Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo e Ronaldo. Cristiano vezes quatro. Com inteiro mérito. É a consagração do capitão de Portugal, vencedor da quarta Bola de Ouro da sua história. O ano 2016 assenta-lhe como uma luva, o prémio da France Football idem idem aspas aspas.

Qualquer coisa como 51 golos mais 17 assistências em 53 jogos, sem esquecer os dois títulos de campeão europeu (Real Madrid e Portugal). Passamos aqui em revista os momentos mais influentes de Ronaldo, mês a mês. Os altos e baixos. Os golos memoráveis e os penáltis falhados. As exibições históricas e a lesão na final do Euro. O carregar o Real Madrid às costas na noite do 3-0 ao Wolfsburgo na Liga dos Campeões e o carregar a selecção às costas na tarde do 3-3 vs Hungria no Euro. No total dos 11 meses (a votação da France Footaball acaba em Novembro), é fácil entender o porquê de acabar em primeiro lugar, à frente do argentino Messi e do francês Griezmann.

Janeiro (5 jogos, 5 golos, 3 assistências)

A candidatura à Bola de Ouro é lançada bem cedo, com uma assistência em Valencia, no primeiro jogo do ano, no dia 3. Seguem-se mais duas, vs Deportivo. Num abrir e fechar de olhos, o rapaz lembra-se de acertar na baliza: bis ao Sporting Gijón (5-1) e hat-trick ao Espanyol (6-0), ambos no Bernabéu.

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Fevereiro (5-4-1)

A categoria mede-se aos palmos, entre exibição de golos e de gala. A mais saliente é durante o 4-2 ao Athletic Bilbao, no Bernabéu, com dois golos e uma assistência. No regresso da Liga dos Campeões, um golo no Olímpico de Roma evidencia o apetite para grandes cometimentos.

Março (7-8-2)

A aventura europeia do Madrid ganha força, com um golo e uma assistência no 2-0 à Roma. Na Liga espanhola, dá-se o incrível registo de quatro golos ao Celta (7-1) entre um golo ao Levante e outro ao Sevilha. Pela selecção, falha um penálti com a Bulgária e dá a volta com um golo à Bélgica.

Abril (6-6-2)

Outro mês de categoria internacional. Começa lá em cima, com o golo da vitória em Camp Nou (2-1), na primeira derrota de Luis Enrique em 39 jogos, e prolonga o estado de graça com o inesquecível hat-trick ao Wolfsburgo (3-0 apaga o 0-2 da Alemanha na 1.ª mão), rumo à meia-final da Liga dos Campeões. Depois, faz dois-em-um com golo (1) e assistência (duas) no 4-0 ao Eibar.

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Maio (4-4-0)

É o mês da consagração definitiva. A nível de clubes, está claro. Além de terminar a Liga espanhola com quatro golos em 180 minutos, com dois bis seguidos vs Valencia e Deportivo, é ele quem entrega a 11.ª Taça dos Campeões ao Real Madrid com a marcação do último penálti no desempate com o arqui-rival Atlético, em Milão.

Junho (6-4-2)

A partir de agora, só interessa a selecção. O mês começa bem, com um bis à Estónia no particular dos 7-0 na Luz. Segue-se o Europeu propriamente dito e Portugal não sai da cepa torta, com três empates na fase de grupos. Pelo meio (0-0 vs Áustria), até se falha um penálti, ao poste: bola de Ronaldo para um lado, guarda-redes para o outro. Quatro dias depois, a reacção de sempre com golos. E que golos. Um de calcanhar, sublime (o momentâneo 2-2), o outro de cabeça, colossal (o definitivo 3-3). Antes, uma assistência divinal para o 1-1 de Nani. A selecção entra na fase a eliminar e aí Ronaldo tem uma palavra a dizer, tanto vs Croácia (é ele quem recupera a bola para lançar o contra-ataque do 1-0 de Quaresma aos 117′) como vs Polónia (é ele quem marca o primeiro penálti do desempate, depois de ir buscar Moutinho ao banco de suplentes para entrar na lista dos batedores de Santos).

Julho (2-1-1)

Dois jogos, duas vitórias. Uma com Ronaldo, outra sem. Calma, vamos por parte. Na meia-final, 2-0 vs Gales com direito a golo de cabeça (outro com uma elevação do outro mundo) e assistência para Nani. Com um lugar na final, Portugal joga com a anfitrião França, em Saint-Denis. É um momento glorioso para todos nós, Ronaldo incluído. Só que o sonho do capitão acaba cedo. Bem cedo. Aos oito minutos, é vítima de uma entrada de Payet. A dor agudiza-se até mais não. Substitui-o Quaresma aos 26 minutos, e Ronaldo sai entre lágrimas e uma traça poética na maçã do rosto. Só voltaria ao relvado para ser o adjunto de Santos durante o prolongamento. O golo de Éder eleva-o como nunca: bicampeão europeu no mesmo ano (Liga dos Campeões pelo Real e Euro por Portugal). Não é para todos, é só para um

