Ele foi o amante e intérprete ungido de Luchino Visconti, que lhe deu papéis principais em “Os Malditos”, “Luís da Baviera” e “Violência e Paixão”; rodou com De Sica, Losey e Coppola, e ao lado de Elizabeth Taylor, Henry Fonda, Al Pacino, Glenda Jackson, Michael Caine, Romy Schneider, Burt Lancaster, Jean-Louis Trintignant, Dirk Bogarde, Kirk Douglas ou Max Von Sydow; foi fotografado por Warhol e David Bailey; e no auge da fama teve o “jet set” a seus pés. Hoje, aos 71 anos, encafuado num pequeno e decrépito apartamento de Salzburgo, atulhado de recordações, medicamentos e de lixo, rodeado quase só de fotografias de mortos, Helmut Berger é um destroço, e um velho ácido, egocêntrico e arrogante, que consegue até fazer perder a cabeça ao seu compatriota Andreas Horvath, que o tenta filmar no documentário “Helmut Berger, Actor” (Secção Director’s Cut, Cinemateca, 19.00).

https://youtu.be/sK3Xd1vbkcE

É uma missão impossível, por causa do feitio imprevisível de Berger, que se recusa terminantemente a contar qualquer história que seja sobre a sua carreira, a sua relação com Visconti e os seus dias de ouro no cinema (“É um negócio diabólico”, diz a certa altura), e ora oferece sexo oral ao realizador, ora lhe propõe abrir um restaurante num dos inúmeros telefonemas gravados no atendedor de mensagens de Horvath. Este limita-se praticamente a recolher migalhas biográficas e informativas junto da paciente empregada do ator (à qual o filme é dedicado postumamente), e a ouvi-lo queixar-se dos males da idade e da falta de dinheiro, rugir insultos, lamentar-se que a família de Visconti lhe roubou tudo ou, num raro momento de vulnerabilidade, falar com carinho da mãe.

Filme biográfico redondamente falhado, “Helmut Berger, Actor” é, não obstante, um retrato devastador, patético, por vezes insuportável (a cena final de Berger a masturbar-se junto ao retrato autografado de Visconti, pedindo debalde a Horvath que lhe segure na outra mão), de um homem que teve tudo, beleza, fama, sexo, dinheiro, adulação, e hoje está inscrito na Segurança Social, crivado de doenças, encafuado no seu apartamento, chapa ganha, chapa gasta, amargurado com tudo e todos, rodeado de fantasmas dos tempos de glória, aparecendo ocasional e fugazmente em filmes ou em “reality shows” como o “Big Brother das Celebridades” austríaco. Um dos filmes mais arrasadores do IndieLisboa.

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