Gorduras que se instalam em zonas estratégicas do corpo. Cansaço constante e perda de vitalidade. Inchaço abdominal e retenção de líquidos. Pele baça, cabelo desnutrido e unhas quebradiças. Incapacidade para regressar à forma, mesmo fazendo dieta e exercício físico. Se se identifica com este quadro – seja homem ou mulher – então é muito provável que esteja na casa dos 40 anos de idade e comece a sentir que o seu corpo lhe está a fugir do controlo. Porque é que isto acontece? A resposta é simples: porque o nosso metabolismo desacelera com a idade. De acordo com a fisiologista Teresa Branco, especialista em controlo do peso e metabolismo,   responsável pelo Instituto Teresa Branco, direcionado para a área do anti-aging e perda de peso, “com a idade envelhecemos não só por fora mas também por dentro, ou seja, as nossas glândulas começam a ficar cansadas e a produzir menos hormonas, o que lentifica todos os processos que estão associados ao metabolismo”.

O metabolismo é, de facto, o fator-chave para quem quer perder peso e envelhecer menos rapidamente. Mas, afinal, o que significa esta palavra que toda a gente usa? De acordo com Teresa Branco, metabolismo mais não é do que “o somatório de todos os processos químicos e físicos que acontecem no nosso organismo, responsáveis por transformar a energia dos alimentos ingeridos em energia para sobrevivermos e funcionarmos”. E como as pessoas não são todas iguais, os metabolismos também não o são, pelo que “há organismos que funcionam de forma mais rápida e outros de forma mais lenta”. Como é fácil de perceber, os que são mais vagarosos tendem a acumular mais gordura, precisando de menos energia para funcionar do que os metabolismos mais acelerados. Estes últimos gastam rapidamente as calorias ingeridas, pelo que não engordam facilmente. O que acontece é que por volta dos 40 anos de idade a lentidão toma posse da maior parte dos organismos. E é por isso que aumentar de peso é quase imediato e perdê-lo se torna tão difícil.

Avaliar bem e com precisão

Importa, pois, perceber como funciona o nosso metabolismo se quisermos perder peso com eficácia, sem prejudicar a nossa saúde e sem corrermos o risco de voltar a ganhar todos os quilos perdidos entretanto. De acordo com Teresa Branco, há alguns procedimentos que são fundamentais para uma correta avaliação e que raramente são feitos. Aliás, a especialista alerta mesmo para “a forma muito pouco fidedigna como o metabolismo é hoje avaliado em clínicas e ginásios, apenas com base nalgumas características gerais, como o sexo, o peso e a idade”. O resultado é uma análise quase sempre sobrestimada, ou seja, “as fórmulas usadas indicam valores muito mais elevados de consumo de calorias diárias do que na realidade acontece, o que compromete todo o trabalho de perda de peso”, explica. Por isso é importante um diagnóstico fidedigno que nos permita conhecer o nosso metabolismo, sem erros e com um auto-conhecimento que nos será útil na eficácia do controlo do peso e da saúde.
Se o metabolismo se refere a um conjunto de processos complexos, então a sua avaliação deve ser alargada e abranger diversos aspectos. Teresa Branco destaca seis componentes essenciais para uma avaliação de excelência do metabolismo:

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Espirometria – Através de um espirómetro (um aparelho simples habitualmente usado para avaliar a função pulmonar) é possível medir tanto o oxigénio consumido como o dióxido de carbono expelido em repouso. É a relação entre os dois valores obtidos que irá ajudar a perceber, com precisão, se o nosso metabolismo é rápido ou lento. Assim será possível calcular de forma muito fidedigna a quantidade de calorias diárias que a pessoa precisa de ingerir para fazer face às reais necessidades do seu organismo.

Análises – As análises ao sangue e à urina são também imprescindíveis, pois permitem conhecer com pormenor o perfil hormonal e detetar eventuais défices. “Vamos perceber se a tiróide está a funcionar bem, já que esta glândula é determinante no metabolismo de homens e mulheres”, refere a responsável, acrescentando que “bastam pequenas alterações no seu funcionamento para que o metabolismo seja modificado, o que é frequente a partir dos 40 anos”. Além das hormonas produzidas pela tiróide, a especialista preconiza ainda a avaliação da DHEA, produzida nas glândulas suprarrenais, e também das hormonas sexuais, tanto nos homens como nas mulheres, pois contribuem igualmente para a acumulação de gordura, perda de energia e até de líbido. Da mesma maneira, estas análises avaliam a forma como o organismo processa os hidratos de carbono e até a existência de eventuais carências de vitaminas e minerais, dando indicações preciosas para o regime alimentar mais adequado.