Setembro (5-3-0)

Afastado por lesão, ainda aquela pancada de Payet na final do Euro a 10 Julho, falha as duas primeiras jornadas da Liga espanhola e só regressa à 3.ª. Com um golo, claro, no 5-2 ao Osasuna em Madrid. Quatro dias depois, joga com o Sporting, para a Liga dos Campeões. Aos 88′, sofre uma falta tão clara como desnecessária do recém-entrado Elias. Na marcação do livre, pim pam pum. É golo, o 1-1. Pela terceira vez, Ronaldo recusa o festejo e vai tão-só para o meio-campo, à espera do reinício. Voltaria a assinar um golo na Liga dos Campeões, em Dortmund, para fechar o mês em beleza.

Outubro (7-9-4)

É o mês da selecção, de qualificação para o Mundial-2018. Com Andorra, entra no restrito lote de jogadores com quatro golos num só jogo: Eusébio, Pauleta, Nuno Gomes e Ronaldo. Ei-lo, sempre a fazer história. Na jogo seguinte, marca um às Ilhas Faroé. Pelo Real Madrid, está mais altruísta que nunca: no 5-1 ao Légia, zero golos, duas assistências. Algo que já acontecera no 1-1 com o Eibar e 6-1 ao Betis, em Sevilha. Na segunda quinzena do mês, o 7 dá-lhe com força e assina um hat-trick ao Alavés, em Vitoria.

Novembro (6-7-2)

No último mês da votação, Ronaldo carrega com força no acelerador. Um hat-trick no Calderón (3-0 ao Atlético) e um bis ao Sporting Gijón (2-1) garantem seis pontos ao Madrid num piscar de olhos. Na Liga dos Campeões, uma assistência no improvável 3-3 em Varsóvia, num jogo à porta fechada e em que Ronaldo é capitão de equipa. Na selecção, um bis à Letónia no Algarve (4-1) e a certeza de que a Bola de Ouro é sua e de mais ninguém.

O outro lado da Bola de Ouro

Muito bem, a Bola de Ouro é um marco na carreira de qualquer um. Será assim mesmo? A verdade é que nomes incontornáveis como Pelé e Maradona nem sequer aparecem na lista de honra. Então porquê? Quando a revista semanal “France Football” cria o prémio Bola de Ouro, através de uma ideia do jornalista Gabriel Hanot (também ele o impulsionador da Taça dos Campeões, em 1955), só o europeu é tido e achado neste processo. Não há cá sul-americanos nem africanos, à excepção daqueles com passaporte de países do Velho Continente, casos de Di Stéfano (espanhol), Eusébio (português) e Sivori (italiano).

A Bola de Ouro só abre as portas aos não-europeus em 1995 (precisamente no ano da vitória do liberiano George Weah) mas até 2006 o prémio continua a dar-se apenas e tão-só aos que jogam na Europa. Injusto, tremendamente injusto. Sobretudo para nomes incontornáveis como Pelé e Maradona. Passamos aqui em revista a lista dos injustiçados.

1958 KOPA (PELÉ)

Nada a dizer sobre os títulos de Stanley Matthews em 1956 e o de Di Stéfano em 1957 mas alto lá e pára o baile em 1958. Très bien, Kopa ganha a Taça dos Campeões e até leva a França ao terceiro lugar do Mundial-58. Quem é o campeão desse evento? O Brasil. De quem? De Pelé, um jovem de 18 anos e autor de 66 golos (em 46 jogos), incluindo cinco na fase final.

1962 MASOPUST (GARRINCHA)

Nada a dizer sobre os títulos de Di Stéfano em 1959, Suárez em 1960 e Sivori em 1961 mas alto lá e pára o baile em 1962. Quer dizer, o médio checo do Dukla Praga é uma das estrelas do Mundial-62 mas não é a estrela – essa é Garrincha. Com ele em forma, o relvado transforma-se num circo e a bola é um animal obediente, enquanto os adversários (os Joões) esbarram uns contra os outros. O “Anjo das Pernas Tortas”, numa alusão à perna direita ser seis centímetros mais curta que a esquerda e ambas arqueadas, ou o “Chaplin do futebol” é o verdadeiro herói brasileiro/mundial em 1962, com exibições que levam a imprensa a classificá-lo de extraterrestre.

1963 YASHIN (PELÉ)

Alto lá e pára o baile. Quer dizer, a URSS é campeã europeia em 1960 mas só agora, três anos depois, é que os jornalistas o acham competente para ganhar o título… Que deveria viajar para Pelé. De novo ele? Pois claro, campeão sul-americano e mundial pelo Santos mais 51 golos em 36 jogos. Dúvidas?

