David Davis, o ministro que tem a responsabilidade de gerir o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, terá admitido numa reunião, em privado, que existe uma possibilidade de que o Brexit venha a ser cancelado, ainda que esta seja uma possibilidade menos provável após o discurso de Natal da primeira-ministra, Theresa May, em que a responsável elegeu como prioridade para 2018 avançar com o “divórcio” da UE. A notícia poderá ser a gota de água na relação entre May e Davis.

Davis, que falava com membros de um think tank [instituto de pesquisa] privado, partilhou a sua leitura das palavras de Theresa May: “A minha leitura é que este discurso significa que há uma menor probabilidade de se sair da UE sem um acordo, e que há uma menor probabilidade de o Brexit não vir a acontecer“, terá dito o ministro, confidenciaram alguns dos presentes à imprensa britânica.

“Que o ministro do Brexit tenha expressado a ideia de que toda esta coisa pode não acontecer foi algo surpreendente, para mim, mesmo tendo sido dito num evento em privado”, disse um dos presentes ao Daily Mail, acrescentando que não foi a “única pessoa a ter esta reação, ao ouvir aquilo. Não parece ser algo consonante com a mensagem da primeira-ministra, de que Brexit significa Brexit“.

Porta-voz do ministro do Brexit recusou esta interpretação das palavras de David Davis, assegurando que o responsável foi mal interpretado. Davis “estava simplesmente a repetir a ideia da primeira-ministra de que haver um acordo [com os parceiros europeus] é uma coisa positiva para as pessoas que apoiaram o Leave [sair] e que agora têm receio de que o Brexit não irá acontecer, e as pessoas que votaram Remain e que receiam a possibilidade de se sair da UE sem um acordo”.

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As declarações de David Davis, bem ou mal interpretadas, surgem numa altura em que as relações entre os dois estarão à beira da rutura. Na semana passada, o The Times noticiou que Davis já teria sido afastado das negociações, com um ex-assistente de David chamado Oliver Robbins a assumir, de facto, a liderança do processo. Robbins trabalhou sob a liderança de Davis mas há alguns meses foi retirado dessas funções para criar uma nova unidade para acompanhar o processo do Brexit, uma unidade que reportava diretamente à primeira-ministra.

Davis tem tido meses atribulados, sobretudo depois de ter dito que “não é preciso ser inteligente” para liderar as negociações do Brexit e de ter sido acusado de voltar atrás com a promessa de divulgar um conjunto de relatórios internos com projeções sobre como a saída da UE pode afetar a economia britânica. A certa altura, Davis afirmou, também, que sair da UE poderia ter um impacto tão forte para a economia como o crash de 2008 nos mercados financeiros.