Composição corporal – Não adianta iniciar um programa de emagrecimento se não se souber com exatidão como é composto o nosso corpo em termos de massa gorda e massa isenta de gordura (vulgarmente designada por massa magra), estando incluída nesta última a massa muscular. Teresa Branco alerta também aqui para a imprecisão da maior parte das avaliações que são feitas, as quais induzem em erro e dificultam todo o processo a quem quer perder peso. Obter valores fidedignos é muito relevante, porque se sabe que “um corpo que tem mais músculo e menos gordura tende a consumir mais energia, logo, a ter um metabolismo mais acelerado do que um corpo que tem mais gordura e menos músculo”, refere.

Ouvir as pessoas – “Estar disponível para ouvir as queixas das pessoas é crucial”, afirma Teresa Branco, lembrando que “as avaliações até podem indicar valores corretos para a generalidade dos indivíduos, mas que poderão ser desajustados para alguns”, esclarece. Por exemplo, uma pessoa com um trânsito intestinal muito lento, temperatura corporal baixa, com dificuldade em fazer as digestões e com alterações no sono “provavelmente tem um metabolismo alterado, ainda que apresente valores dentro dos limites de referência”, pormenoriza.

Hábitos alimentares – Compreender como cada um se alimenta é também importante, já que “alguns registos alimentares podem comprometer o metabolismo daquela pessoa específica, enquanto outros o potenciam”. A este propósito, Teresa Branco chama também a atenção para algumas opções dietéticas em voga atualmente (ver CAIXA), as quais podem estar a pôr em causa não só a perda de peso pretendida como até a própria saúde da pessoa.

Prática de exercício físico – Uma vez que as pessoas que praticam exercício físico de forma regular e sistemática tendem a apresentar um metabolismo mais acelerado, também se torna importante avaliar esta dimensão numa consulta de diagnóstico. Tal acontece não só porque são queimadas mais calorias diretamente, mas porque até mesmo horas depois da prática do exercício o metabolismo continua mais rápido. Além disso, Teresa Branco destaca que quem faz exercício físico beneficia de processos fisiológicos e químicos mais operacionais, o que reforça o funcionamento do metabolismo.

Voltei de férias com o mesmo cansaço com que fui

Regressar de férias exatamente com a mesma falta de energia que se tinha antes é um sintoma muito mais comum do que imagina, sobretudo a partir dos 40 anos. Teresa Branco garante-o, acrescentando que é precisamente nesta altura do ano, depois das férias de verão, que as pessoas se dão conta de que algo de errado se está a passar com o seu organismo: “Sentem um grande défice de energia apesar de terem estado a descansar e a dormir bem, sem o peso do excesso de trabalho. Isto é um sinal de que há algo fisiológico e que não se prende com o ambiente em que a pessoa vive.”

Cuidado, a sua dieta pode estar a comprometer o seu metabolismo

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Jejum intermitente, retirada de hidratos de carbono, abolição de glúten, dieta paleo. São cada vez mais as dietas em voga atualmente com um número crescente de acérrimos defensores. Mas será que estes regimes são mesmo eficazes e seguros? Segundo Teresa Branco, “qualquer abordagem alimentar pode ser válida desde que devidamente monitorizada e se primeiro tiver sido feito um bom diagnóstico”. Acima de tudo, a fisiologista lembra que “o que é adequado para uma pessoa poderá não ser para outra”. Quando alguém perde peso como resultado de uma intervenção muito intensiva, “há uma série de consequências fisiológicas que podem comprometer a sua saúde, daí a necessidade de monitorização”. Por exemplo, “pode vir a provocar-se alterações de tal ordem no metabolismo que levem a recuperar todos os quilos perdidos, aumentando a dificuldade em perdê-los de novo”, alerta.

Também por isto, a especialista acrescenta o sono à lista das dimensões que devem ser tidas em conta na avaliação do metabolismo: “Quem dorme menos horas do que devia consecutivamente pode ter um metabolismo comprometido, já que o organismo defende-se e gasta menos calorias do que seria suposto, porque entende que aquela pessoa não repousou as horas necessárias, logo, precisa de descansar e de gastar menos energia”. Quando isto acontece por hábito, o metabolismo pode ser afetado, pelo que a deteção desta situação é determinante não só para os bons resultados de um regime de emagrecimento, mas também para recuperar qualidade de vida.

Perder peso é, de facto, um processo complexo e que depende de diversos fatores. O metabolismo pode ser o pior inimigo, mas se for avaliado corretamente pode rapidamente converter-se num precioso aliado. “ Há que conhecê-lo, corrigi-lo e potenciá-lo, o que só é possível com a ajuda de profissionais de diversas áreas e com um propósito comum”, remata Teresa Branco.