Damián Pachter foi o primeiro jornalista a revelar a história de Alberto Nisman — o procurador argentino que estava a investigar o atentado à bomba de um centro judaico em 1994 e foi encontrado morto recentemente. Pachter, o jornalista, fugiu da Argentina no sábado e voou para a terra natal, Israel, por “temer pela segurança”.

O jornalista diz que está a ser “perseguido” pelas “forças de segurança” do governo argentino. “Tive de me mexer o mais depressa possível para apanhar um avião e sair do país”, conta. Já no domingo, depois de aterrar em Telavive, Israel, Pachter confessou que fugiu da Argentina por temer pela sua vida. E aponta o provável crime que terá cometido: “Eu fui-me embora por causa da notícia que dei (…) relacionada com a morte estranha de Alberto Nisman na semana passada. Fui o primeiro a dar a notícia, agora estou a sofrer as consequências disso”, referiu Pachter à agência Reuters, avança a Aljazeera.

Já tinha suspeitas, mas a certeza chegou na sexta-feira. Damián Pachter conta que percebeu estar a ser seguido por alguém pertencente aos “serviços secretos”. Numa das situações, Pachter esperava por um amigo no café quando percebeu que estava lá um homem, à noite, com óculos de sol. Duas mesas separavam os dois homens. “Vestia calças de ganga, um casaco de ganga e uns óculos de sol Ray-Ban”, descreveu. “Ser seguido pelos serviços secretos nunca é boa notícia”, referiu o jornalista. “Certamente que ele não queria tomar um café comigo”, concluiu. Pachter não hesitou. Comprou um bilhete para Montevideo, no Uruguai, e dali seguiu para Madrid e Telavive, relata o New York Times.

Alberto Nisman foi encontrado morto no dia 18 de janeiro, em casa, com marcas de um tiro na cabeça e uma pistola ao lado. As investigações que estava a fazer faziam-no crer que a presidente Christina Fernandez Kirchner estava a “conspirar” para o demover. Nisman tinha sido notificado para responder sobre as suas acusações perante o Congresso Nacional da Argentina, o órgão legislativo do país.

Na altura, os tribunais argentinos apontaram “um grupo de iranianos” como os responsáveis pelo bombardeamento de 1994 na comunidade judaica em Buenos Aires. O desastre resultou na morte de 85 pessoas. Nisman acreditava que Kirchner tinha aberto um “canal secreto” com o grupo de iranianos suspeitos para encobrir o alegado envolvimento no bombardeamento. Em troca, negociava com eles a compra de petróleo. O procurador pediu a abertura de um inquérito contra Kirchner e ainda tinha pedido um embargo de bens no valor de 200 milhões de pesos.

“A Argentina tornou-se um sítio negro liderado por um sistema político corrupto”, refere Damián Pachter. A morte de Nisman lançou uma onda de teorias e suspeitas sobre o que terá realmente acontecido. Agora, a fuga do jornalista poderá aumentar o clima de conspiração contra o governo.

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