1970 MÜLLER (PELÉ)

Nada a dizer sobre os títulos de Law 64, Eusébio 65, Charlton 66, Albert 67, Best 68 e Rivera 69 mas alto lá e pára o baile em 1970. Quer dizer, Müller é o melhor marcador do Mundial, sim, mas o campeão desse evento é o Brasil de Pelé. Caçado em campo no Mundial-66, Pelé espera quatro anos para soltar o grito de revolta e confirmar o seu estatuto. E pensar que até está em dúvida, porque vê mal! No México, o 10 desenha as mais belas jogadas do torneio. Umas sem golos – remate antes do meio-campo ao verificar o adiatamento de Viktor ou a finta de corpo mais fascinante da história ao uruguaio Mazurkiewicz -, outra com golo como aquele golo à Itália, na final, em que salta meio metro mais alto que Burgnich (o azzurro com mais poder de elevação daquela selecção) e faz o 1-0 com a cabeça.

1977 SIMONSEN (ZICO)

Nada a dizer sobre os títulos de Cruijff 1971, Beckenbauer 1972, Cruijff 1973, Cruijff 1974, Blokhin 1975 e Beckenbauer 1976 mas alto lá e pára o baile em 1977. Quer dizer, os dinamarqueses até são malta fixe, sobretudo Simonsen (campeão alemão pelo Borussia M”Gladbach), mas Zico é eleito o melhor jogador do campeonato brasileiro e ainda é o melhor marcador do ano com 48 golos.

1978 KEEGAN (KEMPES)

Alto lá e pára o baile. Quer dizer, o Hamburgo do inglês Kevin Keegan nada ganha na Alemanha nem na Europa, enquanto o mundo assiste à inédita coroação da Argentina como campeão mundial. A figura é Mario Kempes, melhor jogador e melhor marcador do torneio. Como se isso fosse pouco, ainda é o artilheiro da Liga espanhola ao serviço do Valencia. Campeón!

1981 RUMMENIGGE (ZICO)

Nada a dizer sobre os títulos de Keegan 1979 e Rummenigge 1980 mas alto lá e pára o baile em 1981. Quer dizer, Rummenigge até é bom rapaz (campeão alemão e melhor marcador do campeonato), mas Zico, outra vez ele, guia o Flamengo ao título sul-americano e mundial.

1986 BELANOV (MARADONA)

Nada a dizer sobre os títulos de Rossi 1982 e Platini 1983, 1984, 1985 mas alto lá e pára o baile em 1986. Belanov?!?! Ele é bom, sim senhor, e dá nas vistas no México-86 mas esse Mundial tem a particularidade de evidenciar a maior figura pós-Pelé. É ele Maradona. O argentino faz trinta por uma linha e mereceria a Bola de Ouro.

1987 GULLIT (MARADONA)

Alto lá e pára o baile. Gullit é uma força da natureza e muda o Milan para melhor mas Itália assiste ao título inédito do Nápoles, um clube liderado por Maradona, que também levanta a Coppa. Além do mais, Maradona nunca junta Benfica ao Dortmund nem Porto à Juventus no sorteio dos 1/8 final da Liga dos Campeões. Mais um ponto a favor do argentino.

1992 VAN BASTEN (RAÍ)

Nada a dizer sobre os títulos de Van Basten 1988, Van Basten 1989, Matthäus 1990, Papin 1991 e Van Basten 1992 mas alto lá e pára o baile em 1992. Quer dizer, Van Basten é um fenómeno mas o ano é de um brasileiro chamado Raí, campeão paulista, sul-americano e mundial. E mais: na final da Taça Intercontinental vs.Barcelona, os dois golos da vitória são da sua autoria (2-1).

1994 STOITCHKOV (ROMÁRIO)

Nada a dizer sobre o título de Baggio 1993 mas alto lá e pára o baile em 1994. Quer dizer, Stoitchkov até nem é bom rapaz mas isso não vem aqui para o caso. É campeão espanhol (muy bien) mas perde a final da Taça dos Campeões e age de forma grosseira em relação aos seus companheiros de equipa quando não marca o golo que lhe falta para ser o melhor marcador do Mundial-94, durante o jogo com a Suécia para o 3.o e 4.o lugares. Esse evento é ganho pelo Brasil de um tal Romário, curiosamente companheiro do búlgaro no Barcelona com uma nuance: é o melhor marcador da Liga espanhola.

2016 RONALDO (CRISTIANO)

Nada a dizer nem nenhum alto e pára o baile. Ronaldo é o mais-que-justo campeão. Desta vez, a Bola está bem entregue. Messi (campeão espanhol e finalista da Copa América) e Neymar (campeão olímpico) estão de acordo e tudo. O único rival de Ronaldo é o próprio Cristiano.