E se por mero acaso encontrasse, naquela pilha de papeis que acumula ao longo do tempo num canto da secretária, um desenho de um artista célebre que valesse milhões? Pois é, parece de filme, mas aconteceu na vida real. Um desenho de Leonardo Da Vinci, avaliado em 15 milhões de euros, foi encontrado no meio da papelada de um médico francês.

O médico, já reformado, vive no interior de França, mas quis manter o anonimato depois de a sua descoberta casual se ter tornado notícia em todo o mundo. Há alguns anos que guardava, numa pasta com papeis, 14 desenhos herdados do pai, tendo sido aconselhado a mostrá-los a alguém especializado. Foi nessa altura que se dirigiu até à casa de leilões Tajan, onde ficou a saber que os desenhos tinham sido feitos entre os séculos XVI e XVII, explicou ao New York Times o diretor do departamentos de desenhos antigos da casa Tajan, Thaddée Prate. E também foi informado que entre os desenhos estava aquilo que desconfiavam ser um estudo de Leonardo Da Vinci do Martírio de São Sebastião.

“O proprietário, que prefere manter o anonimato, guardava-os numa pasta há muitos anos, depois de os ter herdado do pai, e não estava consciente do seu valor”, contou o diretor da leiloeira Tajan.

A suspeita foi confirmada noutras avaliações do desenho, que além de ter sido analisado pelo diretor do departamento de desenhos antigos da Tajan, foi também visto pelo especialista independente Patrick de Bayser que comprovou a desconfiança inicial. A técnica usada no desenho era “comum na época da ‘Adoração dos Magos’ antes de Leonardo deixar Milão”, contou Prate. Ao New York Times recorda mesmo a conversa que teve com Brayser que o alertou para alguns pormenores: “Reparaste que o desenho é feito por um artista canhoto?”. Da Vinci era canhoto. Além desses detalhes, no verso do desenho estavam ainda estudos científicos sobre a luz produzida por uma vela e algumas anotações.

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Os pequenos desenhos encontram-se no verso do estudo do Martírio de São Sebastião

De França para Nova Iorque

No entanto, a procura pela verdade não se ficou por aqui e Prate continuou a procurar mais opiniões. Desta vez foi até Nova Iorque, ao Metropolitan Museum of Art, para consultar Carmen C. Bambach, curadora de trabalhos italianos e espanhóis daquele museu. “Os meus olhos saltaram da órbita”, contou Bambach ao jornal americano. Foi a confirmação para o médico francês, dono do desenho: o estudo encontrado no meio das suas coisas era mesmo um Da Vinci e até marcava o princípio da jornada do artista em Milão, que corresponde à época entre 1482 e 1485. A peça ronda a módica quantia de 15 milhões de euros. “A atribuição [a Leonardo Da Vinci] é incontestável”, afirmou a curadora do Metropolitan, dizendo ainda que esta “é uma descoberta excitante”. “O meu coração vai sempre bater mais forte quando pensar neste desenho”.

“Tem tantas mudanças de ideias, tanta energia na forma como ele [Da Vinci] explora a figura. Tem uma espontaneidade furiosa”, afirmou a curadora dos trabalhos italianos e espanhóis do Metropolitan.

Agora a casa de leilões Tajan espera poder leiloar o esboço já em junho do próximo ano. No entanto, o Estado francês pode ter uma palavra a dizer. Segundo a legislação em vigor, o Governo deverá atribuir a permissão de venda nos próximos quatro meses. O El País explica que, caso queira adquirir a peça como tesouro nacional, o Estado francês pode proibir a saída da peça para lá das fronteiras francesas. Terá até dois anos para poder comprar o esboço a preço de mercado, ou seja, 15 milhões de euros.