Quando, antes da viagem, mostrámos aos amigos a ilustração que encabeça o nosso blogue, vários questionaram porque tínhamos lá posto um pinguim. Na América do Sul?! De facto, a imagem que a maioria de nós tem do continente tem mais a ver com o seu lado quente e tropical, ou com lugares exóticos e misteriosos, como Machu Picchu ou as cataratas do Iguaçu. Mas a nossa experiência, agravada por termos vindo no inverno do Hemisfério Sul, tem tido mais momentos de frio do que de calor, e foi nesse cenário que tivemos os encontros mais singulares da viagem.

Mas já lá vamos. A primeira novidade foi a neve. Já a tínhamos visto ao longe, no cimo das montanhas do Peru e do Chile, mas foi ao entrar na Argentina que começámos a ver muita neve junto à estrada lindíssima que une a cidade chilena de Osorno a Bariloche. Para nós não era tanta a novidade, mas o Manel nunca tinha visto neve e a Luísa já mal se lembrava da ida à Serra da Estrela. Junto a Bariloche está a maior estância de esqui da América Latina, Cerro Catedral, onde fomos passar uma tarde. Já era fim de temporada e o espaço vivia sobretudo das viagens de finalistas do secundário, mas havia neve suficiente para a Luísa e o Manel deslizarem e fazerem um boneco de neve. Uma hora bastou para as crianças ficarem de barriga cheia.

Despedimo-nos então do cenário de montanha, que foi presença quase constante desde o início, na Colômbia, e chegámos à costa do nosso Atlântico. A cidade de Puerto Madryn fica numa zona que recebeu muitos imigrantes do País de Gales e ainda hoje se veem lojas com nomes galeses, a vender bolos típicos daquele país. Mas a principal atração da região é a espantosa fauna marinha que escolhe esta região para se reproduzir, em particular a baleia franca austral e o pinguim de Magalhães. E a época do ano em que viemos era perfeita para observar uns e outros.

Feitas as contas, num país onde a inflação é incrível (os preços triplicaram face ao que vinha no nosso guia de 2013) optámos por alugar um carro para ir explorar a Península Valdés, onde as baleias são rainhas dos mares. Pelo caminho, fomos vendo guanacos, avestruzes e tatus. Mas foi o passeio de barco para avistamento de baleias que se revelou único e valeu toda a fortuna que nos custou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Primeiro passou por nós um grupo de pinguins a nadar, depois vimos um grupo de lobos-marinhos na costa, o que já por si era original. Surgiram então as baleias, dois pares de mãe e cria, mesmo junto ao nosso barco. Vê-las a nadar a escassos metros já era uma emoção, mas uma das crias ainda nos brindou com uma sequência de saltos para a água que tão cedo não esqueceremos. Ora veja o vídeo e a fotogaleria que se seguem.

No dia seguinte, fizemos 180 quilómetros para sul, até à reserva de Punta Tombo. É a maior reserva de pinguins de Magalhães do mundo, com cerca de um milhão de exemplares; o nome da espécie deve-se à expedição de Fernão de Magalhães, em 1520, onde foram identificados estes animais monógamos. Em setembro, começa a temporada de reprodução, e muitos casais conseguem voltar ao mesmo ninho utilizado no ano anterior.

O passeio pela reserva faz-se por um caminho de quilómetro e meio, delimitado por cordas, mas os pinguins cruzam-se várias vezes no nosso caminho e quase parece que vêm atrás de nós. Estar tão perto e ouvir o seu grito de acasalamento e demarcação de território, que lembra vagamente um burro a zurrar, foi mais uma experiência única que vamos levar desta viagem.

A Maria e a Luísa apanharam dois casais de pinguins em plena atividade amorosa; eu vi um pinguim atrevido a tentar invadir um ninho já ocupado por um casal, e a ser expulso à bicada pelo macho. A fotogaleria abaixo documenta a nossa expedição “O Verbo Ir – Vida Selvagem”.

Daqui vamos seguir para Buenos Aires, onde a fauna será bem diferente. Continue a acompanhar a nossa viagem no blogue O Verbo Ir, no Facebook e no Instagram.