A Líbia arrisca ver eclodir um conflito interno maior se não acabar com as divisões políticas, advertiu, esta sexta-feira, a organização não-governamental de prevenção de conflitos International Crisis Group (ICG), defendendo a necessidade de novas conversações de paz.

“Poucos progressos vão ser alcançado sem envolver os mais importantes atores armados no diálogo”, disse o ICG num relatório, defendendo ser “imperativo” o reinício de um processo de paz no país.

A Líbia encontra-se mergulhada no caos desde a morte, em 2011, do coronel Muammar Kadhafi, que submeteu o país à sua ditadura durante 42 anos, com uma série de milícias a lutarem pelo poder no país que também vive sob a ameaça dos extremistas.

O ‘think-tank’ com sede em Bruxelas, afirmou, que o acordo para resolver as divisões do país “mais do que ter contribuído para solucionar conflitos internos reconfigurou-os”.

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Sob a égide da ONU, um acordo político entre os dois governos na Líbia, foi assinado a 15 de dezembro de 2015 em Skhirat (Marrocos).

Um governo de unidade nacional foi formado em Tripoli, no final de março, por um período de transição de dois anos.

Contudo, luta para impor a sua autoridade sobre a totalidade do país e continua impotente face às principais dificuldades com que os líbios se deparam no dia-a-dia, como elevados preços, falta de serviços e sobretudo insegurança.

Isto porque o parlamento, instalado em Tobruk, no leste da Líbia, apesar de também reconhecido pela comunidade internacional, não lhe dá o seu voto de confiança, recusando reconhecer e apoiar um executivo rival.

Antes de dar a confiança do parlamento ao governo de unidade nacional, alguns parlamentares querem novas negociações para resolver a questão da nomeação do chefe das forças armadas.

Em causa, deputados partidários do controverso marechal Khalifa Haftar, que tem o apoio do parlamento.

“O acordo, segundo o qual um governo interino (…) estabeleceria uma nova ordem política considerando as milícias não é mais aplicável nos termos em que está”, considera o IGC, defendendo ser “necessário lançar novas negociações que envolveriam os principais atores”.

Neste sentido, a ONG advertiu para a possibilidade de um risco de conflito maior que oporia as forças do marechal Haftar – que tomou, nos últimos meses, os principais terminais de petróleo do leste do país – e as forças do governo de unidade nacional, prestes a retomar das mãos dos ‘jihadistas’ a cidade de Sirte, a 450 quilómetros a leste de Tripoli.

O relatório do ICG não excluiu a possibilidade de as forças que combatem atualmente em Sirte com o apoio de milícias de oeste, venham a avançar rumo a leste e a enfrentar as forças de Haftar, ou de estas últimas avançarem rumo a oeste, em direção a Tripoli”.

“As tentativas de aplicar [o acordo] sem o aval do parlamento e de excluir Haftar devem parar. Da mesma forma, (…) Haftar deve ser levado à mesa de negociações pelos seus partidários”, defende a organização não-governamental.

O ICG refere que, de qualquer modo, existe a necessidade de “os dois campos fazerem concessões, sobretudo no que diz respeito à segurança”.