A goleada por 8-1 de Portugal frente ao Azerbaijão nos quartos de final do Campeonato da Europa, naquele que foi o resultado mais volumoso de sempre a eliminar e o segundo maior na história das fases finais, acabou por funcionar como uma espécie de despertador para o que estava em causa: a Seleção Nacional ficou apenas a um triunfo da segunda presença de sempre no jogo decisivo da competição. E os números com que chegou a essa meia-final reforçavam a esperança (legítima) de repetir essa final de 2010, na Hungria, em que a Espanha acabou por vencer por 4-2. Os números, Ricardinho e mais dois Coelhos que saíram da cartola: André, que bisou, e Bruno, marcadores dos golos que deram a vitoria por 3-2.

O melhor jogador do mundo (recebeu pela quinta vez essa distinção, superando os quatro troféus individuais do ídolo Falcão) apontou um póquer diante dos azeris e tornou-se assim o melhor marcador de sempre em fases finais do Europeu (21 golos), superando o registo de Eremenko. Se as atenções já estavam focadas no Mágico, ainda mais passaram a estar. No entanto, os comandados de Jorge Braz tinham pela frente uma Rússia que, em termos individuais, em nada fica atrás de Portugal: os quatro brasileiros naturalizados, todos acima dos 30 anos (Éder Lima, Robinho, Rómulo e Esquerdinha), são alguns dos melhores da atualidade e juntam-se a uma formação com outros bons valores como Chishkala, Lyskov ou Davydov.

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Foi por aí que o jogo começou a ser escrito: entrando num 4:0, com João Matos, Bruno Coelho, Pedro Cary e Ricardinho, Portugal teve uma entrada menos conseguida, faltando profundidade no plano ofensivo. A isso juntou-se ainda um conjunto de más decisões em posse ainda no meio-campo nacional, como o passe errado de Pedro Cary que acabou por gerar o primeiro golo do encontro: Robinho conduziu a bola, fez o passe para o lado à saída de André Sousa e Éder Lima só teve de encostar (4′). Quatro minutos depois, em mais uma grande jogada individual, o canhoto do Benfica acertou no poste (8′).

A Rússia estava melhor: por um lado, a pressão alta que fazia no meio-campo português praticamente secava as possibilidades nacionais de visar a baliza de Zamtaradze; por outro, as individualidades russas tinham maior facilidade em aparecer e em encontrar espaços para testar André Sousa. E os minutos iam passando com a equipa de Sergei Skorovick na frente e sempre a surgir mais perto de aumentar a vantagem do que propriamente de Portugal chegar ao empate até que Pedro Cary, após um passe de Tiago Brito, conseguiu pela primeira vez ganhar as costas aos russos mas o remate saiu ao lado (16′). Logo no minuto seguinte, o mesmo Tiago Brito, após uma paralela, obrigou o guardião adversário à primeira grande defesa do jogo. E depois foi Ricardinho, com nova defesa de Zamtaradze (18′). A Seleção acabou por cima mas chegou a perder ao intervalo.

Nem a desvantagem após os primeiros 20 minutos tirava o ânimo da grande claque nacional na Eslovénia, que tem sido um dos destaques da UEFA ao longo da prova. E era para a baliza do topo onde se concentravam a maioria dos portugueses que os comandados de Jorge Braz iriam tentar escrever história. Bruno Coelho, de livre direto, e João Matos, no seguimento do canto, deixaram os primeiros sinais de perigo para Zamtaradze, a celebrar cada defesa como se fosse golo (23′).

A Rússia só queria pôr gelo no jogo, Portugal andava à procura de aquecer o ritmo. E João Matos ameaçou, mas o remate saiu ao lado. E Tiago Brito ameaçou, mas o remate foi por cima. À terceira foi mesmo de vez, a meio da segunda parte: André Coelho aproveitou mais uma situação de ataque rápido para disparar um míssil sem hipóteses para o guardião russo: 1-1 (30′). Isto numa altura em que a Seleção Nacional estava melhor e com outro fator paralelo a contribuir: fosse por uma questão de melhor condição física, fosse por uma maior crença e entrega, não havia bola dividida que não ficasse para Portugal.

O momento determinante estaria próximo, muito próximo: pouco depois da Seleção Nacional ter chegado à quinta falta (algumas delas sem necessidade e no meio-campo russo), André Coelho fez o 2-1 a pouco mais de quatro minutos do fim, no seguimento de um lance de estratégia com remate de fora da área. O último minuto seria de loucos (e com um erro crasso contra os russos, com uma clara falta que seria a sexta de Nilson sobre Robinho que não foi marcada): contra o guarda-redes avançado, Bruno Coelho fez o 3-1 de uma baliza à outra a 56 segundos do fim, Éder Lima reduziu para 3-2 apenas sete segundos depois mas, com grande capacidade de sofrimento, Portugal manteve a vantagem e assegurou a segunda final da história, repetindo o feito de 2010 na Hungria. No sábado, a Seleção irá defrontar a Espanha, que venceu o Cazaquistão nas grandes penalidades (3-1) após o empate no final do tempo regulamentar (4-4) e do prolongamento (5-5).