Sea of Thieves,  disponível por 70 euros ou através do Microsoft Game Pass por 10 euros por mês em conjunto com outros jogos, é um Shared World Adventure Game, no qual o jogador veste a pele de um pirata e deve viver as suas aventuras explorando mares e ilhas e interagindo com todo o ambiente e outros jogadores. Há aqui um objetivo apenas: o de se tornar um Pirata Lendário e para isso tem que cumprir missões, procurar tesouros, pilhar outros barcos e até atacar fortes habitados por esqueletos fantasma de outros piratas do passado. A base do jogo é simples, preferencialmente com mais um ou três jogadores em rede, mas com a possibilidade de jogar a solo, deve aceitar missões nas três Guildas disponíveis para ganhar riquezas e estatuto, subindo de nível e conseguindo acesso a missões mais complexas, com maiores recompensas e por aí adiante.

Existem três tipos de missão providenciadas pelas Guildas em Sea of Thieves: Caça ao Tesouro, Caça de Prémios e Transporte de Mercadorias, que é provavelmente a forma de trabalho mais legítima para um pirata neste jogo. Na primeira, recebem pistas para procurar um tesouro, na segunda têm de atacar hordas de esqueletos piratas até derrotar um inimigo específico e levar a caveira como prova, e a terceira envolve recolher mercadorias em certos locais e transportar para outros dentro de um prazo de tempo. Além disso, podem explorar ilhas e barcos naufragados ou atacar barcos controlados por outros jogadores para roubar os seus tesouros e vender livremente, apesar de estas vendas apenas darem dinheiro e não aumentarem a reputação do jogador.

Esta reputação aumentada não provoca alterações no jogo sem serem puramente estéticas, a chamada progressão lateral, pois a Rare quis que tudo fosse o mais equilibrado possível para jogadores novos, independentemente de começarem a jogar no seu lançamento ou daqui a um ano. Como o ambiente é puramente Player Vs Player (PvP) todas as embarcações e piratas que o jogador encontra (tirando os já mencionados esqueletos) são controlados por outra pessoa, desse modo a espada ou pistola do pirata nível 1 provoca exatamente o mesmo dano que o de nível 30, as únicas diferenças sendo que podem ser mais bonitas e ele ter mais experiência a jogar o jogo. Essa progressão lateral será utilizada igualmente quando abrirem as microtransações que como em outros jogos serão para comprar roupas, velas ou até macacos e papagaios que acompanham o personagem.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mecanicamente, Sea of Thieves tem uma física de navegação muito precisa e realista, fruto de um esforço compreensível por parte da Rare. Temos de ter em conta que a maior parte do jogo é passada na água, de preferência à tona, mesmo que ocasionalmente o jogador seja forçado a dar uns mergulhos. A maneira como o barco responde aos comandos, estando contra o vento ou a seu favor, junto à costa, com ondulação suave ou no tempestuoso mar alto é completamente diferente e requer um certo nível de aprendizagem e habituação, tal como a todos os apetrechos da sua embarcação.

O jogador tem que subir e descer a âncora e as velas assim como orientá-las tendo em conta a direção do vento, carregar e apontar canhões, apagar e acender lanternas ou até usar tábuas para remendar buracos feitos rochas ou balas de canhão e usar um pequeno balde para tirar água para não afundar. Todas estas funções são geridas em tempo real, que é algo mais fácil com uma tripulação bem coordenada mas não impossível a solo, apenas mais complicado em algumas situações como atracar o barco ou especialmente em batalhas navais. O que nos leva aos pontos fortes e fracos de Sea of Thieves, que em alguns casos estão no mesmo assunto.

