Enviado especial do Observador à Rússia (em Saransk)

Conhecem-se há 35 anos, levam outros tantos de amizade. Têm cinco de diferença entre eles e cruzaram-se em sentidos opostos: um tinha saído também da parte mais teórica do futebol e era adjunto de Mário Wilson, outro dava os últimos passos da carreira de jogador. Depois, havia outro “fator” que os juntava mais do que era normal. Ficou a amizade até hoje, menos amanhã.

É meu colega e amigo há 35 anos, viajávamos muitas vezes de comboio e falávamos muitas vezes de futebol porque ele também dava aulas nessa altura e eu era engenheiro. Vai dar o máximo para ganhar pelo Irão, tenho a certeza”, contou Fernando Santos sobre Carlos Queiroz, o comandante do Irão, antes de recordar uma experiência semelhante quando estava à frente da Grécia: “só fiz um particular mas queria ganhar, claro. Nestas coisas, os países é uma questão que não conta”, garantiu.

Este foi talvez o momento mais aberto numa conferência onde o selecionador tinha três grandes objetivos: 1) valorizar a equipa do Irão, sobretudo acabando com a perceção de que serão “favas contadas” para Portugal; 2) fintar o conteúdo da conversa de Carlos Queiroz na conferência que lhe tinha acontecido, onde colocava os iranianos livres de qualquer pressão e sem nada a perder; 3) abordar a questão do VAR, não numa perspetiva futura mas para mostrar como a Seleção já foi penalizada com isso.

Fernando Santos definiu a equipa do Irão como “a melhor equipa asiática da atualidade” (FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images)

“Tive oportunidade de ver estes dois jogos do Irão no Mundial e os dez que fizeram na fase de qualificação. Fiquei logo aí com a certeza de que é uma equipa fortíssima: nove vitórias, um empate, sofreu apenas dois golos com a Síria quando estava qualificado. Tem jogadores experientes, com uma estratégia forte. Vimos até aqui a capacidade do Irão, na organização defensiva e não só porque sabe sair bem e jogar com bola. Vão ser duas equipas que lutam muito, que vão dar tudo. Eu quero ganhar, o meu colega quer ganhar e vai ser uma batalha dura e forte, temos de estar preparados”, destacou, antes de “responder” a Queiroz.

“As duas equipas têm a perder e têm a ganhar, não há isso do mais perder ou mais ganhar”, salientou. “Nunca falo de árbitros, de VAR etc. Sobre o jogo da Espanha, podia ter atuado duas vezes e são os próprios espanhóis que dizem. Mas além de ter visto o Pepe ser empurrado no lance do golo com Marrocos, quando vi outra vez o jogo percebi houve um penálti sobre Ronaldo aos 89′ ou 90′. Não é por aqui. O Irão é uma equipa muito difícil, muito competitiva. Se tivermos outro raciocínio, não vamos conseguir. Conhecemos perfeitamente as características do jogo, é como se fosse já a fase seguinte. Vamos tentar provar que temos qualidade para ganhar ao Irão, sabendo as dificuldades. Na minha opinião, é a melhor equipa asiática”, completou.

“Os jogos têm demonstrado que isso da teoria, dos rankings e as equipas que conhecemos menos levam a que a maior parte das pessoas desvalorizem quando não há nada para isso. Todas as equipas são muito bem trabalhadas, com treinadores com muita qualidade. Neste caso, Carlos Queiroz já se encontra há seis ou sete anos no Irão, esteve no Brasil no Mundial de 2014, fez um apuramento muito bom agora”, sublinhou a propósito da competitividade que tem dominado a prova até ao momento, antes da inevitável resposta sobre o melhor do mundo, Cristiano Ronaldo: “Ele faz a diferença aqui, no Real Madrid, no Manchester United, no Sporting… Não há um jogo entre o treinador de Portugal e o do Irão; não há um jogo do Cristiano contra outro; há, isso sim, um jogo de Portugal contra o Irão”.

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