Beleza, carisma, sentido para a moda e sex appeal. São estes os ingredientes que ajudam a definir a essência de uma modelo, a qual é elevada a supermodelo quando é capaz de marcar uma era. Todas as décadas têm as suas “super”, desde os tempos em que Twiggy era a atenção de qualquer câmara fotográfica aos dias de hoje, marcados pela quase omnipresença da modelo britânica Cara Delevingne em cartazes publicitários. Mas quem começou tudo isto? Quem foi a mulher que, pioneira, abriu caminho para a indústria da moda, com desfiles e sessões fotográficas à mistura? A BBC responde: Nesbit, Evelyn Nesbit.

No artigo publicado este domingo, a BBC explica que o fenómeno das supermodelos — termo que hoje facilmente associamos a nomes como Cindy Crawford e Naomi Campbell — recua até ao início do século XX, altura em que uma jovem de cabelos cor de cobre, proveniente de Filadélfia e com herança escocesa e irlandesa, tornou-se na modelo mais procurada em solo norte-americano. Nesbit foi o retrato fiel da época por ter vivido os dois lados de uma mesma moeda, à semelhança do que se passava nos Estados Unidos da América, que tanto assistia ao rápido crescimento económico como à pobreza de muitos imigrantes europeus.

Cresceu no seio de uma família modesta e começou a trabalhar como modelo aos 14 anos para ajudar a sustentar a família. Apesar de as origens serem marcadamente pobres, conheceu uma ascensão meteórica quando, em 1900, chegou a Nova Iorque. Foi na cidade sem horário de recolher obrigatório que foi apresentada a vários artistas e ilustradores, tornando-se, assim, na modelo mais requisitada do momento. Serviu de inspiração para diversos trabalhos de arte, como a peça “Innocence” de George Grey Barnard, atualmente no Metropolitan Museum of Art, e o rosto jovem foi ganhando cada vez mais popularidade, aparecendo em capas ilustradas de diversos jornais e revistas.

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Aos cremes e pastas de dentes que foram publicitados com a ajuda da sua imagem, acrescentam-se outros produtos: tabaco, postais e calendários. Nesbit posava muitas vezes em diferentes trajes, recriando, por exemplo, deusas gregas e geishas. Apesar de aparecer sempre vestida, as fotografias transmitiam uma aura algo sexual, escreve Lindsay Baker, da BBC. Não demorou muito para que a jovem fosse facilmente reconhecida pelo grande público e abrisse caminho para os palcos da Broadway, com um papel na peça “The Wild Rose”.

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Mas como várias das pessoas que atingem o estrelato, Nesbit entrou em contacto com o lado mau da fama. A estrela viu-se envolvida num triângulo amoroso que culminou num assassinato e originou o “julgamento do ano”, que assim ficou conhecido. O marido, o milionário Harry K Thaw, assassinou o ex-amante da supermodelo, o arquiteto Stanford White, num ataque de ciúmes incontrolável. Nesbit foi a testemunha principal no caso e viu a sua imagem sofrer alterações aos olhos do público: no mediático processo foram revelados detalhes chocantes da sua relação com os dois homens, que alegadamente batiam na parceira, e a sua mãe foi acusada de prostituir a filha. Thaw foi condenado a prisão perpétua num hospital reservado a doentes mentais.

Apesar das circunstâncias trágicas que, então, toldaram a vida de Nesbit Evelyn, ela soube erguer-se consagrar-se enquanto atriz, escritora e mãe, conclui a BBC. Mais do que as peças de arte e fotografias que tiveram a modelo como musa, esta foi imortalizada em poemas, livros, peças e filmes — The Girl in the Red Velvet Swing.