As baterias de que os automóveis eléctricos tanto necessitam, as de iões de lítio, necessitam mais de cobalto do que lítio para serem fabricadas, apesar da denominação indicar o contrário. Contudo, é do conhecimento geral que a extracção dos minérios que fazem parte da sua produção ocorre em zonas do globo em que o trabalho escravo é frequente e onde o trabalho infantil é uma constante. Se esta triste realidade já era do conhecimento geral, passou a ser incontornável depois da americana CNN ter emitido uma reportagem em que prova, sem margem para dúvidas, o que todos já sabiam, mas fingiam ignorar.

As baterias de iões de lítio, as mais modernas e eficazes da actualidade, têm uma série interminável de constituintes, mas bem que se poderiam chamar de baterias de cobalto, uma vez que a sua percentagem nos acumuladores é bem superior à do lítio. Sucede que 2/3 do cobalto é extraído na República Democrática do Congo, onde as crianças trabalham regularmente nas minas, especialmente nas explorações mineiras mais artesanais e de menores dimensões. E em tudo o resto, naquele país pouco dado à protecção de menores e dos direitos dos cidadãos em geral. E não só a produção de cobalto no Congo é elevada, como as suas reservas são brutais, pelo que a dependência das minas daquele país africano promete continuar.

Com base nesta realidade, a Volkswagen já fez saber que implementou uma série de regras para os seus fornecedores, de forma a assegurar-se que não haveria crianças no processo de mineração. Também a Renault (que obviamente inclui a Nissan e a Mitsubishi) informou auditar os seus fornecedores, precavendo essa situação, da mesma forma que a BMW alinhou pelo mesmo diapasão. Até a Tesla veio a público garantir que, para evitar os problemas há muitos conhecidos nas minas do Congo, decidiu logo de início procurar fornecedores fora do país.

Agora, dias depois do programa da popular cadeia de televisão ter ido para o ar, eis que a a Daimler, casa-mãe da Mercedes e Smart, promete criar novas regras, obrigando os fornecedores de cobalto a um certificado de ausência de trabalho infantil.

Mas esse não é o único problema com o cobalto, uma vez que para além de impedir a exploração das crianças, os fabricantes de automóveis – e não só, uma vez que empresas como a Apple têm também grandes necessidades deste material para as baterias dos seus telemóveis – têm igualmente de evitar ser eles mesmo explorados, isto por uma matéria-prima que não pára de aumentar, tendo saltado dos pouco mais de 20 dólares o quilograma em Janeiro de 2016, para cerca de 95 dólares.

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