Já era difícil, mas mudar a candidatura de Lisboa para o Porto pode ter ferido de morte as hipóteses de Portugal receber a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa). Esta é uma das conclusões de um artigo de análise da edição europeia do Politico que explica que a “mudança de última hora” poderá ser fatal para as ambições portuguesas.

O artigo, assinado por Paul Ames, lembra que o Governo mudou de estratégia duas semanas antes do fim do prazo após “protesto das entidades do Porto”. Até à altura, o Governo português tinha lutado “afincadamente” pela instalação da agência na capital e o jornalista do Politico até considera que o estava a fazer com “algum sucesso”. E deu como exemplo o facto de Lisboa ser “a escolha preferida dos funcionários da EMA [são 890] forçados a sair de Londres por culpa do Brexit, estando à frente de adversários como Copenhaga, Milão ou Bucareste.” Lembrou ainda que até já existiam cartazes e flyers com o slogan: “Lisbon welcomes the EMA”.

Portugal apresenta esta segunda-feira a candidatura do Porto a sede da Agência do Medicamento

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O Politico cita o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, a defender que substituir o Porto por Lisboa foi uma boa opção e a negar que a mudança esteja relacionada com o facto do Governo querer calar Rui Moreira ou não querer perder votos nos municípios a norte nas próximas autárquicas (a 1 de outubro).

O governante defende, em declarações ao Politico, que “colocar uma agência tão importante como a EMA numa cidade como o Porto teria um impacto estratégico não só para Portugal, mas para a Europa”, já que “significaria que as políticas são mais favoráveis ​​à coesão territorial.”

O artigo lembra as contradições governamentais. Por exemplo, que Costa escreveu a Rui Moreira a dizer que Lisboa era melhor pela proximidade ao INFARMED e por ter já duas agências europeias. É também lembrado que o Parlamento foi atrás do Governo na escolha e aprovou por unanimidade a candidatura de Lisboa.

O Politico destaca ainda a nova linha de argumentação do Governo, desde que definiu o Porto como escolha a 13 de julho: “Porto e Lisboa compartilham muitos dos fatores que fazem de Portugal um destino atraente para a agência: um clima ameno, ambiente seguro, habitação acessível, alta qualidade de vida e escolas internacionais.”

No mesmo texto é escrito que Moreira ficou “feliz”, mas que, ao mesmo tempo, levou figuras do setor a dizerem que Portugal tem as prioridades trocadas. O diretor de marketing da consultora Acorn Regulatory (Irlanda), Brian Cleary, afirmou que “obviamente, a decisão de mudar de Lisboa para o Porto pode ser interpretada como uma decisão tomada tendo por base a agenda doméstica”. Para Cleary — que acredita que Portugal não ganharia com nenhuma das cidades — isto pode dar ideia “de que existe desorganização” e que foi uma decisão tomada para “calar o Porto e não uma decisão estratégica”.