Sea of Thieves foi desenhado para jogar com outros jogadores, sejam eles amigos ou desconhecidos. Algo que não é obrigatório mas muito aconselhável para jogar é um headset para poder comunicar verbalmente com os companheiros e com qualquer outro jogador que esteja a uma distância audível. Dos seus dois modelos de barco, o mais pequeno pode ser controlado por um jogador a solo, mas a navegação e interação com outras embarcações é muito mais equilibrada quando acompanhado pois é difícil manobrar o barco e canhões sozinho. Num galeão a quatro é mais fácil ainda pois apesar de ter um barco maior é possível coordenar melhor as funções de cada componente.

Infelizmente não existe um modo história em Sea of Thieves, porque o objetivo é que as histórias sejam feitas pelos jogadores, que nos dão liberdade de fazermos tudo o que quisermos. Escrevemos a nossa própria história, as nossas aventuras e desventuras, temos a oportunidade de deixar de ser adultos durante uns tempos e voltar a brincar como crianças, sem regras, sem limitações. Podemos navegar sem rumo fixo e tocar instrumentos e cantar com os nossos amigos até nos cruzarmos com outra tripulação que nos ataca imediatamente, ou podemos encontrar alguém que nos dá os seus tesouros porque vai desligar o seu jogo e vai perder.

Também podemos falar com alguém muito amigável com quem bebemos umas canecas de grogue e acaba por dar-nos um tiro na cabeça só porque sim. Afinal, traição é algo típico de piratas. A ausência de um modo história pode ser pior para quem quer jogar a solo pois é difícil criar uma sozinho. Enquanto por um lado pode ser relaxante aproveitar para apreciar a beleza deste mundo criado pela Rare e até pode ser um grande desafio fazer missões sem apoio algum, ao encontrar uma tripulação hostil mais numerosa implica quase sempre uma derrota. De igual modo, um pirata solitário que consiga derrotar uma tripulação inteira merece o maior respeito de parte de todos os outros habitantes. Uma história digna de contar.

Talvez o maior problema de Sea of Thieves seja a sua falta de foco. Infelizmente, a Rare tentou dar tanta liberdade aos jogadores que acabou por perder o rumo deixando-nos todos à deriva. Sea of Thieves permite-nos jogar a solo, mas não facilita de modo algum esse estilo de jogo sem sequer nos dar umas linhas orientadoras mais do que “estão aqui estas missões iguais às outras se as quiseres fazer”, ao contrário de outros jogos open-world que o fizeram de modo bem melhor sem grande história.

O jogo dá-nos um código de pirataria (tal como o escrito por Bartolomeu, o Português e Henry Morgan) mas não cria nenhuma penalização para os jogadores que não o cumpram esperando que seja a comunidade que se autorregule, também afirma que podemos apenas explorar o jogo mas temos sempre a ameaça de ser atacados por qualquer outro jogador a qualquer momento mesmo que o único objetivo da nossa sessão de jogo não seja conflituosa, pois não deixa o jogador escolher entre PVP ou PVE (Player versus Environment) mesmo que temporariamente nem cria uma única zona de segurança para tal. O jogo passa a fronteira da liberdade para a da libertinagem que talvez tenha sido propositado pois não é essa a verdadeira essência da pirataria e não a versão romantizada do cinema?

Sea of Thieves é sem dúvida um jogo polarizante de opiniões em especial nesta fase inicial, alguns vão adorar e vão explorar os mares durante meses, outros vão achar aborrecido a solo ou em equipa ao fim de uns minutos, irá haver apoiantes e detratores em todas as zonas. Mesmo com as suas falhas que precisam de ser corrigidas em breve para não perderem a comunidade de jogadores, não deixamos de achar que é um bom jogo com potencial de vir a ser muito bom no futuro dependendo dos updates. É um jogo para explorar nem que seja porque somos portugueses, temos o mar salgado a correr-nos nas veias, onde se perderam vidas a domar as ondas e descobrir novos mundos até o mapa não ter espaços negros. Sea of Thieves tem esse espírito de respeito pelo mar e a sua história, dá-nos a oportunidade de provar que quando os barcos são de madeira nós temos que ser de aço!

João Machado, Rubber Chicken