O Uber não foi o primeiro serviço de economia-partilhada, nem nos transportes e menos ainda na prestação de serviços online. Mas foi, até ver, o mais polémico de todos, não só em Portugal, como no mundo. Os clientes dizem que é mais prático e quase sempre mais económico utilizar o Uber em vez de um taxi. A qualidade do serviço também é quase sempre melhor – e pode ser avaliada diretamente na aplicação, permitindo que os utilizadores votem na qualidade do serviço do seu condutor.

Mas há mais serviços que funcionam assim, na economia-partilhada, das viagens à saúde e ao alojamento local, sem esquecer a restauração e os vales-desconto. Há quem lhe chame a “uberização” da economia. Ou economia geek, porque é digital. Os consumidores querem cada vez menos intermediários entre a prestação do serviço e a sua aquisição, procurando serviços rápidos, simples e a custo reduzido — nem sempre são a custo reduzido, mas são-no quase sempre. E isso, mais do que uma tendência, é um negócio em crescimento a nível internacional.

Uma coisa está-lhe sempre associada: a tecnologia. Com uma aplicação no smartphone ou com uma simples ida a um website, é possível comprar e adjudicar quase todo o tipo de serviços. O investigador (precisamente em serviços) da Universidade de Cambridge no Reino Unido, Andy Neely, disse recentemente à BBC que “a economia e o consumo estão cada vez mais voltadas para os clientes tipo ‘Uber’ e aí as infraestruturas digitais têm um peso enorme nesta mudança. E não é só a oferta de um serviço que está em causa. O elemento-chave é a satisfação do cliente.”

Mas a Uber não está só. Longe disso. Os Airbnb, no alojamento local, são cada vez mais populares. Lisboa que o diga. O proprietário da casa coloca-a na Internet, aluga-a temporariamente, o pagamento é feito digitalmente, sem intermediários, e o custo é quase sempre mais baixo que num hotel. Na Austrália, as empregadas domésticas podem ir fazer a faxina a sua casa, a qualquer hora. É tão simples como instalar a aplicação no smartphone, identificar a localização e a hora que mais lhe convier, e a empresa envia alguém para arrumar de vez com a confusão lá em casa. O pagamento é, claro está, feito digitalmente.

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Nos Estados Unidos está a crescer uma aplicação que permite reservar voos em jatos privados. E é também por lá que surgiu a Pager, que lhe permite ter um médico por encomenda, a qualquer hora. São médicos que continuam a trabalhar em hospitais, em consultórios, mas que através da Pager conseguem, nas horas vagas, atender quem precisa de cuidados de saúde. É tudo marcado online, mas o médico vai a casa em carne e osso. A qualquer hora.

O problema da segurança (não só de quem é funcionário, mas sobretudo a digital… dos clientes)

O problema maior está na segurança digital. A dos clientes, claro. Andy Neely, da Universidade de Cambridge, à BBC, descreveu este tema como sendo “espinhoso”. E acrescenta: “Há cada vez mais gente conetada na economia-partilhada. As empresas, através das apps e das páginas web, sabem onde eu estou a qualquer hora, em qualquer lugar. Têm acesso ao meu perfil, aos dados do meu cartão de crédito. Há naturalmente o perigo dessa informação ser pirateada, mal usada ou multiplicada. É urgente pensar em regulamentar este setor.”

Outro problema da Uber-economia está nas próprias empresas. Muitas delas têm uma grande procura inicial, mas tendem a estagnar. A Uber, por exemplo, “só” faturou 188 milhões de euros em 2015, o que faz dela uma empresa de nicho no mercado dos transportes. Outra empresa, a Groupon, também norte-americana, mas especializada em vales-desconto, chegou a estar avaliada em mais de mil e 200 milhões de euros em 2010, quando ainda tinha poucos anos de “vida”. No começo de novembro, cada ação da Groupon valia 2,845 dólares, o valor mais baixo em três anos.

A desvalorização acentuada aconteceu depois de a empresa divulgar os resultados do terceiro trimestre – que ficaram aquém das estimativas. Nos primeiros nove meses do ano, a Groupon apresentou um resultado líquido de 61,1 milhões de euros, uma evolução positiva face aos prejuízos registados no mesmo período de 2014. Todavia, considerados os resultados trimestrais, a empresa de cupões apresentou perdas de 25,1 milhões de euros. No mesmo período de 2014 a queda tinha sido de 19,2 milhões de euros.