O secretário-geral do PS afirmou na quarta-feira à noite, no Porto, que os portugueses deviam “ter desconfiado quando o primeiro-ministro disse que tinha dado uma ajudinha para resolver o problema da Grécia”.

“Sempre que o primeiro-ministro diz alguma coisa, devemos interrogar-nos três vezes: será que ele está mesmo a dizer verdade. Pelos vistos, não estava”, comentou António Costa.

O líder socialista falava num debate sobre o tema Encontro de Gerações, que encheu o salão nobre do Ateneu Comercial do Porto e no qual respondeu a várias questões sobre a atualidade nacional e também sobre a Grécia.

A acusação de António Costa de que Passos Coelho não estava a falar verdade ao dizer que tinha sido sua a sugestão que desbloqueou, já na reta final, o acordo com a Grécia surge depois da informação dada pelo primeiro-ministro ter sido confirmada pela imprensa internacional que acompanhou a cimeira. Um dos jornalistas que o fez foi o editor de política europeia do The Guardian, que o fez na sua conta de twitter:

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Esta questão grega foi introduzida por um dos presentes, que citou declarações proferidas pelo ministro italiano das Finanças, Pier Carlo Padoan, e reproduzidas pelo Jornal de Negócios, segundo as quais só Itália, França e Chipre contribuíram para a obtenção de um compromisso com a Grécia na cimeira dos líderes do euro que decorreu no domingo.

Em entrevista ao jornal Il Sole 24 Ore, citada pela Reuters, Pier Carlo Padoan disse que os restantes países da zona euro ficaram ao lado da Alemanha na “posição mais dura” para a Grécia. No final, “apenas nós, os franceses e também um pouco o Chipre estávamos lá para atingir um compromisso”, afirmou.

Foi essa declaração do socialista italiano que António Costa decidiu aproveitar para defender que “uma das razões pela qual sempre achei de uma enorme imprudência a forma como o Governo tratou displicentemente a questão da crise grega é porque, obviamente, a partir do momento em que a Grécia deixe de estar na União Europeia ou, pelos menos, na zona euro, acabamos com um princípio fundamental de qualquer união monetária: as uniões monetárias são irreversíveis e quando abrimos o primeiro precedente não sabemos o que vem a partir daí”, afirmou.

António Costa lembrou depois que o presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi, recordou que a saída de um país do euro “seria entrar por águas nunca dantes navegadas”. “E mais vale não sair de terra firme e não nos metermos em aventuras neste momento”, disse então o líder do BCE.

“A melhor solução é mesmo a maioria absoluta”

O líder socialista disse também na noite de quarta-feira, no Porto, que nas próximas eleições “a melhor solução é mesmo o PS ter maioria absoluta”, que considerou “importante para não acrescentar à crise que já se vive uma crise política”.

Perante uma sala cheia, António Costa sublinhou que “aquilo que as pessoas todos os dias ” pedem ao PS “é uma frase simples: “corra com eles”, ou seja, com o atual governo.

“O que dá sentido à democracia é as pessoas poderem escolher e sentirem e perceberam que o voto faz sentido. O voto só faz sentido no PS se o PS correr com eles, não governar como eles, não seguir a política deles e fizer uma política alternativa. Portanto, nós não faremos qualquer coligação à direita”, afirmou, arrancando fortes aplausos.

O líder socialista também pôs de lado possíveis alianças à esquerda, alegando haver um “campeonato entre o PCP e o Bloco de Esquerda para saber qual é o mais anti-PS e esse campeonato não nos levada lado nenhum e frustra muitas pessoas”. António Costa disse ainda que essas pessoas acham que “faz sentido” esses partidos, PCP e Bloco de Esquerda, estarem disponíveis para um entendimento com o PS.

“Acontece que não estão”, reforçou, acusando os líderes dos comunistas e dos bloquistas, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, de dizerem que “o PS é igual à direita”. António Costa concluiu, por isso, que “a melhor solução é mesmo o PS ter maioria absoluta”.

O dirigente acrescentou, porém, que “a maioria absoluta é uma condição necessária, mas não é uma condição decisiva”. “Se houve erro que o PS cometeu quando teve a maioria foi não a ter aproveitado para ter reforçado o diálogo com as outras forças políticas. Ninguém tem a maioria para sempre, todo o poder é transitório”, completou.