Há o verde esmeralda, o verde tropa, o verde azeitona, o verde água, o verde natal, o verde lima, o verde bosque, o verde argila, o verde esparregado, o verde pera, o verde pistacchio, o verde bosque, o vede musgo, o verde maçã, o verde limão, o verde esverdeado e mais uns quantos verdes. E há o verde Sporting de Jesus. Se há um ano, comete a proeza de ganhar fora a Benfica e Porto, pela primeira vez em 82 edições de campeonato, agora é o sensacional quase no Bernabéu. Quase 1-0. Quase a vitória. Quase o empate.

O Sporting cai na casa do campeão europeu sem saber muito bem como nem porquê. Quer dizer, o comportamento do Sporting é digno, exemplar ao longo de todo o jogo. De fio a pavio. Na baliza, Patrício nem é incomodado por aí além. Pelo menos, até aos 85/86 minutos, altura em que James entra por Kroos e desata o nó madridista. Antes, o guarda-redes português apanha umas bolas perdidas e defende dois remates sem ângulo de Bale. Lá à frente, Gelson é um perigo constante, graças às bruscas mudanças de velocidade, e obriga Casilla a duas defesas de inegável mérito. Sem esquecer os cruzamentos medidos a regra e esquadro, aos quais Bas Dost nunca chega a tempo, por escassos centímetros. Do Madrid, nenhum sinal de vida. Mesmo. Parecem fantasmas. De brancos vestidos e tudo. Bate certo. Sem alma nem garra. O próprio Ronaldo parece arredio do jogo. Sem vontade.

Disso se aproveita o Sporting para se agigantar. Com personalidade e bola no pé. Sempre. Esse é o clique mais fantástico de uma exibição personalizada. O Sporting não cai no erro de se agarrar à bola, aventurar-se em rodriguinhos fastidiosos, perder tempo, fazer faltas e reclamar (só mesmo Jesus, expulso aos 57’ por protestar o amarelo de William). O Sporting joga à bola. Em Madrid. No Santiago Bernabéu, onde nunca uma equipa portuguesa ganhara em oito visitas (agora nove). E onde nunca uma equipa tem a “indecência” de se adiantar no marcador. Até ao 1-0 de Bruno César aos 48 minutos, numa jogada iniciada por Adrien e polvilhada com toques de Gelson mais Bryan. Olha olha, tu queres ver?

Há momento de inigualável tranquilidade ímpar, sobretudo na defesa do 1-0. Como aquele lance em que João Pereira, apertado por um cacho de madridistas, atrasa de cabeça para Patrício na maior das calmas. A jogada zen repete-se já perto do fim. Morata ganha a João Pereira e cruza para a área, Rúben Semedo afasta de qualquer maneira para a entrada da área, onde está William. Que dá para Elias. Que devolve a William. Que tabela com Elias. E por aí adiante. O Madrid nem cheira. Assim dá gosto ver. Estamos com 87 minutos. Se lermos o jogo em posse de bola, ganha o Madrid. Se acrescentarmos o prefixo activa à posse de bola, aí o Sporting é rei e senhor. A maior parte dos ataques desenvolvem-se com competência. Há ali trabalho de campo. Bryan não finta por fintar. Adrien não se adianta por adiantar. William não recua por recuar. Gelson não corre por correr. Só corre para chegar a um objetivo. Daí os dois remates à baliza. Atenção ao termo: à baliza. Nada de atirar ao lado e por cima. Isso, o Madrid é useiro e vezeiro. Exceção feita ao remate ao poste de Ronaldo (83’). No meio, Adrien e William cortam a ligação a Modric. Hey, isto faz “mazé” lembrar o Portugal-Croácia do Euro. Na defesa, Coates é o líder incontestável. Com classe, sempre de cabeça levantada e a dobrar muy bien Rúben Semedo. Ninguém vê Benzema, completamente apagado.

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Às entradas de Moratas e Vázquez (cuidado, este apelido é tricky: Martín Vázquez é o autor do 1-0 no primeiro Real-Sporting em 1994), o Sporting responde com os reforços Markovic e, depois, Elias. Saem Gelson e Adrien. O leão encolhe as garras ligeiramente. Mais ainda com o terceiro cartucho de Zidane. Chama-se James e joga à bola que é uma maravilha. Em campo, o colombiano dá um safanão na crise. Aqui, no capítulo das substituições, justiça seja feita, o Real Madrid dá-se melhor. E o melhor exemplo é o 2-1 construído pelos suplentes. Centro perfeito de James e cabeceamento de Morata. O salto de Patrício ainda lhe permite tocar na bola antes de esta bater no poste e entrar ingloriamente. Um pouco à imagem do 1-1 de Ronaldo. Novamente no penúltimo minuto. Novamente ao Sporting. Novamente a Patrício. Novamente a pedir desculpa aos adeptos do Sporting. Tal como aquele 2-1 do United em Old Trafford em 2007, outra noite em que o verde, código, verde dá erro.

Sob a arbitragem do italiano Paolo Tagliavento, aqui seguem os actores

REAL MADRID: Casilla; Carvajal, Sergio Ramos (cap), Varane e Marcelo; Modric, Casemiro e Kroos (James, 77’); Ronaldo, Benzema (Morata, 67’) e Bale (Vázquez, 67’). Treinador: Zinedine Zidane (francês)

SPORTING: Rui Patrício; João Pereira, Coates, Rúben Semedo e Zeegelaar; Adrien (cap) (Elias, 74’), William e Bruno César; Gelson (Markovic, 69’), Bas Dost e Bryan (Campbell, 90’+2). Treinador: Jorge Jesus (português)

Marcadores: 0-1, Bruno César (47’); 1-1, Ronaldo (89’); 2-1, Morata (90’+4)