É um evento privado onde só entram figuras de topo, sobretudo investidores e empresários. A Founders Summit, que marca o fim da conferência tecnológica, consiste num jantar para os principais fundadores de empresas que estiveram na Web Summit e que reúne outros convidados de topo. Este ano, o evento realizou-se no Panteão Nacional, com os convidados a cearem rodeados dos túmulos de figuras como Humberto Delgado, Amália Rodrigues e Sophia de Mello Breyner.
Os rumores começaram a circular nas redes sociais, com uma fotografia que mostra várias mesas iluminadas com velas no corpo central do monumento, divulgada por várias figuras como o empresário de comunicação Luís Paixão Martins. O Observador conseguiu entretanto apurar que o jantar decorreu de facto no Panteão Nacional esta sexta-feira e que se tratava da Founders Summit.
Websummit no Panteão. Esta nova religião tem como culto jantares junto a túmulos. Amen. pic.twitter.com/UXfri64KWu
— Luís Paixão Martins (@lpmpessoal) November 11, 2017
O acontecimento já provocou reações de várias figuras como o embaixador Seixas da Costa, que perguntou: “Ajudem-me: acham mesmo normal que o jantar final do Web Summit tenha sido entre os túmulos do Panteão Nacional?”. Também José Eduardo Martins, do PSD, comentou o acontecimento, dizendo que se tratava “evidentemente de uma montagem”. Também Sérgio Sousa Pinto, do PS, recorreu ao humor, escrevendo na sua conta de Facebook que “no próximo ano é nos Jerónimos. A urna do Gama serve de bar. A de Camões de bengaleiro.”
Ao que o Observador apurou, o primeiro-ministro António Costa não esteve no evento, e o Governo não se fez representar. Também o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, não esteve presente, segundo confirmou fonte da CML.
De acordo com o Público, na quinta-feira ocorreram outros dois eventos exclusivos relacionados com a Web Summit, onde estiveram presentes membros do Governo: um cocktail oferecido pelo Executivo no Palácio das Necessidades e um jantar também para os founders no Palácio Nacional da Ajuda.
Lei permite aluguer de Panteão
O aluguer de monumentos geridos pela Direção-Geral do Património Cultural é permitido e regulado pelo despacho 8356/2014, promulgado pelo então secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, do Governo anterior.
O Panteão Nacional faz parte desse conjunto de monumentos, sendo que o aluguer do espaço para um jantar no Corpo Central do monumento tem o custo de três mil euros mais IVA, de acordo com o que está no Regulamento de Utilização dos Espaços. A mesma lei diz que podem ser rejeitados “os pedidos que colidam com a dignidade dos Monumentos”.
Uso de museus e monumentos está regulado, prevê salvaguarda e tem tabela de preços
A própria página do Panteão Nacional enumera os eventos que se podem realizar ali: “banquetes, receções, conferências, recitais de música ou poesia, lançamento de livros, atos solenes, atividades de índole cultural, mostras, exposições” acrescentando que tudo está dependente de “consulta prévia e condições a acordar”.
A página da Direção-Geral do Património Cultural tem a descrição do monumento com todas as característica usadas para promover um imóvel num site imobiliário. Descreve os espaços — adro exterior, corpo central e terraço — com a área em metros quadrados, os materiais, pontos de luz e números de lugares sentados.
O Observador contactou a Web Summit e o ministério da Cultura para perceber em que moldes se realizou o evento, perguntando se o Panteão terá sido alugado para o efeito. O ministério da Cultura escusou-se a responder a questões sobre as circunstâncias em que foi dada a autorização para a cedência do espaç e como foi tomada a decisão, remetendo para o comunicado enviado às redações pelo próprio ministério.
Até ao momento, a Web Summit também não respondeu a questões sobre o evento.