A transferência de Cristiano Ronaldo para a Juventus foi embrulhada com o ‘laço’ do fim de ciclo, repetido até à exaustão pela imprensa espanhola. CR7 precisaria de novos desafios – como por exemplo, conquistar a Liga dos Campeões num clube que não levanta o troféu desde 1996, ainda por lá jogava o português Paulo Sousa –, ao mesmo tempo que se queria livrar das quezílias com Florentino Pérez, entre a falta de reconhecimento e as promessas falhadas. Claro que o capitão português também foi ganhar mais (passou dos 21 milhões de euros líquidos por ano para os 30), embora o Real Madrid até cobrisse esse valor. Mas houve ainda mais uma questão: o desgaste provocado pelo processo com o fisco espanhol.
A esse dossier já vamos com mais detalhe mas, para já, partimos do princípio de que a rigidez fiscal em Espanha não é novidade para ninguém. Só no plano desportivo, foram muitos a cair nas malhas do fisco: além de Ronaldo, também Messi, Mourinho, Alexis Sánchez, Di María, Fábio Coentrão, Ricardo Carvalho, Falcao, Adriano e Samuel Eto’o se viram em sarilhos. Por isso, quando olhamos para o rol de motivações que terá levado Ronaldo a trocar Madrid por Turim, um sistema tributário mais leve também tem de ser levado em conta.
Mas há uma lei em particular, aprovada no ano passado pelo anterior executivo italiano, que pode ter dado o empurrãozinho final no negócio. Diz essa norma que qualquer estrangeiro paga um valor fixo de 100 mil euros por todas as receitas geradas fora de Itália, não importa o volume dessas receitas – que podem incluir, por exemplo, direitos de imagem e contratos de patrocínio, que estiveram na origem do problema de Ronaldo com o fisco espanhol. Só para perceber a ‘ninharia’ que podem ser esses 100 mil euros para CR7, dizemos-lhe que o jogador gerou, no último ano, lucros na casa dos 80 milhões de euros (valores da revista Forbes), grande parte deles provenientes de patrocínios internacionais. “A lei não se fez a pensar nos futebolistas, mas sim em atrair grandes fortunas em geral”, explica Matteo Spaziante, analista do portal Calcio e Finanze, citado pelo jornal El Mundo. Ainda assim, “é difícil determinar se algumas receitas se geram no estrangeiro ou se estão ligadas a uma empresa nacional, como a Juventus, pelo que o fisco italiano poderia reclamar que os direitos de imagem se pagassem de acordo com a tributação normal”, assinala.
Ronaldo prestes a fechar acordo com o fisco espanhol — e arrisca-se a pagar 19 milhões
Por tudo isto, o fisco pode agora passar de problema a solução. Ainda mais se o novo governo, liderado por Giuseppe Conte, aprovar, como prometeu, a lei que baixaria a tributação nos salários acima dos 500 mil euros/ano de 46% para 20% – o que faria com que o ordenado líquido anual de Cristiano Ronaldo passasse de 30 para 44 milhões.
E agora voltamos ao fisco espanhol com que abrimos este texto. É que para Ronaldo abrir um novo capítulo na carreira, precisa de saldar as contas com o anterior. Que é como quem diz, resolver de vez o diferendo que teve no país vizinho nos últimos anos. De acordo com o jornal AS, o advogado de CR7, José António Choclán, e o representante do Estado espanhol, Edmundo Bal, já terão fechado o acordo que permite ao jogador evitar dois anos de prisão e implica o pagamento de 18,8 milhões de euros (para compensar o fisco pelos 14,7 com que o terá lesado). Dores de cabeça e duras negociações que, pelo menos a avaliar pelo quadro legal, não vão fazer parte da nova vida de CR7 na Juventus.