a um pouco para cima, à espera que, depois, a gravidade fizesse o seu trabalho. No entretanto, teve tempo para mudar a posição do corpo e olhar para a baliza, como quem se decide pela melhor maneira de dar nas vistas. E quando a bola desceu disparou uma bomba, que ainda bateu na barra. Isto nos oitavos de final do último Mundial.

Camilo Sanvezzo, brasileiro, 26 anos, Portland Timbers

Não foi tanto de bicicleta. Foi mais uma acrobacia. Camilo Sanvezzo esperou no limite da grande área para que a equipa atinasse nos cruzamentos e lhe fizesse chegar algum. Quando tal aconteceu, o brasileiro inventou um pontapé acrobático para marcar um golo. Perdão, um golaço.

Hisato Sato, japonês, 32 anos, Sanfrecce Hiroshima

https://www.youtube.com/watch?v=Ht0KV9Yohss

A jogada parecia chata, aborrecida. Pouco ou nenhum perigo se adivinhava. Sato parecia só mais uma escala na viagem sem destino da bola. Mas não. O avançado pediu-a, dominou e fê-la saltar um pouco. Estava de costas para a baliza. Mas isso não o impediu de, qual flecha, se virar rapidamente e rematar com o pé esquerdo. A bola subiu tão rápido quanto desceu e entrou na baliza no tal sítio onde dizem que a coruja está a dormir, no ângulo superior esquerdo.

Robin Van Persie, holandês, 31 anos, Holanda

Quem se lembraria de fazer isto? O jogo estava difícil para quem vestia de laranja. Perdiam 1-0 contra a seleção campeã da Europa e do Mundo. E, de repente, um passe longo, vindo do meio campo, dava uma nesga de espaço a Van Persie, à beira da grande área espanhola. Se apostasse tudo na rapidez, até teria tempo para controlar a bola e rematar logo a seguir. Mas não. O holandês preferiu voar: saltou, como se estivesse a mergulhar para uma piscina, cabeceou a bola e fê-la passar por cima de Iker Casillas. Lindo.