Chama-se Sung Tongs, foi editado há 14 anos (em 2004) e foi um álbum de grande importância para a tomada de assalto ao indie que os Animal Collective viriam a consumar logo um ano depois, com Feels (e que viriam a concretizar de vez cinco anos mais tarde, com o marcante Merriweather Post Pavilion). A banda de Baltimore, Maryland regressa a Portugal em junho para revisitar Sung Tongs em palco. O concerto é dia 21, no Cineteatro Capitólio do Parque Mayer, em Lisboa. Os bilhetes estarão à venda a partir desta sexta-feira, 23, às 10h.

[Em 2017, a banda tinha tocado o álbum ao vivo, na comemoração do 21º aniversário da revista musical Pitchfork. Fique com o vídeo do concerto:]

Quando os Animal Collective chegaram a Sung Tongs, a banda estava ainda numa fase relativamente prematura de carreira, sem estrutura ou método de composição totalmente definidos. À época, os quatro membros (Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deakin) do grupo tinham acabado de escolher o nome para a banda e editado com ele um primeiro álbum, Here Comes the Indian (depois de quatro trabalhos do grupo, para os quais nem todos contruibuíram), no ano anterior.

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Ultra-experimental, Here Comes the Indian revelava pela primeira vez os quatro integrantes dos Animal Collective a fazerem música juntos, apropriando-se do psicadelismo que encontraram em vários géneros musicais do passado (desde logo o krautrock e o spacerock) e revendo-o à luz das infinitas possibilidades da produção musical eletrónica mais vanguardista dos anos 2000.

Se, apesar de ser já o quarto álbum, Here Comes the Indian foi uma espécie de experiência piloto, em que os comandantes da nave Animal Collective exploravam todos os instrumentos e sons imagináveis, Sung Tongs seria o primeiro grande sinal de ambição da dupla Avey Tare (David Portner) e Panda Bear (Noah Lennox), à época os motores da engrenagem Animal Collective — e aqueles que posteriormente construíram carreiras mais sólidas a solo, confirmando assim o talento particular.

[“Kids on Holidays” é uma das canções de culto do álbum que os Animal Collective vão tocar em Lisboa:]

Em Sung Tongs, os dois juntavam-se então para construir, em dupla e já não em quarteto, um álbum de canções mais concentradas, ainda assim suficientemente esquizóides para acolher o estilo freak que a banda vinha a desenvolver nos anos anteriores. Temas como “Kids on Holidays” e o muito longo “Visiting Friends” (com mais de 12 minutos de duração) deixariam rendida a crítica indie e os melómanos, que mal teriam tempo de recuperar — o carrossel musical prosseguiria no ano seguinte com Feels, que marcaria o aumento definitivo da notoriedade da banda perante um público mais alargado (ou mainstream). Esse público seria, por fim, conquistado em definitivo no final dos anos 2000, com Merriweather Post Pavilion, considerado com relativo consenso o mais importante disco dos Animal Collective.

[“My Girls” é um dos maiores êxitos da banda. Foi incluído no disco ‘Merriweather Post Pavilion’, de 2009:]

Sem Sung Tongs, contudo, talvez a banda nunca tivesse aprimorado o estilo a ponto de se vir a estabelecer como uma das bandas de culto de maior dimensão dos Estados Unidos da América. Com o último álbum, o décimo, editado há dois anos (Painting With) e passagens anteriores por Portugal (em festivais como o NOS Primavera Sound, clubes como o Lux Frágil e em salas mais institucionais como o Centro Cultural de Belém, a confirmar o ecletismo e abrangência da música), o quarteto de Baltimore regressa agora ao país e a Lisboa para revisitar um 2004 que ainda hoje soa futurista e a que os fãs da banda podem agora adicionar boas memórias, depois de um Europeu de futebol perdido em casa, na final, contra a Selecção Grega.

Este concerto insere-se no primeiro ano da concessão do Cineteatro municipal Capitólio à produtora Sons em Trânsito (SeT), que quando apresentou à comunicação social o seu projeto para os anos 2018 a 2023, afirmou estar disponível “a que outros programadores organizem aqui os seus espetáculos” e desejar “estabelecer pontos de diálogo e parcerias com outros agentes da cidade e do país”. É isso que acontecerá com o espetáculo “Animal Collective – Sung Tongs”, programado pela Galeria Zé dos Bois e que vai decorrer numa sala de que a cidade necessitava, defendeu na altura Vasco Sacramento da SeT, chamando a atenção para a ausência de salas municipais “com versatilidade, que se adequem a espetáculos para plateias sentadas e em pé, e de média dimensão”, superior à de pequenos clubes como o Musicbox mas inferior “à de um Coliseu dos Recreios”.