Com o verão à porta, a prática de treinar em jejum transforma-se numa tendência para perder massa gorda de forma mais rápida. A explicação é promissora: em jejum, as nossas reservas de glicogénio (os hidratos de carbono que armazenamos no músculo e no fígado) estão diminuídas, e como tal temos de utilizar mais gordura como fonte de energia para o exercício. Mas será mesmo assim? “Só recomendo o treino em jejum quando acontece logo de manhã e quando tem uma componente metabólica maior (corrida, bicicleta, circuitos funcionais), porque devido à intensidade e natureza dos exercícios, qualquer coisa que se coma/beba tende a ser dificilmente digerida (e a pessoa não vai acordar uma hora e meia antes do treino das 7h para tomar o pequeno almoço)”, alerta o nutricionista Pedro Carvalho em entrevista ao Observador.

Em Os Mitos que Comemos, o especialista doutorado em Ciências do Consumo Alimentar e Nutrição já tinha dedicado um capítulo à temática onde concluiu que “o treino de endurance (cardio como é vulgarmente conhecido) quando realizado em jejum parece aumentar a oxidação de gordura e até promover algumas adaptações positivas no nosso organismo quando comparado com a sua realização após uma refeição”. Ainda assim, só em exercícios que possuem uma duração e intensidade padronizada para não induzir a uma fadiga mais precoce limitando a duração total do treino (e o total de calorias gastas no mesmo). Algo que coloca em causa o objetivo final: emagrecer.

“Ou seja, não é por se treinar em jejum que se vai queimar mais gordura ou emagrecer mais rápido. É preciso a esse treino associar um plano nutricional que promova um balanço energético negativo e, com isso, promover um emagrecimento”, explica o docente da Universidade Católica Portuguesa. Plano alimentar, esse, cujo gasto calórico deve ser superior ao consumo porque, para emagrecer, é preciso gastar mais calorias do que aquelas que se comem.

Nunca nos devemos esquecer, todavia, que para quem é sedentário, a prioridade é mesmo começar a treinar e deixar estes pormenores para depois, até porque o exercício por si só traz inegáveis benefícios independentemente do que se come (ou não) antes da sua realização”, escreve Pedro Carvalho.

O que devemos comer antes e depois do treino?

Nuno Neves, autor da nova obra Treine Como uma Estrela, concorda. “A verdade é que treinar com o estômago vazio fará com que perca massa muscular de forma rápida. Logo, o seu desempenho diminuirá consideravelmente”, explica o personal trainer ao Observador. “Em alternativa, sugiro que ingiram alimentos de absorção rápida para evitar indisposições durante o treino”. Se comer em cima do treino, com antecedência de uma hora ou menos, o especialista Bruno Salgueiro recomenda o mesmo. “Opte antes pelos hidratos rápidos como barrinhas de cereais ou de proteína, chocolate preto ou até uma peça de fruta (como uma banana)”, adianta o personal trainer.

Então porque é que alguns atletas profissionais treinam em jejum? “Treinar com pouca quantidade de ‘hidratos de carbono’ nos músculos (isto é, treinar em jejum e com ausência de hidratos no jantar de véspera) é uma forma de induzir algumas adaptações positivas ao treino de alguns atletas a sério”, responde o nutricionista Pedro Carvalho. “Uso essa estratégia uma a três vezes por semana, dependendo do plano de treino deles e da tolerância individual.” No final de contas, o jejum antes do exercício deve ser encarado como uma opção para atletas profissionais e não para praticantes recreativos que assim comprometem a sua perfomance no treino.

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