Logo no primeiro passeio pelo centro histórico de Bogotá, descobrimos no bairro da Candelária, frente ao Teatro Colón, um painel de azulejos que retrata Lisboa no tempo das caravelas, oferecido por Portugal nos 450 anos da fundação da capital colombiana e encimado por uma esfera armilar esculpida. O facto de estes nossos símbolos nacionais estarem paredes-meias com o Ministério dos Negócios Estrangeiros não deixa de ser simbólico. As relações entre os dois países intensificaram-se na última década, e não foi só nas transferências de futebolistas colombianos — Portugal é hoje o sétimo país com mais exportações a entrar na cidade de Bogotá.

Uns passos mais à frente, quando passávamos pelo Centro Cultural Gabriel García Márquez, fomos novamente surpreendidos, desta vez por uma exposição sobre fado. Percebemos que tinha havido um festival de fado poucos dias antes, em que Marco Rodrigues e Carminho foram cabeças de cartaz. Não resistimos a enviar esta fotografia ao avô materno da Luísa e do Manel, que aprendeu a difícil arte da guitarra portuguesa aos 50 e é hoje presença assídua em Alfama.

Bem no centro de Bogotá, a exposição Casa de Fados acompanhou o Festival de Fado que teve lugar em junho.

Bem no centro de Bogotá, a exposição “Casa de Fados” acompanhou o Festival de Fado que aqui decorreu em junho.

Um almoço especial

Uma querida amiga pôs-me em contacto com o Embaixador de Portugal na Colômbia, João Ribeiro de Almeida, que achou graça à nossa aventura sul-americana e convidou-nos para almoçar na sua residência oficial, juntamente com o representante da AICEP, Paulo Borges, e o Luís Santos, estagiário do programa INOV-Contacto.

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Deixámos as crianças com os nossos amigos por um par de horas (a Maria de coração nas mãos, eu aliviado, já se sabe que mães e pais têm um sentir diferente) para irmos até ao bairro de Santa Ana, o Restelo de Bogotá. Entrámos hesitantes, de jeans e alpercatas, mas o anfitrião pôs-nos logo à vontade e a conversa fluiu como se já nos conhecêssemos.

Falámos dos acordos de paz na Colômbia e de como Portugal está empenhado em apoiar ativamente esse processo. Comentámos que o crescimento económico neste país — apesar de menor que nos anos anteriores, ainda é de 2,5% — traduz uma oportunidade enorme para as empresas portuguesas, apesar dos entraves burocráticos que dificultam a entrada de alguns produtos. Que o diga a Jerónimo Martins, que em três anos abriu centena e meia de lojas, ou o FC Porto, que abriu aqui a primeira escola Dragon Force no estrangeiro.

Outros exemplos de casamentos felizes entre Portugal e Colômbia (literalmente, nestes casos) são uma associação de criadores de cavalos lusitanos, em Cali, a Cátedra Pessoa na Universidad de los Andes (encabeçada por Jerónimo Pizarro, investigador colombiano da nossa idade, que é um dos maiores especialistas mundiais no poeta) e um novo restaurante português que abriu este ano em Bogotá.

Pose oficial com o Embaixador de Portugal, João Ribeiro de Almeida, e os representantes da AICEP, Paulo Borges e Luís Santos. Mas o almoço foi bem informal.

Pose oficial com o Embaixador de Portugal, João Ribeiro de Almeida, e os representantes da AICEP, Paulo Borges e Luís Santos. Mas o almoço foi bastante informal.

Que grande galo!

Segui a sugestão do Embaixador e marquei encontro com Luís de Matos no Chapinero, bairro de casas de estilo britânico, zona de escritórios e de restaurantes cool. O negócio da restauração não é novidade para este empresário português, natural de Valado de Frades, que já foi dono de outros restaurantes e bares, geriu cantinas hospitalares e explora um centro de convenções na capital da Colômbia. Desta vez, foi o coração que falou mais forte: depois de levar a sua mulher a conhecer Portugal, Lina voltou apaixonada pela gastronomia lusitana e desafiou o marido a abrir um espaço que lhe fizesse justiça, aproveitando também o maior fluxo de portugueses (quer pela vinda de empresas nacionais, quer pela debandada da vizinha Venezuela). Assim nasceu O Galo, o único restaurante português na Colômbia, inaugurado em fevereiro deste ano.

O espaço está aberto de segunda a sábado, das 12h00 às 22h00, e os pratos de bacalhau são os que têm mais saída. “Quem já foi a Portugal, vem à procura de bacalhau”, explica-me o homónimo do nosso ilusionista mais famoso, que também tem de fazer um pouco de magia para servir produtos nacionais aos seus clientes. O custo do transporte de mercadorias é um problema: é mais barato o frete do navio entre a Europa e um porto colombiano, do que o trajeto de camião entre esse porto e Bogotá. Existem também outras barreiras que tardam em ser ultrapassadas: o vinho, por exemplo, tem um selo específico da região onde paga imposto, e transportá-lo entre diferentes regiões é uma dificuldade.

Ainda assim, Luís de Matos garante que é muito feliz na Colômbia e que já não poderia viver noutro sítio. Está visivelmente contente com o sucesso do restaurante, que partilha o espaço com uma loja de produtos portugueses e com um requintado bar de coquetéis, de estilo inglês, apontado à classe alta de Bogotá. Em poucos meses, o Red Room tem estado sempre cheio e por lá já passaram vários senadores, conta-me o proprietário.

7 fotos

E os miúdos?

No domingo, a Luísa e o Manel tiveram de se despedir das amiguinhas com quem se fartaram de brincar nas primeiras semanas da nossa viagem. Graças a esta saudável mistura, a Luisinha passou a dizer yo em vez de eu, a pedir postre em vez de sobremesa e a avisar que vai fazer popis em vez de… “número dois”. Está preparada para jogar futebol em qualquer equipa da Liga espanhola.

Já sem os nossos amigos latinos, estamos agora em Cartagena, onde o Manel perdeu o medo do mar, com a temperatura da água a 29ºC. Mas sobre isso conto-lhe na crónica da próxima semana.

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