A estátua do Sporting localizada na rotunda entre o Pavilhão João Rocha e o Estádio José Alvalade foi vandalizada durante a madrugada desta sexta-feira. O monumento tem um leão, as quatro palavras do lema do clube (esforço, dedicação, devoção e glória) e duas frases, uma do fundador José Alvalade – “Queremos que o Sporting seja um clube tão grande como os maiores da Europa” – e outra do atual presidente, Bruno de Carvalho: “O talento é necessário, mas só com muito trabalho diário, superação constante, vontade, atitude e compromisso com os objetivos do clube é que se formam campeões”. Ora, foi precisamente a parte dedicada a Bruno de Carvalho a única parte alvo do vandalismo ocorrido durante a madrugada.

O nome do presidente leonino foi riscado e uma mensagem escrita a letras garrafais ganhou posição de destaque: “Rua”, lia-se, numa clara manifestação de desagrado direcionada a Bruno de Carvalho, alvo de contestação nos últimos tempos por parte de alguns sportinguistas.

Créditos: CMTV

Mas nem sempre foi esta a realidade leonina. Importa relembrar que, há não muito tempo, mais precisamente no dia 17 de Fevereiro, Bruno de Carvalho viu o seu poder reforçado pelos sócios do Sporting numa Assembleia Geral Extraordinária de onde saiu com os votos e consequente apoio de quase 90% dos associados leoninos. Então, o que mudou desde aí?

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O primeiro foco de instabilidade pode ser apontado ao pós-Madrid. O Sporting perdeu com o Atlético, Bruno de Carvalho não gostou e manifestou a sua opinião publicamente no Facebook, criticando os jogadores pela sua parca prestação em campo. Os jogadores não aceitaram, responderam ao presidente e estava instalado o caos. Daí a nova resposta de Bruno de Carvalho foi o espaço de um click e, dias depois, foi a vez dos sócios e adeptos sportinguistas darem voz à sua indignação: em Alvalade, frente ao Paços de Ferreira, o presidente leonino foi confrontado com assobios, cartazes pouco amigáveis, lenços brancos e pedidos de demissão. Estava feita a primeira manifestação de desagrado para com o atual presidente e respetivo Conselho Diretivo. 

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Daí para a frente, a tensão acumulou-se. Instalou-se uma espécie de guerra aberta no clube, com a Mesa da Assembleia Geral (com Jaime Marta Soares à cabeça) e Conselho Diretivo (presidido por Bruno de Carvalho) nos dois pólos do conflito. Quem tem razão ainda não se percebeu, mas uma coisa é certa: as opiniões dos sócios extremaram-se e a divisão entre sportinguistas é cada vez mais visível. Prova disso foram as manifestações pró e contra Bruno de Carvalho, realizadas perto de Alvalade, com escassos dias de intervalo. 

A 4 de Junho, um grupo de cerca de 500 associados organizou-se e aglomerou-se junto ao Edifício Visconde de Alvalade, naquela que foi a primeira manifestação concertada que pedia a saída de Bruno de Carvalho da presidência do clube, a segunda pública contra o presidente do Sporting. Dias depois, foi a vez de uma manifestação espontânea pró-Bruno de Carvalho ter tido lugar na rotunda da estátua que agora foi vandalizada, após o jogo entre Sporting e Modicus em futsal que carimbaria a passagem do leões à final do campeonato nacional. De lá para cá, muitas foram as “mini-manifestações”, chamemos-lhes assim, que foram ocorrendo ocasionalmente junto a Alvalade – a maior parte delas, a pedir a demissão do atual presidente leonino, uma delas durante uma das conferências de imprensa do presidente no auditório Artur Agostinho.

“Eleições no Sporting JÁ!” As imagens da manifestação em Alvalade

E foi desta forma que chegámos ao dia de hoje. Com um clima de crispação e divisão no universo sportinguista que deu aso a este ato de vandalismo e que deixa difícil vislumbrar o fim de todo este enredo.

Às 12h44 desta sexta-feira, como o Observador constatou, a palavra “Rua” escrita na base da estátua da rotunda Visconde de Alvalade, junto ao estádio dos leões, já havia sido limpa.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No passado, já tinham existido manifestações de desagrado e de vandalismo puro (frases escritas em paredes, palavras de ordem pintadas pelo estádio e suas redondezas, entre outros sinais visíveis de descontentamento) levadas a cabo para que Godinho Lopes ou até mesmo José Eduardo Bettencourt cessassem as suas funções no clube. Com Bruno de Carvalho, o caso da estátua foi o primeiro. Mas, nem por isso, foi uma estreia no que ao monumento diz respeito, já que, dias após a sua inauguração, a estátua foi vandalizada alegadamente por adeptos do Benfica (a tinta era de cor vermelha).

Na altura, ambos os clubes repudiaram a situação para bem do clima vivido no futebol. Era consensual que não havia necessidade de estragar património devido a rivalidades e, desde aí, nunca mais a estátua foi tocada. Até hoje. Agora por adeptos do Sporting. Apenas do lado referente a Bruno de Carvalho. Fica a pergunta: o que se seguirá?