O segundo dia do Portugal Fashion ficou marcado pelo primeiro aniversário redondo de Diogo Miranda. O designer que há dez anos participava no seu primeiro desfile conjunto, na altura numa plataforma chamada Programa Aliança, soprou as velas e deu espetáculo. A passerelle transformou-se numa festa, onde só houve lugar para as bem vestidas. “Eu escolhi um animal, o cisne. Estava a ver umas fotos e achei que a elegância do cisne fazia dele o animal mais semelhante à silhueta da mulher. Todas as formas da coleção — os volumes, os ombros, os decotes de chaminé — foram inspirados nessas linhas. Depois, criámos algumas peças com plumas, o que era inevitável”, afirma o criador.

Diogo Miranda, aplaudido depois dos seus cisnes percorrerem a passarelle © Ricardo Castelo

Para a celebração, Diogo Miranda convocou caras conhecidas. Luísa Beirão, Sónia Balacó e Rita Teixeira desfilaram na Sala do Arquivo e exibiram uma paleta composta por rosa, laranja, cinza, verde, branco e preto. Diogo deu continuidade ao toque luxuoso que já o caracteriza. O tafetá de seda atravessa a coleção e faz antever um brilharete nas passadeiras vermelhas nacionais. Em dez anos, muita coisa mudou. O designer pode nunca ter chegado a ser patinho feio, mas que se tem vindo a aperfeiçoar, isso nem o próprio nega. “A mulher ficou mais segura de si e mais confiante”, completa.

Ao contrário do que a culinária sempre nos ensinou, os condimentos foram o primeiro ingrediente deste segundo dia de Portugal Fashion. Carla Pontes encarregou-se de dar sabor à Alfândega do Porto com a coleção “Raw”. Apesar do nome, o verão de 2018 da criadora é o equivalente a uma grande cozinha de fusão. “Esta coleção pretende ir buscar uma série de influências de todas as culturas e misturá-las, porque a humanidade é exatamente isso, uma união de todas estas influências”, afirma a designer.

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As cores da coleção “Raw”, de Carla Pontes” remeteram-nos para as especiarias indianas © Ricardo Castelo

O mix foi a todos os níveis. Através das cores, que foram aquecendo com o evoluir do desfile, Carla trouxe as especiarias e os sabores do oriente: líchia, menta, caril, gengibre e quinoa. As silhuetas seguiram o mesmo caminho. Tão depressa víamos derivações de sáris, como mangas de inspiração nipónica. Nos materiais, a designer continua no encalço da leveza natural dos linhos e do algodão.

Antes de chegar ao Porto, a coleção primavera-verão 2018 de Carla Pontes correu as quatros grandes capitais da moda: Nova Iorque, Londres, Milão e Paris. Depois de ter começado a marca há cinco anos, no Espaço Bloom do Portugal Fashion, está na hora de sair do ninho. “Em Portugal, já vamos de norte a sul. Estamos agora a tentar chegar a outros mercados. Percebemos que a marca precisa de dar o salto lá para fora para ser sustentável”, admite a criadora.

A aviação dos anos 70 e os posters da National Women’s Party marcaram as cores e padrões da coleção de Susana Bettencourt © Ricardo Castelo

Bem mais lançada no mercado português está Susana Bettencourt, que fala numa clientela nacional fiel que parece ter recuperado agora algum poder de compra. A rainha das malhas concebeu a coleção do próximo verão a pensar no renascer do movimento da ERA (Equal Rights Amendment). Numa altura em que as reações anti Trump ecoam nas obras de artistas e designers de todo o mundo, Susana juntou-se ao coro, numa causa que não se deve confundir com o feminismo. “Desde que Trump chegou ao poder, andámos 15 anos para trás. Estou só a tentar passar uma mensagem e isto não é feminismo, é igualdade”, afirma.

Mas a designer açoriana focou-se numa figura de proa do movimento. Amelia Earhart, a primeira mulher piloto a fazer um voo transatlântico, inspirou os estampados das malhas, onde surgiram aviões e elementos que remetem para os posters da National Women’s Party. No que toca a vendas, os voos são outros. Neste momento, a marca Susana Bettencourt exporta sobretudo para a China, Rússia e Itália. A estratégia para alcançar outros mercados está a mudar. Abrandar o ritmo das feiras internacionais e apostar em bons agentes de distribuição é o novo plano de ataque.

Para Estelita Mendonça a felicidade é isto: riscas e uma paleta de cores onde predominam o azul e o amarelo © Ricardo Castelo

Saídas com amigos, flyers de festas dos anos 90 e dias bem passados na praia — para Estelita Mendonça tudo isto serve para resumir um único conceito, o de felicidade. A coleção unissexo do criador completou o trio de jovens designers que abriu o segundo dia de desfiles, na Alfândega do Porto. De chave ao pescoço, envoltos em riscas e mais riscas e com o azul cobalto como cor estrela, manequins masculinos e femininos revelaram as intenções de Estelita para o verão de 2018. Além de Portugal, o designer já vende em Viena e na Califórnia. Anda a sonhar com os mercados chinês e japonês e a presença na próxima edição da Pitti Uomo, em janeiro, pode muito bem ser a pista de descolagem.

O segundo dia do Portugal Fashion na cidade invicta contou ainda com os desfiles de Júlio Torcato e Anabela Baldaque, dois pesos pesados da moda portuense. Quem também desfilou as suas propostas para o próximo verão foi Hugo Costa. O designer já tinha passado por Paris, em junho, onde apresentou a coleção “Don’t Fish My Fish”, onde o amarelo brilha em materiais impermeáveis, entre o preto, o branco e o cinzento. O mesmo se pode dizer de Miguel Vieira, que fechou a agenda do dia. O veterano esteve em Nova Iorque em setembro, mas voltou à base para continuar assinalar os seus 30 anos de carreira.

Sábado é o último dia de Portugal Fashion. O dia começa com Katty Xiomara e Luís Buchinho. Nuno Baltazar e Alexandra Moura antecedem uma tarde e noite dedicada às marcas.