A cidadã russa que esta segunda-feira foi acusada de conspirar e agir ilegalmente como uma agente do Kremlin nos Estados Unidos, com o objetivo de se infiltrar no aparato político americano, terá oferecido sexo em troca de trabalho numa organização, avançou o tribunal.

Maria Butina, de 29 anos, chegou ao país com um visto de estudante, mas de acordo com Erik Kenerson, da procuradoria dos Estados Unidos, citado pelo The Telegraph, as suas trocas de informações com os russos “não têm a linguagem de alguém que está no país apenas para estudar”.

Cidadã russa acusada de atuar ilegalmente como agente do Kremlin nos Estados Unidos

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De fato laranja e sapatos cor-de-rosa, a cidadã russa compareceu em tribunal esta quarta-feira e declarou-se inocente das acusações. Durante a audiência não disse nada e apenas foi tomando notas do que era dito pela acusação.

Butina é acusada de ter comunicado com os serviços de espionagem russos durante o tempo em que esteve na América. De acordo com a CNN, o tribunal mostrou fotografias de Butina num restaurante em Washington com um espião russo suspeito, que abandonou os EUA em março deste ano. O advogado de Butina disse que o homem na fotografia é Alexander Torshin, um ex-senador russo que trabalhou com Maria Butina e que agora é alto funcionário do Banco Central da Federação Russa, alvo de sanções do Departamento do Tesouro.

Os procuradores acrescentaram que existem também fotografias com Sergey Kislak, ex-embaixador russo. Além das imagens, as acusações foram baseadas em textos, mensagens privadas no Twitter e outras comunicações que Butina terá tido com os russos.

A relação com o político republicano e as mensagens: “Estou preparada para futuras ordens”

O departamento da justiça dos Estados Unidos disse que Butina terá trabalhado “sob as ordens e o controlo” de um alto funcionário russo que não foi identificado nos documentos de acusação. Esse funcionário terá orientado a cidadã russa através de mensagens enviadas online. “Por agora tudo tem de ser feito de forma silenciosa e com cuidado”, terá escrito Butina numa mensagem privada no twitter, um mês antes das eleições presidenciais em 2016. Na noite da votação, terá enviado uma mensagem que dizia: “Vou dormir. São três da manhã aqui. Estou preparada para futuras ordens”. A justiça americana acusou-a de tentar estabelecer “um canal de comunicação para entrar no aparato político dos EUA”.

Os procuradores disseram também que Maria Butina manteve uma relação com um americano de 56 anos, nomeado em tribunal apenas como “pessoa 1”. A imprensa americana avançou que se tratava de Paul Erickson, um político republicano. Os documentos apreendidos pelo FBI dizem que a alegada agente russa terá reclamado por viver com esse homem mais velho e “expressou desdém por continuar a coabitar” com ele. “Esta relação não representa um laço forte com os Estados Unidos, porque Maria Butina parece tratá-la apenas como um aspeto necessário nas suas atividades”, disseram no tribunal.

A determinado momento, Maria Butina terá oferecido favores sexuais, “pelo menos numa ocasião, em troca de uma posição numa organização com especial interesse”, confirmaram os procuradores. A organização não foi especificada, mas as redes sociais e os media americanos acreditam tratar-se da Associação Nacional de Armas (NRA, na sigla inglesa), devido à ligação próxima que a cidadã russa mantinha com a instituição. As três grandes paixões de Butina — armas, Trump e melhores relações com os Estados Unidos, foram “um disfarce” para Butina promover a agenda da Rússia dentro do Partido Republicano, acrescentaram os procuradores.

A alegada agente russa vai voltar a ser ouvida em tribunal esta quinta-feira. Para evitar que pudesse sair do país e alcançasse refúgio diplomático na embaixada russa, a juíza negou a fiança e ordenou que Butina continuasse detida.