Um grupo de 40 professores interpôs esta segunda-feira uma ação de massas contra o Ministério da Educação, a contestar o concurso de mobilidade interna, uma ação judicial que não permite ao Governo invocar interesse público para travar o processo.

A ação, que reúne um grupo de 40 professores da região do grande Porto, deu esta segunda-feira entrada no Tribunal Administrativo de Lisboa, para contestar as listas do concurso de mobilidade interna deste ano, as quais, alegam os docentes, prejudicaram centenas de professores, colocados a centenas de quilómetros da sua residência.

O advogado que representa estes docentes, Nuno Cerejeira Namora, explicou à Lusa que, ao contrário de ações individuais como as providências cautelares, decididas no prazo de dias ou poucas semanas, uma ação de massas não é suscetível de ver invocado o interesse público para travar o processo, funcionando a decisão como uma sentença final, ainda que passível de recurso.

No entanto, as ações de massas não são tão céleres quanto as providências cautelares, e o advogado estima que o processo levará entre três a seis meses a ter uma decisão, o que pode remeter um desfecho quase para o final do ano letivo, não evitando que os professores queixosos tenham que permanecer este ano letivo nas colocações que contestam.

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Nuno Namora adiantou também que até ao final do dia deverá dar entrada no mesmo tribunal novo processo, que será apenso ao que já foi enviado, e que deverá reunir mais “umas dezenas” de professores, todos unidos no pressuposto que a ordenação final decorrente das listas e que ditou as colocações é “é ilegal, incorreta e injusta”. O advogado disse esta semana o Governo deverá ser citado para apresentar argumentos.

Contactado pela Lusa, o Ministério da Educação disse não ter ainda recebido nenhuma notificação relativa à ação coletiva destes professores e que até à data apenas recebeu duas notificações judiciais relativas a providências cautelares, para as quais apresentou resolução fundamentada.

Ana Paupério, professora de Educação Física do 3.º ciclo e ensino secundário, é efetiva no quadro de zona pedagógica (QZP) da Guarda há cinco anos, mas nunca deu aulas na região, uma vez que a mobilidade interna sempre lhe permitiu ficar colocada próxima de casa, na zona de Paredes, região do Porto. Foi sua a iniciativa de contactar um advogado para analisar as possibilidades de contestação judicial.

Através de um grupo na rede social Facebook, criado para contestar as listas de mobilidade interna, a professora anunciou a intenção de procurar um advogado, abrindo a possibilidade de outros colegas se juntarem a essa iniciativa.

Acabaram por se reunir 40 para a ação de massas entregue em Lisboa esta segunda-feira, com histórias diferenciadas, algumas com maior impacte na vida pessoal dos docentes do que outras, mas todas têm em comum a colocação a centenas de quilómetros da sua residência.

Contra as suas expectativas, os professores que concorrem à mobilidade não puderam este ano candidatar-se a horários incompletos pedidos pelas escolas, porque o Ministério da Educação decidiu apenas levá-los a concurso em fases subsequentes de candidatura a vagas nas escolas, o que levou a que muitos docentes dos quadros, impedidos de concorrer inicialmente a esses lugares, acabassem ultrapassados por colegas contratos, menos graduados, que concorreram mais tarde, mas na altura em que esses horários foram libertados. A consequência foi a colocação de centenas de professores em escolas distantes daquelas em que habitualmente davam aulas.

Ana Paupério, habituada a não ter que percorrer mais de 20 quilómetros para dar aulas, em Paredes, este ano ficou colocada numa escola de Seia, no QZP a que pertence, mas a 185 quilómetros de casa, traduzidos em deslocações diárias de 370 quilómetros.

Se nos outros anos não gastava mais de 120 euros por mês em deslocações, este ano passou a gastar 800, a quase totalidade dos pouco mais de mil euros de ordenado.

“Só no meu grupo foram prejudicados 450 professores”, disse a docente à Lusa, que considera que toda esta situação “é revoltante”, mesmo reconhecendo que os professores que ficaram colocados nos lugares que aqueles que interpuseram a ação reclamam para si “não têm culpa nenhuma neste processo”.

Se o concurso tivesse decorrido com as regras dos anos anteriores, Ana Paupério diz que teria sido colocada na mesma escola onde lecionou no ano anterior, uma vez que o docente ali colocado este ano é contratado e ocupa um dos últimos lugares da lista.