José Sócrates ainda era primeiro-ministro. Do lado do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã assumia a coordenação política do partido. E, já nessa altura, os bloquistas eram o maior garante de sucesso dos diplomas do PS, uma tendência que não perdeu atualidade: nos últimos três anos, o Bloco aprovou 89% das propostas apresentadas pelos deputados socialistas no Parlamento.

Os dados do hemiciclo.pt, um site que compila informação estatística das últimas três legislaturas e que vai divulgar em breve mais parâmetros de análise da atividade parlamentar (como o “índice de aceitação”), revela que o Bloco de Esquerda esteve quase sempre de forma convicta ao lado do PS: em cada 10 propostas apresentadas no Parlamento desde 2015, nove mereceram voto favorável.

Depois, e olhando apenas para os parceiros da “geringonça”, o PCP — com uma taxa de aceitação de 83% dos diplomas “rosa” apresentados a votos — ainda é ultrapassado pelo Partido Ecologista Os Verdes (PEV), que aprovou 84% das propostas socialistas. Mas não só: com um índice de aprovação de 87% das propostas socialistas, o PAN colocou os comunistas em quarto lugar nesta corrida.

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Essa leitura de solidez à esquerda é tão válida agora como nos últimos dez anos. Excetuando o PAN, que só nesta legislatura conseguiu eleger o primeiro deputado à Assembleia da República, desde 2009 que Bloco e PEV atiram o PCP para posições ligeiramente menos “alinhadas” com os socialistas. Entre 2009 e 2015, o Bloco de Esquerda, por exemplo, nunca aprovou menos de 73% das propostas socialistas. A legislatura da “geringonça” é, ainda assim, aquela em que o entendimento PS/Bloco tem sido mais forte.

Direita mais próxima de José Sócrates

Do outro lado do hemiciclo, no balanço de deve e haver parlamentar há uma variação recorrente, como se a solidariedade do Bloco Central tivesse oscilado ao sabor dos ciclos de poder.

Recuemos ao último Governo de José Sócrates. Nesses dois anos, o PSD atravessou uma disputa interna pela liderança e Pedro Passos Coelho foi eleito a meio dessa legislatura, ainda a tempo de conquistar as eleições seguintes. Mas foi esse também o período em que, nos últimos dez anos, os sociais-democratas foram mais fiéis ao PS.

Entre 2009 e 2011, o PSD aprovou 78% dos diplomas apresentados pelo PS. Depois, veio o Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, António José Seguro chegou ao Largo do Rato e o entendimento PS/PSD caiu a pique: no poder, os sociais-democratas só deram apoio a pouco mais de metade (56%) das propostas do PS. Por outro lado, a liderança de Passos (que se cruzou com as de Seguro e Costa) foi aquele em que os socialistas mais apoiaram o PSD.

Em 2015, o PS regressa a São Bento pela mão de António Costa e com o apoio do Bloco, do PCP e do PEV. Ainda na sequência das eleições de outubro desse ano, o PSD atravessa mais uma disputa interna de que Rui Rio sai vencedor, e há nova inversão de papéis. Entre as lideranças de Passos e de Rio, o ciclo de António Costa como líder do PS mereceu em 64% das vezes o voto a favor da bancada laranja. Só o PAN ficou atrás, com um “índice de aceitação” de 63% das propostas socialistas, e o CDS andou colado ao anterior parceiro de Governo, também com um índice de 66%.