Uma das principais bolsas de bitcoins do mundo, a BitStamp, está suspensa depois de uma falha de segurança causada por um hacker (ou um grupo de piratas informáticos) que fez desaparecer quase 19 mil unidades da moeda digital, o equivalente a mais de quatro milhões de euros à cotação atual. O roubo ocorreu no domingo, ameaçando a viabilidade da bolsa que ganhou popularidade depois do colapso da antiga rival e líder deste mercado, a Mt. Gox.

Em comunicado publicado no site da BitStamp, a empresa dona da bolsa de bitcoins diz que suspendeu “temporariamente” os serviços, mas que “os clientes podem estar tranquilos de que as bitcoins armazenadas nos nossos servidores antes da suspensão a 5 de janeiro estão completamente seguras“. A gestora alerta, contudo, que os clientes não devem fazer depósitos em endereços antigos (anteriores a este domingo) e promete voltar à normalidade “nos próximos dias“.

A empresa, que tem escritórios no Reino Unido e na Eslovénia, garante que o montante roubado corresponde a “uma fração” das suas reservas de bitcoins e adianta que está em contacto com as autoridades para averiguar o que se passou. Esta é a estratégia que está a ser seguida pela BitStamp, que quer afastar quaisquer comparações com o colapso da antiga líder das bolsas de bitcoinsa Mt. Gox, cujo desaparecimento também começou com falhas de segurança na infraestrutura tecnológica do seu sistema.

O colapso da bolsa de bitcoins Mt. Gox foi um processo repleto de fraudes mas que, mesmo assim, não abalou a bitcoin e muito menos o entusiasmo dos defensores das moedas digitais. São divisas descentralizadas, sem o “princípio da confiança” que rege o sistema financeiro convencional, que conta com bancos centrais a emitir moeda. Quem está a comprar “bitcoins” pode estar a especular que as venderá, mais tarde, por “dinheiro comum”, com lucro. Mas quem acredita que a “bitcoin” será uma moeda duradoura está a confiar na robustez do modelo proposto, em 2008, por alguém conhecido como Satoshi Nakamoto.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Alguém cuja identidade continua a ser uma incógnita, apesar de a Bloomberg Newsweek ter no ano passado apontado um insuspeito engenheiro norte-americano de ascendência asiática como “o rosto por detrás da bitcoin”. O visado desmentiu a reportagem. Poucas pessoas no mundo saberão quem é o criador do trabalho académico “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” e do código cuja resolução é premiada com “bitcoins”. Satoshi Nakamoto pode ser um pseudónimo de uma ou várias pessoas e nada garante que se trata de um japonês, como o nome sugere.

bitcoins não são seguras, diz o Banco de Portugal

Foi inaugurado em outubro, em Lisboa, um novo modelo de “caixa multibanco”, que permite converter bitcoins em euros e vice-versa. A conceção, produção e propriedade são 100% nacionais, tendo a máquina sido fabricada em Famalicão, pela Partteam. O software foi desenvolvido em Lisboa, pela equipa Bitcoin Já.

Na altura, o Banco de Portugal veio “relembrar os consumidores dos riscos de utilização e de comercialização de ‘moedas virtuais’ como a bitcoin. Semelhantes alertas têm vindo a ser difundidos pelo Banco Central Europeu e pela Autoridade Bancária Europeia”, diz o comunicado da entidade reguladora. “As moedas virtuais não são seguras. As entidades que emitem e comercializam ‘moedas virtuais’ não são reguladas nem supervisionadas por qualquer autoridade do sistema financeiro, nacional ou europeia”.

Os utilizadores suportam todo o risco, porque não existe garantia de que estas moedas sejam aceites na compra de bens ou serviços. Em caso de desvalorização parcial ou total das “moedas digitais”, não existe um fundo que cubra eventuais perdas dos utilizadores, sublinhou a instituição liderada por Carlos Costa. Por outro lado, “o consumidor pode perder o seu dinheiro na plataforma de negociação e corre o risco de o dinheiro da sua carteira digital poder ser roubado. Também não existe qualquer proteção legal que garanta direitos de reembolso ao consumidor, como a que existe para as transferências convencionais”, salientou o Banco de Portugal.