O funeral de um jovem de 21 anos, Kaisar Ahmad Bhat, que se realizou este sábado em Srinagar, Caxemira (Índia), ficou marcado pelos confrontos registados entre a multidão e a polícia, que chegou a utilizar gás lacrimogéneo e a disparar com armas de pressão de ar contra os manifestantes.

De acordo com a Sky News, a polícia declarou a procissão fúnebre ilegal por quebrar uma lei que proíbe a reunião de mais de quatro pessoas em espaços públicos. Vários jovens presentes na multidão reagiram atirando pedras às forças de segurança e a polícia acabou por permitir que apenas os familiares mais próximos acompanhassem o corpo de Bhat até ao cemitério.

O jovem morreu na passada sexta-feira, na sequência de um atropelamento por um veículo da polícia. Tudo ocorreu durante uma das várias manifestações que têm ocorrido contra o domínio indiano da região que, ao contrário do resto do país, é de maioria muçulmana — recorde-se que Caxemira é uma zona disputada por Índia e Paquistão há mais de 20 anos.

Testemunhas no local declararam à Al Jazeera que o veículo paramilitar da polícia atropelou dois dos jovens perto da mesquita central de Srinagar, onde têm ocorrido os protestos todas as sextas-feiras, aparentemente de forma propositada. “Os manifestantes tentaram travar o veículo, mas eles continuaram a avançar”, declarou Shahid Ahmad à cadeia de televisão.

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A polícia apresenta outra versão: “Foi uma situação criada pela multidão. Nós tivemos imensa contenção”, declarou o porta-voz Sanjay Sharma, citado pela rádio Voice of America, acrescentando que o veículo foi rodeado por manifestantes que tentavam retirar os agentes de segurança para os atacar.

Um polícia não identificado apresentou uma terceira versão dos acontecimentos à rádio, dizendo que tudo não passou de “um erro”, quando o carro entrou numa zona cheia de manifestantes por engano e atropelou-os sem querer. Bhat acabaria por morrer devido a lesões internas. O outro manifestante atropelado continua hospitalizado em estado grave.

A vaga de protestos em Caxemira ocorre ao mesmo tempo que se espera a visita do ministro do Interior indiano, Rajnath Singh, à região, como relembra a BBC. Caxemira tem sido palco de um conflito violento entre Índia e Paquistão que nos últimos anos se tem manifestado através de protestos de rua da maioria muçulmana contra o domínio de Nova Deli. O último grande momento de tensão na região ocorreu em 2016, quando o comandante rebelde Burhan Wani foi morto a tiro, provocando nova vaga de protestos.