O maior partido da oposição cabo-verdiana (PAICV) mostrou-se esta sexta-feira “muito apreensivo” com alguns setores da governação do país e pediu ao Governo para “falar a verdade” e que dê esclarecimentos sobre a degradação de indicadores de desenvolvimento.

A apreensão foi manifestada pela líder parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, no seu discurso durante o debate sobre o Estado da Nação, que decorre no Parlamento cabo-verdiano. “A grande verdade é que o desempenho de alguns setores da governação nos deixa muito apreensivos”, afirmou a deputada e também presidente do PAICV, que manifestou a sua preocupação em relação à dívida pública e às contas das empresas públicas, para dizer que os dados apontam para uma “situação económica pouco saudável”.

“A competitividade do país vem caindo, sobretudo em indicadores, tais como as infraestruturas, a saúde e o ensino primário, o ensino superior e a formação profissional, o mercado financeiro e o mercado de consumo, as tecnologias, a inovação e o ambiente de negócios”, apontou.

A líder parlamentar do maior partido da oposição cabo-verdiana manifestou ainda preocupações relativas a um “possível risco de abrandamento” de Cabo Verde como destino turístico, tendo em conta a retoma dos mercados do norte de África, mais próximos da Europa e com uma maior qualidade de produtos e serviços. “É imperativo que medidas urgentes sejam ajustadas ou tomadas, a fim de assegurar o nosso país como bom destino turístico e, deste modo, o papel de relevo que vem prestando à economia do nosso país”, apelou Janira Hopffer Almada.

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O PAICV voltou a manifestar preocupação com a falta de informações sobre o negócio da transportadora aérea TACV Cabo Verde Airlines e o monopólio da BINTER, entendendo que “muita coisa não está batendo certo no negócio” e que o Governo “não acautelou os interesses de Cabo Verde”.

Relativamente à seca que assola o país, Janira Almada disse que as suas consequências “são gravíssimas” e tendem a ser piores por “inabilidade e descaso” do Governo, a quem pede para adotar “medidas apropriadas” para “aliviar o desespero” da população. A líder do PAICV apontou ainda outras situações que considera estão a penalizar a “já precária subsistência” de milhares de cidadãos, considerando que as suas expectativas estão defraudadas.

O líder da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), o terceiro partido no Parlamento, António Monteiro, disse que o país continua a sofrer de alguns males e que o Governo vai bem no seu discurso, mas não no percurso de governação do país.

Por sua vez, o líder parlamentar do partido que suporta o Governo, Movimento para a Democracia (MpD), Rui Figueiredo Soares, disse que a situação herdada dos 15 anos de governação do PAICV era “claramente má”, mas que por causa das reformas governamentais o panorama do país está a “mudar paulatinamente”.

O deputado apresentou alguns dados que considera mostram “otimismo e confiança”, como o aumento do Produto Interno Bruto em 2017 de 4%, um crescimento efetivo de 2,9% em relação a 2015 e o défice orçamental diminuiu 3% do PIB, em 2017, e a dívida pública baixou para 126,5%. “Estes dados são suficientemente claros para demonstrar que a conjuntura económica continua a ser favorável, traduzindo-se na criação de mais empregos, de mais rendimentos para as famílias e de mais negócios para o país”, disse Rui Figueiredo Soares.

Criticando a “leitura pessimista, catastrófica, errada e enganadora” do PAICV, o líder parlamentar do MpD reconheceu que existem problemas, mas salientou que não devem conduzir ao pessimismo nem ao descrédito. O debate sobre o Estado da Nação prossegue durante todo o dia no Parlamento cabo-verdiano e marca o fim do ano político no país.