A startup portuguesa Line Health acaba de aterrar nos escritórios da Bolt, nos Estados Unidos (EUA), para desenvolver o produto com o qual já convenceram a alemã Bayer e o norte-americano NeuroTexas Institute. É com o dispensador inteligente, que tem um alarme visual e sonoro para avisar que está na hora de tomar a medicação, que vão arrancar com um teste piloto nos EUA no início do próximo ano.

Entretanto, a LaserLeap Technologies, de Coimbra, prepara-se para lançar uma seringa a laser no mercado português, que permite a administração de fármacos através da pele sem agulhas. E a Exogenus Therapeutics, também de Coimbra, venceu recentemente o galardão mais antigo do país na área do empreendedorismo, o prémio Jovem Empreendedor, com a tecnologia que recorre ao sangue do cordão umbilical para tratar feridas crónicas. 

“Acho que a geração atual é a melhor geração de sempre, a mais bem preparada, que já é da era digital, que fez Erasmus, que foi para fora, viu outras coisas, que saiu da paróquia… Que está muito bem preparada, quer academicamente quer do ponto de vista de cabeça e mentalidade. E eu sou muito otimista em relação ao futuro”, disse Isabel Vaz, presidente da Luz Saúde, ao Observador. 

Inovação e saúde. Até que ponto hospitais e startups dão as mãos? A discussão foi lançada durante o debate promovido no âmbito do Protechting, o programa de aceleração de empresas que a Fosun, através da participada Fidelidade, lançou em parceria com a Beta-i. Objetivo: ajudar os negócios nas áreas da proteção e prevenção de pessoas e património, serviços, saúde e poupança a crescerem. 

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Isabel Vaz, líder da Luz Saúde, não hesita em dizer que “os hospitais são, de facto, grandes incubadoras de novas ideias e novas coisas“, mas que é preciso dar espaço e liberdade às pessoas para criarem dentro de portas, algo que pode não acontecer no setor público.

“Infelizmente, o setor da saúde, por razões históricas, é muito do Estado e o Estado tende a igualar tudo. A inovação implica que haja espaço para as pessoas atuarem de maneira diferente. Implica deixar que as pessoas tenham liberdade para pensar diferente. O séc. XXI é estarmos sempre na nossa zona de desconforto”, afirmou Isabel Vaz. 

Ao Observador, a presidente da Luz Saúde explicou que os mecanismos de contratação pública, muitas vezes movidos por questões de transparência e equidade acabam por não promover muito a entrada de projetos novos. “E mais do que despejar dinheiro em startups, elas precisam é de clientes. Isso é que é importante para as startups: dar-lhes clientes“, disse, referindo que o Estado poderia ser um facilitador deste público-alvo, sem ferir a defesa do dinheiro público. 

“O Estado, que ainda tem muitos serviços na área da saúde, pode ser um facilitador muito importante para estas startups terem clientes. E, portanto, tem de se fazer aqui alguma coisa nas formas de contratação, sem obviamente ferir os objetivos de transparência, de defesa do dinheiro público”, afirmou. 

Admitindo que o setor da saúde “tem, curiosamente, muita inovação, mas que é avesso à mudança”, Isabel Vaz refere que há “milhares de oportunidades e de ideias que podem ser implementadas” e que as tendências têm passado muito pela inovação em softwares clínicos, dispositivos médicos, sistemas de informação, gestão de risco, sobretudo relacionado com doenças crónicas, entre otros. 

“A forma como temos de ajudar os médicos a lidar hoje com quantidades brutais de informação e gestão de dados está na ordem do dia”, referiu. Mas para que o investimento chegue, é preciso que os empreendedores apresentem planos de negócio sólidos.

“Para o setor privado, [a inovação] é uma forma de sobrevivência de mercado. A única certeza que temos na vida é que alguém vai fazer disrupções e, portanto, se queremos continuar na linha da frente, temos de ser nós os disruptores”, referiu Isabel Vaz. 

A saúde é uma das quatro apostas do Protechting e José Villa de Freitas, responsável de marketing na Fidelidade, explica que as startups são uma boa forma de inovar e de explorar ideias novas, algo que nem sempre é possível de fazer organicamente.

O ponto importante é que [inovar] numa seguradora na área da saúde acaba por ter implicações relevantes nos resultados da empresa, sobretudo por causa do serviço que prestamos ao cliente. Se tivermos um hospital parceiro que presta um serviço de excelência ao nosso cliente, é natural que a avaliação da seguradora se reflita aí”, afirmou José Villa de Freitas. 

No programa de aceleração que estão a desenvolver em parceria com a Beta-i, diz que procuram projetos que melhorem a experiência do cliente, do acompanhamento à monitorização.

“São pequenas coisas, que até podem não ser grandes invenções, mas que melhoram imenso a experiência do doente ou que podem ser um fator de diferenciação”, refere. 

E não precisa de ser tudo novidade. O responsável de marketing da seguradora explica que há tecnologias inicialmente pensadas para outros setores que podem ser aplicadas na saúde. Até 15 de dezembro, quem tiver projetos na área da prevenção e proteção, saúde, serviços e poupança, pode concorrer ao Protechting. Depois de um workshop de cinco dias dias, são selecionadas 15 equipas que acedem ao programa de aceleração de dois meses. Os três melhores projetos são premiados com um roadshow em Xangai, onde fica a sede da Fosun.