A vida de Cristiano Ronaldo não anda propriamente um mar de rosas: desde as críticas que surgiram com o adiar do primeiro golo na Juventus, a expulsão na estreia pelos italianos na Liga dos Campeões, o prémio Puskás que foi para Salah e a Bola de Ouro que foi para Modric e esta sexta-feira, numa cereja no topo de um bolo pouco agradável, as acusações de violação por parte de uma mulher norte-americana. Mas à entrada para o Juventus-Nápoles deste sábado, a cara de Cristiano Ronaldo não espelhava nada disto. Como já nos habituou, o avançado estava completamente concentrado, notoriamente focado e exclusivamente dedicado ao jogo grande do campeonato italiano.

E quando passava o minuto 10 no placard do Allianz Stadium, parecia que as coisas iam ficar ainda piores na vida do jogador português. Bonucci falhou um passe em zona proibida e Allan não deixou escapar a oportunidade; o médio brasileiro do Nápoles recuperou a bola, descobriu Callejón em alta velocidade já dentro da área de Szczesny e o extremo ex-Real Madrid só precisou de um passe de primeira para encontrar Mertens na pequena área. O belga, um dos melhores da seleção de Roberto Martínez no Mundial da Rússia, pôs os napolitanos a vencer com um pequeno toque oportuno.

Pjanic, o mais combativo do lado da Juventus, não encontrava em Emre Can e em Matuidi os condutores necessários para levar a bola em condições até Ronaldo ou Mandzukic. Dybala andou quase sempre por terrenos mais interiores a tentar trazer jogo e construir a partir de zonas mais recuadas. Até aos 25 minutos de jogo – com exceção para um remate perigoso de Cristiano Ronaldo – Carlo Ancelotti estava a bater Massimiliano Allegri no que a decisões táticas diz respeito.

Mas Cristiano Ronaldo estava concentrado. O avançado português já tinha pedido apoio dos adeptos por mais de uma vez e já tinha deixado visível que o lateral direito Hysaj não era oponente à sua altura. Depois de um passe longo e de uma receção que até deixou muito a desejar, o número sete da Juventus enganou o defesa albanês – que a esta hora ainda estará à procura da bola -, descobriu espaço onde não existia e apanhou o quarteto defensivo do Nápoles num raro momento de desorganização. Cruzou tenso e lá estava Mandzukic, o croata matador, a cabecear para o empate.

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A Juventus ganhou um novo ímpeto com o golo e Cristiano Ronaldo poderia mesmo ter marcado de livre direto a partir do vértice da grande área de David Ospina. Quando o árbitro apitou para o descanso, Allan, Hamsik e Kielinski não estavam a conseguir segurar o pendor ofensivo do maestro Pjanic da mesma forma que o tinham feito nos primeiros 20 minutos de jogo e Mertens, Callejón e Insigne eram três homens algo solitários junto à área de Szczesny.

Na entrada para os segundos 45 minutos, nenhuma das equipas mostrou vontade de decidir rapidamente o jogo – e talvez tenha sido por isso que o segundo golo da Juventus surgiu de um lance algo fortuito. Numa jogada de insistência e de ressaltos, Ronaldo disparou forte de fora de área e a bola só parou no poste da baliza de Ospina. Na pequena área, Mandzukic emendou a tentativa do português, bisou na partida e colocou os adeptos bianconeros a celebrar uma vantagem frente ao principal rival.

Aos 58 minutos, Carlo Ancelotti sofreu um golpe quase de misericórdia de um português: e nem sequer veio de Cristiano Ronaldo nem de João Cancelo, que também integrou o onze inicial da Juventus este sábado. Mário Rui, o lateral esquerdo português que tem integrado as convocatórias de Fernando Santos para a Seleção Nacional, viu o segundo cartão amarelo e foi expulso (ambas as faltas foram duríssimas, a primeira sobre Pjanic e a segunda sobre Dybala, que acabou por sair em dificuldades). O Nápoles não desistiu, nunca atirou a toalha ao chão, manteve a combatividade no meio-campo e a entrada de Milik trouxe vitalidade a um ataque algo desgastado: ainda assim, continuava a jogar com menos um elemento e faltava massa criativa para esticar o jogo.

Numa altura em que o caudal ofensivo já nem sequer era necessariamente organizado nem intenso, a Juventus aproveitou um pontapé de canto para resolver a partida. E Ronaldo estava lá outra vez. Canto batido na direita do ataque bianconero, o português cabeceia ao primeiro poste e Bonucci encosta ao segundo. O número sete tentou, rematou, acertou nos postes, sorriu frustrado mas não marcou; ainda assim, conseguiu estar nos três golos da Juventus.

A equipa de Massimiliano Allegri venceu o adversário direto e aumentou a vantagem para seis pontos. Cristiano Ronaldo voltou a não marcar mas voltou a assistir a ser preponderante: e talvez seja esta a nova função do português em Itália, ser mais playmaker, líder e criador de desequilíbrios do que o elemento que finaliza os desequilíbrios. Mas será que Ronaldo está contente com a nova função?