O advogado António Lobo Vilela, especialista no setor do jogo, defendeu esta terça-feira em declarações à agência Lusa que a queda das receitas dos casinos em Macau é normal e vai permitir o reajustamento do setor.

As receitas dos casinos caíram no ano passado 2,6 por cento face a 2013 para 351.521 milhões de patacas (35.520 milhões de euros), e com o mês de dezembro com uma queda homóloga de 30,4%.

Para António Lobo Vilela, os fatores que mais bem explicam a queda das receitas são a campanha anti-corrupção na China, o maior controlo do fluxo de capitais do continente para o exterior e a maior supervisão das autoridades de Macau.

No entanto, defendeu, a queda “não irá prejudicar Macau”, até porque “nunca alguém fez previsões que apontassem o crescimento que as receitas do jogo experimentaram”.

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“Em 2010, as receitas eram cerca de metade das apuradas no final do ano passado, números que nenhum analista ousou prever, razão pela qual não há, de momento, razões de preocupação para o impacto que a queda de 2014 apresentou”, disse.

O advogado critica os analistas que dizem que daqui a seis meses a situação voltará ao normal, considerando que “isso é atirar areia para os olhos dos investidores, porque as quedas homólogas nas receitas do jogo verificaram-se desde junho de 2014 e, obviamente, será normal que a partir da segunda metade de 2015 a situação estabilize, com eventuais altos e baixos, mas com alterações de apenas um dígito”.

Por outro lado, recordou, as receitas dos casinos duplicaram mais de quatro vezes desde que o Executivo de Edmund Ho decidiu, em 2001, abrir o setor a novos operadores, acabando com os 42 anos de monopólio da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau”, liderada por Stanley Ho.

“Em 2001 as receitas dos casinos eram pouco mais de 18.000 milhões de patacas (1.800 milhões de euros ao câmbio de hoje)”, disse.

Para António Lobo Vilela, a queda de 2014 demonstra também que “o céu não podia ser o limite” e que o “reajustamento inevitável e necessário” vai acontecer num setor que se ampliou de forma extremamente rápida, com os operadores a darem já sinais de “olhar para o mercado de massas de forma diferente do que faziam antigamente quando estavam suportados e sustentados no mercado de grandes apostadores”.

“Será, contudo, um processo gradual, que até poderá ter pontualmente um impacto negativo mas que, depois, até com a abertura de novos espaços de jogo e de entretenimento, será corrigido sem grandes sobressaltos”, defendeu.

Positivo, na análise do jurista, será o impacto que a quebra e o reajustamento do mercado terá para a população de Macau.

“Assistimos em vários campos, como a habitação, a uma escalada de preços sem razão nem controlo e o reajustamento e a perda de peso do mercado vip pode influenciar positivamente a população de Macau com a queda do custo de vida que está inflacionado artificialmente”, concluiu.

Citado hoje na imprensa de Macau, Charlie Choi, um responsável pelo sítio da Internet “Wonderful World” — que recolhe informações de jogadores com dívidas nos casinos -, defende que entre 40 a 50 salas de jogo vip, destinadas a apostadores de grandes quantias, deverão encerrar em 2015, afetando entre 100 a 200 trabalhadores.

Macau é uma Região Administrativa Especial da China desde 20 de dezembro de 1999 com autonomia administrativa, legislativa e judicial.

A economia de Macau está assente nos serviços com o setor do turismo, especialmente o jogo em casino, a afirmar-se como a principal fonte de receita pública devido aos impostos diretos de 35% cobrados sobre as receitas brutas apuradas nos espaços de jogo e de 4% de indiretos canalizados para fins diversos como a promoção turística.