O primeiro-ministro e presidente do PSD comparou na segunda-feira à noite a sua governação a um processo de cura de uma doença que esteve determinado a aplicar uma dada terapêutica apesar dos efeitos secundários. Pedro Passos Coelho recorreu a esta imagem durante uma iniciativa da Juventude Social Democrata (JSD), em Cascais, depois de ser questionado por um jovem sobre o dilema entre fazer o que se considera correto e pensar no impacto das medidas.

“O objetivo que temos é o de vencer a doença, não é o de perguntar se as pessoas durante esse processo têm febre ou têm dor ou se gostam do sabor do xarope ou se o medicamento que tomam lhes faz um bocado mal ao estômago ou qualquer outra coisa, quer dizer, se os efeitos secundários de todo o processo por que se passa valem ou não valem a cura”, afirmou, acrescentando que “quando nos queremos curar de alguma coisa, fixamo-nos muito nesse objetivo e levamos por essa via o nosso dilema de outra maneira que não levaríamos se achássemos que tínhamos aqui uma discricionariedade muito maior”.

Passos Coelho começou por referir que tomou “muitas decisões” como primeiro-ministro “que tiveram um impacto grande na vida das pessoas: na vida de funcionários públicos, na vida de pensionistas, na vida de muitas pessoas que viviam daquilo que o Estado investia, do investimento público”. “E esse dilema eu resolvi desta maneira: nós temos de ter um Estado que seja sustentável para futuro. Se não o tivermos sustentável, então nós teremos de regressar ao dia em que tivemos de pedir ajuda externa. E nesse dia a fatura paga é muito superior, e a dor é muitíssimo maior”, prosseguiu.

O primeiro-ministro acrescentou ainda que agiu “como qualquer pessoa que conduz um processo de terapia”, defendendo que nos últimos anos Portugal esteve sujeito a “uma terapêutica”, num quadro de “escolha muito reduzida”. Passos Coelho considerou que qualquer Governo se pudesse “era mais simpático ou mais popular” e que nenhum executivo tem “qualquer prazer em desenvolver programas que provoquem dor social ou que provoquem contração da economia”, nem governa para “magoar as pessoas” ou “perder eleições”.

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Na mesma intervenção, o primeiro-ministro arriscou ainda dizer que espera um entendimento com o PS sobre a reforma da Segurança Social logo após as eleições legislativas. Insistindo que são necessárias medidas “do lado da Segurança Social”, Passos defendeu que o Governo já apresentou um número “que é relevante para atingir o resultado que se pretende”: 600 milhões de euros e instou o PS a juntar-se na procura de uma solução.

“O PS agora também reconhece que esse problema existe” e defendeu que deve ser encontrada “uma solução que seja o mais consensual possível”, disse. “Infelizmente, isso não foi possível de alcançar até às eleições com o PS. Mas eu espero que seja possível logo a seguir”, disse.

Nesta intervenção, Passos Coelho não avançou nenhuma proposta concreta de reforma da Segurança Social, considerando apenas que “era bom que, independentemente de quem viesse a ganhar as eleições, as pessoas soubessem que esse problema pode ser resolvido e como é que pode ser resolvido”.