Foi uma das sugestões que o Observador deixou no ano passado para séries a não perder neste ano e depois de tanta espera, cá está. Motivo para haver tanta expectativa à volta de “Maniac”? É o regresso de Cary Joji Fukunaga na realização para televisão depois da primeira temporada de “True Detective” (essa mesmo, aquela sobre a qual ninguém se calou durante uns seis meses em 2014), sem esquecer que também teve mão na ótima adaptação de “Jane Eyre” há uns anos. Juntamente com Patrick Somerville (trabalhou em alguns dos melhores episódios de “The Leftovers”) levou para a Netflix esta adaptação de uma série original norueguesa que partilha o mesmo nome da versão norte-americana.

A premissa é relativamente simples: Owen Milgrim (Jonah Hill) e Annie Landsberg (Emma Stone) são pessoas com problemas mentais que entram numa experiência/estudo em volta de um produto farmacêutico para curar, precisamente, os seus males. Aqui há razão para regozijar, é o reencontro do casal mais credível de um filme adolescente deste século (esse mesmo, Seth e Jules de “Superbad”), com a diferença de que agora Jonah Hill está mais magro do que Emma Stone. Tarefa difícil, mas conseguida. Jonah parece um carocho a caminho da fase zombie. E a sua personagem é mais ou menos assim.

Malta esquizofrénica, desligada da vida, com paranóias diferentes, mas com a crença inabalável de que vão salvar o mundo. Essa é a ideia que fica após o visionamento do primeiro episódio de “Maniac”, vai ser um constante jogo entre a realidade e a imaginação, um confronto entre o toque e a sugestão do toque, com um humor inesperado e dois protagonistas que têm uma ligação única, parece que foram feitos para estarem em eterna discussão um com o outro e eventualmente apaixonarem-se.

Contudo, o primeiro episódio é muito decalcado de “Legion”, a brilhante série que Noah Hawley estreou no ano passado, baseada numa personagem dos X-Men mas que nada tem a ver com super-heróis: é sobre doenças mentais, instabilidade social e desconexão com a realidade. Mais ou menos o que parecer ser “Maniac” após um episódio. Aliás, o primeiro episódio de “Maniac” parece roubado ao primeiro de “Legion”, com a diferença de que não vai tão fundo nas camadas e camadas de realidade (ou da ausência dela) como Hawley faz. Há muitos detalhes que atiram para isso, os primeiros contactos entre Annie e Owen são muito próximos dos de David Haller e Syd Barrett em “Legion”, o desfasamento da realidade é utilizado com os mesmos truques (o narrador, a presença real ou não do narrador na história da série) e, claro, a origem, a nossa origem, como o big bang é origem de tudo e ferramenta para explicar as ações das personagens.

Copiar não tem mal. Estamos em 2018, caramba. E certamente que “Maniac” irá noutra direção (quanto mais não seja porque só pode existir um “Twin Peaks” por década, e o desta é “Legion”). O problema não é o primeiro episódio de “Maniac” ser tão próximo do primeiro de “Legion”, é de não causar tanta excitação, apenas curiosidade sobre o que vai acontecer a seguir nesta mini-série de oito episódios da Netflix. Vou ver tudo, claro que vou. Tenho de matar as dúvidas e este é o pecado mais fácil — e mais perdoável — do século XXI.

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